Ivana Maria França de Negri
Dia
destes, brincando na internet, caí num site sobre anjos que pedia para digitar
a data do nascimento para saber qual era o nosso anjo guarda. Lendo a descrição
do meu anjo, entre surpresa e incrédula, uma imediata associação de ideias me
ocorreu ao descobrir que ele se chama
Rochel.
No
longínquo ano de 1973, eu contava pouco mais de 18 anos. Casei-me e fui morar
em Brasília, onde meu marido cursava o terceiro ano de medicina. Terra
estranha, não conhecia ninguém, longe da família e dos amigos, vi-me grávida e
amedrontada. Meu marido estudava em tempo integral na faculdade e dava aulas
num cursinho à noite para ganhar uns trocados para manter a família.
Decidimos
consultar um médico para o necessário acompanhamento pré-natal. Compramos um
jornal e escolhemos aleatoriamente o nome de uma médica. Marcada a consulta,
comparecemos no horário combinado e pagamos a consulta, preço extravagante para
um casal que vivia ainda da mesada dos pais. Após longa espera, ela nos atende
muito séria. Mal conversou e examinou rapidamente minha barriga, pedindo em
seguida vários exames de laboratório. Alguns dias depois, com os resultados em
mãos, retornamos ao consultório, e qual não foi a nossa surpresa, quando nos
foi cobrada nova consulta, sem que a médica sequer aparecesse. Era mês de dezembro e nem preciso dizer que
naquele ano nosso Natal foi bem “magrinho”...
Não
voltamos mais na doutora. Em conversa com um professor que também era
ginecologista, meu marido comentou o
fato. Ele deu-lhe um tapinha nas costas e convidou-nos a ir ao seu consultório
para que ele me examinasse. Não cobraria de um “colega”, seria uma camaradagem
entre profissionais. Disse isso, creio eu, apenas para não nos constranger,
pois meu marido ainda nem era médico, apenas um terceiranista de faculdade.
Doutor
Rochael Ribeiro era um nordestino brincalhão de seus quarenta e poucos anos e
seu riso espalhafatoso alegrava qualquer ambiente, por mais frio que fosse. Não
só atendeu-nos por todos os meses restantes da gravidez, com carinho de pai e
extrema competência profissional, como forneceu amostras grátis das vitaminas e outros remédios necessários.
Arrumou até o hospital para o parto, que foi um tanto difícil, e seu amplo
sorriso e otimismo contagiante, davam forças à garota tímida e medrosa do
interior.
Não
contente com tudo isso, ainda apresentou-nos um amigo pediatra que acompanhou
nosso primogênito nos primeiros meses, nos quais cresceu forte e saudável.
Doutor
Rochael também fez o parto de nosso segundo filho, uma menina, quando meu
marido, já formado, fazia a residência
médica. Nunca o esquecerei. Mais que médico, tornou-se um grande amigo e nosso
orientador. Talvez ele gostasse de saber que o bebê que ele ajudou a vir ao
mundo, naquele ano de 1974, hoje é
médico também.
Aonde
quer que esteja, pois nunca mais soube dele, peço a Deus que abençoe e proteja
essa figura inesquecível em minha vida e à qual serei eternamente grata.
Existem médicos e Médicos. E ele certamente pertence à segunda categoria, a
daqueles que fazem da profissão um verdadeiro e santo sacerdócio. Todos nós temos anjos protetores em nossa
vida. E ele, sem o saber, foi um Anjo maravilhoso que apareceu no momento em
que mais necessitávamos de ajuda.
Anjos não precisam ter asas. Só seus sorrisos
sinceros encantam e nos fazem “voar” com eles. Obrigada por tudo anjo Rochel,
ou Rochael...
Lindo, emocionante, estou aqui encantada. Ele também foi meu anjo, me recebeu como pai de coração e cuida de mim até hoje nos meus 43 anos de idade. Linda crônica!!!
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