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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

VAI NASCER UM NOVO ANO!


Olivaldo Júnior
 
A cegonha ganha o céu,
já não pode ser engano...
Vou pegar o meu papel,
vai nascer um novo ano!
 
Nessa folha, de caderno,
eu escrevo assim, à mão,
que desejo mais fraterno
todo amigo que é irmão.
 
Amanhã, ninguém é réu,
nem juiz, nem defensor;
gira em fúria o carrossel,
 
que a cegonha, por amor,
logo cumpre o seu papel:
traz o 'Ano Novo' em flor!
 

sábado, 26 de dezembro de 2015

DESEJOS PARA O ANO NOVO


Plínio Montagner

Adeus Ano Velho... Feliz Ano Novo... Que tudo se realize no ano que vai nascer: - muito dinheiro no bolso e saúde pra dar e vender...
É! Tudo isso é bom, mas muito pouco para quem já viveu muito, trabalhou, sofreu.  Portanto, desejemos que o futuro seja perdulário. Que se abram caminhos e haja mais festas, mais carinhos, mais amizades sinceras, e até novas paixões para abrandar a contemplação do infinito e de refletir sobre o nada.
            Imploremos então, supliquemos, façamos promessas até, para que no Ano Novo estejamos novamente cantando e dançando. Chega de pensar no futuro, basta de trabalhar para os outros. Importemo-nos menos com datas de aniversários.
As dores? Elas vêm e vão. Então, não vamos falar mais de cirurgias, internações, arritmias, tristezas. E não vamos dar bola às indiferenças. Estamos velhos e sozinhos e ninguém gosta de compaixão.
Numa noite de insônia assistia a um filme antigo - “Zorro e a Cidade de Ouro Perdido”. No início me entusiasmei com um diálogo delicado e sutil, entre um idoso e uma linda mulher:
- Não estou importunando?  Dizia ela.
- A senhora é um colírio para os olhos cansados de um velho!
- Nenhum homem é velho quando sabe fazer elogios a uma mulher...
Disto é feita a vida. De momentos. Não importa quantas vezes copiamos frases de poetas.  Quando se sente que nosso tempo útil está acabando é hora de viver intensamente o momento do agora.  Colher o dia, “carpe diem”. O tempo foge.  “Tempus fugit”.
 O crepúsculo da vida chega para todos. Queiramos ou não, nesse momento tomamos consciência do apito final do jogo da vida, que com muita sorte será prorrogado.
Nesses momentos, quem não amou - não viveu. Quem não pediu perdão - vai chorar! Quem não perdoou... nem é bom pensar.
Num capítulo sobre a velhice, o escritor Rubem Alves –“Ostra Feliz Não Faz Pérola” – lança um diálogo com a plateia numa palestra:
- “Senhoras e senhores, vocês estão chegando finalmente à idade em que podem se dar ao luxo de ser totalmente inúteis”...
Após um início de confusão e protestos, continuou, com o propósito de explicar a metáfora de seu discurso:
- “Uma sonata de Mozart é inútil, não serve para nada. Mas uma vassoura é muito útil. Vocês preferem a companhia das vassouras à companhia da música de Mozart?”
“Uma poesia de Fernando Pessoa não serve para nada, é inútil, mas o papel higiênico é muito útil. Vocês acham o papel higiênico mais importante que a poesia do Fernando Pessoa”?
Boa comparação entre a aparente inutilidade da idade da reflexão e a utilidade do óbvio, do banal. Os velhos, sábios ou não, têm permissão e licença para a contemplação, mas sem exagero, que a vida continua, e têm o direito perene de se deliciar com sua falsa inutilidade como um livro fechado numa estante, de ficar sentados numa cadeira de balanço - ou de rodas - ou da maneira que quiserem.
 Nada é ensinado sobre a velhice. Todas as atenções são para a infância, à adolescência e à juventude.
O foco do interesse da sociedade segue as linhas de produção de utilidades e inutilidades. Nenhum projeto contínuo existe para atender as necessidades dos homens da “terceira idade” (eufemismo: velho, idoso, doente, solitário...). Nas escolas não se ensina como cuidar do homem improdutivo.
A velhice não e o destino de todos nós? Então por que os idosos são tratados com menos zelo? O Papai Noel que se cuide. A velhice sempre foi será responsabilidade da família. Sorte de quem tem.
 A sociedade se interessa pelo produto e pelo retorno financeiro. Retorno humano zero! Quem não produz ou não for útil de algum modo à sociedade (ou aos seus cuidadores)  é tratado como uma bola de futebol suja e furada ou a um grampeador quebrado que vai para  o lixo.  É a vez do pragmatismo. O que deixa de ter utilidade perde a identidade, é enjeitado e dá seu lugar ao novo.
Idosos, fiquem com seus próximos, que são os únicos que os amam!
Feliz Ano Novo! Tomara!

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Haicais para o Natal



 Olivaldo Júnior

Um menino brinca e canta
entre a rua e eu;
é Jesus que brinca e canta.
"Virgem Mãe de Nazaré"
olha e não me diz;
mais aumenta minha fé.
Sem a neve, lá do "Norte",
dos países ricos,
tendo chuva, temos sorte.
Cada pingo d'água vívido
que nos mata a sede
cede a todos ouro líquido.
A menina está sem ninho
só pra ver seu pai
se vestir de bom velhinho.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

25 de dezembro


       Sonia Amaral

Noite de luz e esplendor
Nasce o nosso Salvador.
Quanta tristeza Maria passou
Ao não encontrar abrigo
Para seu filho querido.

Dois mil anos depois
Ainda encontramos
Muitas Marias
No final dos corredores.

Não vamos esmorecer
Pois Jesus nos faz crescer
Dia a dia com amor
Tudo irá se resolver.
Amemos Jesus!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Confraternização dos grupos literários - RECANTO DOS LIVROS

 Aracy Duarte Ferrari declamando uma poesia
 Contadora de histórias Carmelina de Toledo Piza encantando a todos
 Carmen Pilotto organizando as apresentações
 João Nassif abrindo o evento
 Claudio Costa no acordeon e Rodrigo ao violão abrilhantaram o evento com músicas natalinas
 A presença das crianças trazendo  alegria 
 João Athayde e sua mensagem

 Lourdinha Sodero lendo seu poema
 Madalena Tricânico e suas lindas histórias 
 A despedida do voluntário mais querido do Recanto dos Livros, Tomas Bacchi, que vai morar na Alemanha por um tempo, mas continua a morar nos corações de todos que com ele conviveram 
Vera Nassif, coordenadora do Recanto e sua mensagem

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Alguns dias no Chile

       

Eloah Margoni

      Em adolescente não aprendi direito geografia.  Aliás, nada. Mapas em papel e linhas coloridas ou pretas mostrando estradas, mares ou rios, vistas numa sala de aulas, nunca me disseram bulhufas. Daí a vontade de ir aos locais, para verificar aquilo que as pobres linhas não me podiam mostrar. 
     Digo-lhes que, no passado, para viajar, sem exagero fiz verdadeiras loucuras, considerando-se minha idade à época, a limitada grana que possuía e meu sexo. E mesmo mais recentemente as fiz.
     De tudo isso me lembrava ao sobrevoar os Andes. E  em relação aos Andes em si tenho a dizer da minha decepção . Sempre achei que os picos seriam nevados durante o ano todo... Nos verões, de agora ao menos, não o são. Dar de cara com uma cadeia de montanhas muito áridas, desoladas, era assustador.  Perder-se ali, em qualquer época, há de ser acontecimento mortal.
    Vi rochas absurdamente grandes, antes e depois desta viagem, mas tanta falta de vegetação, tal ausência de plantas e a própria constituição das mesmas confrangiam-me o coração, inspirando medo. Não têm aspecto vulcânico aquelas montanhas e nada semelhante a negras, lisas pedras gigantescas, como as que se veem na Ilha da Madeira ou como numa cidade da Grécia chamada Meteora e em diversos outros lugares. Eram inóspitas ondulações calcárias amareladas, prontas para se deixarem lixiviar devagar, por águas que possam passar por ali, tingindo-as com seus detritos, lembrando-me mesmo, vistas do alto, as corcovas de uma infinidade de camelos imensos, aglomerados, parados, como se não tivessem porque nem para onde ir. Não se parecem nada com os Alpes ou com Apeninos tampouco aqueles montes.
   A aridez confirmou-se ao chegarmos à cidade. Muito baixa umidade do ar, e fazia bastante calor naquela época do ano; era fevereiro.  Acontece que nós mesmos, abominando a secura que tomava conta da região sudeste de nosso país em pleno verão antes chuvoso, não ficamos felizes com isso; mas Santiago em si descortinou-se muito arborizada e bonita. Metrópole de sete milhões de habitantes, porém com uma organização muito diferente das nossas grandes cidades, se bem que simpaticamente poluída, igualmente. Pode-se observar bem isso do alto Cerro de San Cristobal. Dali vê-se uma cortina opaca pairando sobre a cidade.
     Trânsito equacionado, limpeza das ruas amiúde, solicitude das pessoas em geral, certa calma e ordenamento da metrópole, bairros bonitos com fontes pequenas nas esquinas, muitos bancos cuidados nas ruas e em avenidas para que as pessoas possam sentar-se, e transportes públicos abundantes chamam atenção.
    Pela arquitetura apaixonei-me completamente. O lado moderno da cidade mostra arrojo, criatividade, harmonia e beleza.  Fachadas cheias de plantas. Voltei odiando mais do que nunca os feios caixotes, pouco imaginativos que são os prédios por aqui.
     A catedral de Santiago, é preciso mencionar, mostrou-se deslumbrante! Mais bonita do que Santa Maria Maior, que é a segunda igreja mais importante de Roma. E há outra igreja que se deve mencionar, a de São Francisco. Bem antiga essa última, mantendo paredes originais de pedra. E fica numa rua central, bem popular e movimentada.
     Nos arredores da cidade, sempre rodeada pelos Andes, surgem-se aqui e ali vinícolas, nichos de plantações, que são oásis no meio da aridez. O oceano Pacífico, muito agitado por sinal, com seus rochedos onde leões marinhos gritam de modo impressionante não nos deixa indiferentes, nem a famosa cidade de Viña Del Mar, onde se planejou o terrível golpe militar que sacrificou e fez sangrar o país, com a morte de Allende. Também nos afeta a estranha Valparaíso, áspera e nua, onde as queimadas anuais acabam com os arvoredos...  Ainda em Valparaíso, na parte portuária, uma placa adverte: região de tsunamis.

    O espanhol é uma língua que me encanta, possivelmente por se parecer tanto com a nossa. Gostaria de conhecer-lhe as variadas cadências de muitos países das Américas, porém esses países, pobres muitas vezes, com moedas mais fracas ainda que a nossa, têm custo de vida muito caro. De assustar. Então, por essas e outras, a gente, quando pode viajar e optar, nem sempre os escolhe para visitas... Pena (eu acho).

domingo, 6 de dezembro de 2015

PEQUENO PRÍNCIPE


Elda Nympha Cobra Silveira

Quando Antoine Saint-Exupéry, jornalista e piloto francês, escreveu, o livro “O Pequeno Príncipe”,  um ano antes da sua morte na 2ª Guerra em  31 de julho de 1944, não  sabia que seria adotado como um presente para as jovens adolescentes. A obra é aparentemente simples, mas profunda e contém todo o pensamento de Saint-Exupéry. Ele criou personagens plenos de simbolismo como o rei, o contador, o geômetra, a raposa, a rosa, o adulto solitário e a serpente, entre outros.
O pequeno príncipe vivia sozinho num planeta do tamanho de uma casa que tinha três vulcões, dois ativos e um extinto. Tinha também uma flor, uma formosa flor de grande beleza e orgulho, (inspirada na moça que o rejeitou) É uma obra que nos mostra uma profunda mudança de valores e como nos equivocamos na avaliação das coisas, das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam à solidão. Entregamo-nos  às nossas preocupações diárias, nos tornando adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos.
Mas a história da vida de Saint-Exupery muitos não sabem. Na prisão, capturado pelo inimigo e condenado à morte no dia seguinte, desesperado, procura um cigarro para se acalmar e depois um isqueiro, que não encontra porque tomaram seus pertences ao encarcerá-lo na masmorra. Pede fogo para o carcereiro e ao acender o cigarro,  o escritor fita os olhos do carcereiro e lhe dá um sorriso. Continuou olhando para o carcereiro e sorrindo, um sorriso doce e terno, numa  mistura de pavor e ansiedade, mas  que abre as prisões da alma. O carcereiro não resistindo, também sorriu e perguntou “Você tem filhos?”Sim”, disse Exupéry, tirando do bolso  as fotos de sua família. Afinal, naquela hora da madrugada, nos derradeiros momentos de sua vida,  precisava conversar para disfarçar sua angustia. De inicio, foi inútil, contudo, quando o homem se voltou para ele, sorriu de volta, fitando-o nos olhos e o sorriso foi correspondido. O carcereiro mostrou as fotos da família dele e disse dos planos que tinha para o futuro, mas Exupéry disse: “que diferença há entre nós... Amanha não estarei mais vivo e não abraçarei nunca mais meus filhos, mas você vai voltar para sua família e poderá abraçá-la. Quando o dia amanhecer já terei sido assassinado!” Nesse momento, as lágrimas correm pelo rosto do piloto  Saint-Exupèry e ele diz  não tem mais planos de futuro para seus filhos, pois não os veria nunca mais. O carcereiro comovido, já se sentindo amigo do prisioneiro, de repente, sem nenhuma palavra, abre a porta do cárcere e o guia pelas ruas tortuosas da Espanha. Assim, Saint-Exupery, cruzando vielas e dobrando esquinas escuras foge em desabalada carreira. Sente a claridade do sol e da esperança e pensa: “Minha vida foi salva por um sorriso.”

Que poder é esse que tem um sorriso para transformar atitudes, minimizar agressões de desafetos,   desarmar rancores e suavizar os desejos do coração vingativo?

sábado, 5 de dezembro de 2015

Rio Doce (in memoriam)


Ivana Maria França de Negri

Era uma vez um rio... Doce, piscoso, de águas límpidas. E um povo que o amava e dele retirava seu sustento: água, peixes, e o utilizava como meio de transporte através de barcos e balsas.
Rodeado de vegetação abundante e rica fauna silvestre, era o orgulho dos povos ribeirinhos.
Mas um dia, uma tragédia de proporções gigantescas se abateu sobre eles. Rompe-se uma das barragens de dejetos de uma mineradora. E a sopa de lama e resíduos poluentes invade casas, igrejas, lojas, rios, nascentes, destruindo o que encontra. Como uma grande boca vomitando lodo e detritos, com sua língua pegajosa grudando em tudo e deixando rastros de destruição. O caldo grosso se locomove por quilômetros. Ninguém consegue deter a massa de lodo. Luta vã tentar contê-la. Animais marinhos, domésticos e silvestres sucumbiram aos milhares. A fauna das matas ciliares foi dizimada.
O pasto virou lama e o gado não pode beber a água barrenta e contaminada.
 Ambientalistas contabilizam que cerca de um trilhão de organismos vivos, incluindo vidas humanas, morreram no desastre.
A água potável passa a ser o bem mais precioso, todos implorando por uma garrafa do líquido cristalino para beber.
O vale colorido torna-se monocromático: tudo marrom, um rio de barro. Barqueiros olham o rio lamacento e lamentam. Lágrimas rolam em seus rostos marcados. O velho rio Doce vai ficar apenas na memória deles. Seus netos só saberão da beleza do Vale através de fotos, imagens e filmes.
Será que um dia esses lugares renascerão das cinzas como a lendária Fênix? Não dá para prever... Mas podemos esperar mais tragédias a longo prazo. Síndromes e doenças diversas, oriundas do contato com metais que estão se infiltrando no solo e poluindo as águas. Ninguém sabe o que podem causar essas substâncias tóxicas, os metais pesados. Só o tempo dirá!
A catástrofe vai caminhando, como uma centopéia, contaminando tudo. E o rio de lodo chega ao mar. O impacto ambiental é incalculável. Mais de 120 nascentes soterradas.
Vale do Rio Doce agora é o Vale da Morte. O cheiro de podridão que emana dos cadáveres insepultos é insuportável. Cidades inteiras foram dizimadas. Viraram  cemitérios de lama.
O que fizestes, Homo Sapiens???
Quem vai recuperar as águas doces? Quem vai trazer de volta à vida os mortos? Quem ressuscitará a rica fauna que abundava nesses locais?
Esse crime não tem perdão!
Que o Criador de todas as coisas tenha piedade de vós no dia do acerto de contas final.

E que o Rio Doce e suas cidades fantasmas “Requiescant in pace”.