Pedro Israel Novaes de Almeida
Apesar dos avanços da ciência e dos
aparatos tecnológicos, a humanidade ainda é um amontoado de indivíduos,
submetido aos caprichos e rigores da natureza.
Não evitamos os tsunamis, sequer conseguimos
prever os terremotos, não entupimos vulcões, não dissolvemos furacões e pouco
influímos na distribuição das chuvas. A tentativa de adaptar a natureza a
nossas conveniências tem sido catastrófica.
Fizemos dos rios depósitos de lixo e
materiais poluentes, como se fossem garis naturais que passam em nosso quintal.
No mar, lançamos efluentes, com emissores que passam desapercebidos a olhares
distantes.
Na agricultura e pecuária, tornamos
monótona a paisagem e complicada a sobrevivência de outros habitantes do
planeta, com milhares e milhares de hectares revestidos por uma única espécie
vegetal. Estimulamos o surgimento de pragas e doenças, cada vez mais vorazes,
pois servimos o cardápio pouco diversificado, sem concorrentes naturais com
igual apetite.
Tornando monótonas as paisagens,
influímos no regime dos ventos, e das chuvas, para depois reclamarmos, dizendo
que a natureza endoidou. Maltratamos as nascentes, e ficamos indignados quando
uma pequena estiagem emagrece rios e seca reservatórios.
Vivemos importando plantas e animais
estranhos, deixando que se espalhem ambiente afora, como se a natureza não
esboçasse qualquer reação, com os novos hóspedes. Quando não importamos,
cuidamos de cria-los, campeões de produtividade, como se o constitucional Princípio
da Precaução dissesse respeito a estudos e acompanhamentos de poucas safras.
Ainda, e por muito tempo, estaremos
submetidos ao surgimento de pestes, doenças que mataram milhões de pessoas, ao
longo de nossa história. Vírus, bactérias e fungos estão em permanente vigília,
aguardando as condições para alarmar a população e causar danos gigantescos.
Acenamos com uma descoberta
magnífica, quando descobrimos o valor nutritivo de cama de frango, pomposo nome
da mistura de palha com estrume, na alimentação bovina. Ao ver o bovino ingerir bosta de frango, a
natureza blasfemou: - vaca louca !
Em nossa intimidade com os animais,
ultrapassamos a fronteira da amistosidade, e repartimos com eles a Aids, a
terrível doença dos pombos e tantas outras. Nas redes sociais, cenas de animais
domésticos, lambendo a boca de bebês, são tidas como exemplos maravilhosos de
carinho e respeito mútuo.
Quando da grita mundial contra a
poluição da atmosfera, nações poderosas postergam medidas saneadoras, a
pretexto de protegerem suas indústrias, livrando-as de investimentos oneradores.
Na zona urbana, aplaudimos o advento dos estudos de impacto de vizinhança, e
pouco percebemos que nossa maior vizinha, sempre presente, é a própria
natureza.
Criamos uma sociedade onde as embalagens
são mais importantes que os produtos, e produtos são meros materiais
transitórios, rumo ao descarte. Mudamos o tradicional “nada se cria, tudo se
copia”, pelo “nada se conserta, tudo se descarta”. No rumo que tomamos,
seremos, no futuro, exímios e desesperados consumidores de insetos.
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