Pedro
Israel Novaes de Almeida
Quando algum pobre muda a opinião,
dizem que virou a casaca.
Se o cidadão é remediado, dizem que
repensou o assunto. Em se tratando de alguma
figura ilustre, dizem que evoluiu.
Virando a casaca, repensando ou
evoluindo, estamos libertos da cantilena de que o ensino público deve ser pago,
pelos alunos que tiverem condições financeiras para tanto.
A educação, do maternal à universidade,
é uma das mais nobres funções do Estado. Embora haja ganho pessoal, que pode
render carreiras milionárias, o ganho maior é do país, que aprimora o cabedal
de conhecimentos, incentiva a pesquisa e irradia especializações as mais
diversas.
O simplista, desumano, preconceituoso e
injusto sistema de dividir os cidadãos em castas, cor, ascendência, origem,
sexo ou outro parâmetro bovino qualquer, enxerga as universidades como
justiceiras sociais, assemelhando-as a fábricas de diplomas em série, com
evidente queda da qualidade do ensino, pesquisa e extensão de serviços à
comunidade.
Um filho de milionário, corrupto ou
honesto, tem tanto direito à educação e especialização quanto o filho do mais
humilde dos trabalhadores. O país precisa de bons profissionais e cidadãos
conscientes, venham de onde vierem.
A cobrança de mensalidades envolveria
sistemas burocráticos e parâmetros de avaliação e acompanhamento capazes de
absorver para si eventuais acréscimos financeiros à educação. É, em si mesma, a
negação de evidentes direitos.
Alunos de menor poder aquisitivo podem
ser objetos de bolsas de estudos oficiais, não provenientes de mensalidades dos
colegas. Aliás, a humanidade não é constituída por miseráveis, de um lado, e
bilionários, de outro.
Nossas universidades públicas, muitas,
já não são centros de excelência, produzem poucas pesquisas e afastam-se, aos
poucos, da extensão de serviços à comunidade. Com verbas cada vez menores,
vivem em estado de penúria, com o ambiente degradado por guerras intestinas,
travadas pela busca de funções administrativas de relevo.
Pesquisadores e estudiosos vivem à
míngua, e hospitais universitários seguem sucateados. Recursos públicos
existem, desperdiçados nos lodaçais da desonestidade, quando não direcionados à
sustentação de nossas luxuosas e superlotadas estruturas de Estado.
Em tal contexto, soa risível a
alternativa de cobrança de mensalidades, e catastrófico o discurso de
transformar as universidades em justiceiras sociais.
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