Plínio Montagner
Adeus Ano
Velho... Feliz Ano Novo... Que tudo se realize no ano que vai nascer: - muito
dinheiro no bolso e saúde pra dar e vender...
É! Tudo isso é
bom, mas muito pouco para quem já viveu muito, trabalhou, sofreu. Portanto, desejemos que o futuro seja
perdulário. Que se abram caminhos e haja mais festas, mais carinhos, mais
amizades sinceras, e até novas paixões para abrandar a contemplação do infinito
e de refletir sobre o nada.
Imploremos
então, supliquemos, façamos promessas até, para que no Ano Novo estejamos novamente
cantando e dançando. Chega de pensar no futuro, basta de trabalhar para os
outros. Importemo-nos menos com datas de aniversários.
As dores? Elas
vêm e vão. Então, não vamos falar mais de cirurgias, internações, arritmias,
tristezas. E não vamos dar bola às indiferenças. Estamos velhos e sozinhos e
ninguém gosta de compaixão.
Numa noite de
insônia assistia a um filme antigo - “Zorro e a Cidade de Ouro Perdido”. No
início me entusiasmei com um diálogo delicado e sutil, entre um idoso e uma
linda mulher:
- Não estou importunando? Dizia ela.
- A senhora é um colírio para os
olhos cansados de um velho!
- Nenhum homem
é velho quando sabe fazer elogios a uma mulher...
Disto é feita
a vida. De momentos. Não importa quantas vezes copiamos frases de poetas. Quando se sente que nosso tempo útil está
acabando é hora de viver intensamente o momento do agora. Colher o dia, “carpe diem”. O tempo foge. “Tempus fugit”.
O crepúsculo da vida chega para todos. Queiramos
ou não, nesse momento tomamos consciência do apito final do jogo da vida, que com
muita sorte será prorrogado.
Nesses
momentos, quem não amou - não viveu. Quem não pediu perdão - vai chorar! Quem
não perdoou... nem é bom pensar.
Num capítulo sobre
a velhice, o escritor Rubem Alves –“Ostra Feliz Não Faz Pérola” – lança um
diálogo com a plateia numa palestra:
- “Senhoras e
senhores, vocês estão chegando finalmente à idade em que podem se dar ao luxo
de ser totalmente inúteis”...
Após um início
de confusão e protestos, continuou, com o propósito de explicar a metáfora de
seu discurso:
- “Uma sonata
de Mozart é inútil, não serve para nada. Mas uma vassoura é muito útil. Vocês
preferem a companhia das vassouras à companhia da música de Mozart?”
“Uma poesia de
Fernando Pessoa não serve para nada, é inútil, mas o papel higiênico é muito
útil. Vocês acham o papel higiênico mais importante que a poesia do Fernando
Pessoa”?
Boa comparação
entre a aparente inutilidade da idade da reflexão e a utilidade do óbvio, do banal.
Os velhos, sábios ou não, têm permissão e licença para a contemplação, mas sem
exagero, que a vida continua, e têm o direito perene de se deliciar com sua
falsa inutilidade como um livro fechado numa estante, de ficar sentados numa
cadeira de balanço - ou de rodas - ou da maneira que quiserem.
Nada é ensinado sobre a velhice. Todas as
atenções são para a infância, à adolescência e à juventude.
O foco do
interesse da sociedade segue as linhas de produção de utilidades e inutilidades.
Nenhum projeto contínuo existe para atender as necessidades dos homens da “terceira
idade” (eufemismo: velho, idoso, doente, solitário...). Nas escolas não se
ensina como cuidar do homem improdutivo.
A velhice não
e o destino de todos nós? Então por que os idosos são tratados com menos zelo? O
Papai Noel que se cuide. A velhice sempre foi será responsabilidade da família.
Sorte de quem tem.
A sociedade se interessa pelo produto e pelo
retorno financeiro. Retorno humano zero! Quem não produz ou não for útil de
algum modo à sociedade (ou aos seus cuidadores)
é tratado como uma bola de futebol suja e furada ou a um grampeador quebrado
que vai para o lixo. É a vez do pragmatismo. O que deixa de ter
utilidade perde a identidade, é enjeitado e dá seu lugar ao novo.
Idosos, fiquem
com seus próximos, que são os únicos que os amam!
Feliz Ano
Novo! Tomara!
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