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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

A IDADE


Elda Nympha Cobra Silveira


A idade é a somatória dos anos vividos,  simples definição e lógica, mas cada ano acrescentado  se torna mais satisfatório e gratificante. Na época infantil toda criança tem sua graça. É a fase dos por quês, uma fase lúdica onde a imaginação é a tônica para despertar sonhos, muitas vezes pelo faz-de-conta,  que despertam as marionetes e os fantoches  que aparecem na TV. Assim a “Galinha Pintadinha” é cada vez mais, trocada por fatos reais. Mais para frente chegam histórias de príncipes e princesas e o lado romântico é despertado ocupando os sonhos românticos das adolescentes.
O sonho de namorar, casar e ter filhos ainda  permanece nos ideais de qualquer jovem, embora não com a mesma dinâmica de anos atrás, porque hoje o anseio de ter uma carreira de sucesso representa a realização e é a meta de qualquer jovem.
As fases vão sendo ajustadas na idade madura, pois bem ou mal, já se passaram muitas experiências e pode “se dar ao luxo” de devanear sobre o passado. Reciclar  nas recordações os anseios trabalhados ao longo da vida. E parece que o tempo é curto para isso, que esse contar dos anos, não passou.  As lembranças são vívidas e ainda pode-se recordar os amigos do tempo escolar, da época do namoro no portão e de todo romance nele envolvido, até com detalhes, estes configurados como exclusivos, vivenciados com tanta intensidade. Os problemas se diluem com essa volta ao passado e até fantasiam certos momentos de má recordação, mas tudo é desconsiderado, minimizado, pelos efeitos benéficos que emanam das recordações. Chegamos á conclusão que foi benéfico para a energização da realidade e para nosso crescimento espiritual. Sabemos e temos capacidade para fazer um balanço dos prós e contras que se degladiaram em nossa vida.
Cada filho já adulto, com suas características de personalidade, é lembrado. E facilmente misturamos os tempos para que os meninos ou as meninas voltem de nossa lembrança, com tanta facilidade que, mesmo com o tempo vivido,  misturamos numa só realidade filhos, netos e bisnetos como se fossem iguais.
Como é bom perceber características dos parentes se revelando nos mais novos, pela madeira de andar, pelo temperamento, as feições fisionômicas, tendências e preferências. È tão prazeroso deixar sua marca nos seus herdeiros!
Como é prazeroso rir de manias, jeitos de ser, que representavam problemas na época vivida com marido, pais, avós, parentes, porque tudo isso ficou marcado como coisa inesquecível. A tal ponto, que na hora de pegar no pé, o trejeito ou maneirismo é identificado pelo nome daquele que os tinha.
Ao assistirmos um filme de décadas atrás, cheio de romantismo,  vem-nos à mente essa fase de  ilusão onde o sexo não era tão imediato como agora. Os jovens estão perdendo esse envolvimento, que era mais sutil mais refinado. Havia mais respeito pela mulher.
Os filhos por sua vez, pediam a benção dos pais ao irem dormir. Tenho um sobrinho, hoje de cabelos brancos, que ainda pede-me a benção beijando minha mão.
 Educação de berço! Estamos caminhando para o lado permissivo, em nome da evolução de novos costumes, novos valores, dando entrada para condutas perniciosas e problemáticas. A falta de respeito grassa por toda mídia e se estende no nosso cotidiano.
Enfim, a idade nos traz pensamentos envolventes e memórias gratas de um passado. “Recordar é viver.”


terça-feira, 24 de novembro de 2015

NO MUNDO DA CRIANÇA


Lídia Sendin

Tem boneca, sim.
Tem carrinho.
Tem criança sapeca
E um olhar de carinho.
Tem lápis colorido,
Trenzinho e até pião.
Tem colinho querido,
Grudado no coração.
Tem olhar confiante
No caminho apontado
Seguro pra ir adiante
Sabendo ser amparado.

Mas, tem também a criança,
Com olhar vago e tristonho,
Olhando sem esperança
Sem ter futuro, nem sonho.
É triste, mas é verdade,
Nem toda criança é feliz
E anda pela cidade,
Virando do mal, aprendiz.

O que digo ao pequenino,
Pedinte de proteção,
Sem alimento ou ensino,
Que bate no meu portão?
-Seu dinheiro foi roubado,
Correndo de mão em mão,
Em vez de ser aplicado
Em comida e educação.

A Deus rogamos perdão,
Pela pouca capacidade
De escolher para a nação
Homens de honestidade.

Só me resta deixar o pedido
Da pobre criança comum:
-Prendam logo esse bandido
Pra que eu não me torne mais um! 

domingo, 22 de novembro de 2015

Homenagens a Ludovico da Silva

Reunião do GOLP em 2001

 “Poetas não falecem, se esvanecem lentamente, suavemente. E se tornam luz.”
Patricia Neme

 “Homem de humor refinado que escrevia lindas crônicas do cotidiano! Que siga em Paz!”
Carmen Pilotto

“Sem palavras para descrever essa perda. Uma pessoa de imenso valor, mas com muita humildade, que muito fez por Piracicaba e pela cultura. Siga em paz”
Ivana Maria França de Negri


“Foi um grande escritor e dignificou a cultura piracicabana. Descanse em Paz!”
Leda Coletti

“Foi o criador de um sonho que resultou em uma leva enorme de gente que gosta de escrever e no GOLP  encontrou amigos,  estímulo e orientação para crescer!!
Maria Cecília Graner Fessel

“Ele, Ludo, não foi, retornou”
 Lino Vitti

“Uma das maiores expressões do jornalismo esportivo na cidade, criador e cuidador da coluna "Q.G do XV" no Jornal de Piracicaba, em dias de glória do nosso XZão!”
Adolpho Queiroz

“Prestou grande serviço à Literatura e aos costumes em Piracicaba. Deus o guarde!”
 Otacílio Monteiro

“Para quem conheceu o Ludo há 45anos como eu, sabe que Piracicaba perde uma pessoa muito especial. Ja estamos com saudade, Ludo...”
Ésio Antonio Pezzato

“Él va a escribir cosas lindas em La outra vida y em outro lugar”
Angela Reyes Ramirez

“Grande parceiro da sala de redação do J.P. Que o Mestre o receba e o conduza ao seu lugar merecido” .
Noel Lara

“Grande perda para todos nós. Guardarei para sempre as melhores lembranças dos meus primeiros tempos em Piracicaba, quando nas reuniões do Golp, o querido mestre Ludo me acolheu e me honrou com sua agradável companhia. Meus sentimentos à família”
Olga Martins

“Uma grande perda!”
Marisa Bueloni

“Hoje, não posso voltar no tempo da oficina literária. Mas posso fazer um novo começo.
Agradecendo o companheirismo, o carinho e o respeito de um homem de cabelos brancos e de um escutar encantador, Senhor Ludovico”
Carmelina de Toledo Piza

 “Escrevemos muitos contos juntos...”
  Penélope Morena

“Pessoa de caráter ímpar!”
Neusa Molon

Que pena! Mais um sensível que se vai e contribuiu positivamente para Piracicaba”
Eloah Margoni

“Grande perda que nos fará falta no cenário literário pelo seu caráter digno, fineza, presteza e sensibilidade literária. Ficará uma lacuna.”
Elda Nympha Cobra Silveira Lara

 “Perfumada é e sempre será a alma dum escritor...”
Silvia Regina Oliveira

 “Paz eterna Ludovico,grande escritor, ser humano, grata pelas aulas no engenho. Que Deus abra os braços e o acolha com muito carinho”
Antonia Larrubia Segatto

“A literatura piracicabana agradece”
Cornélio Carvalho

Requiescat in pacem”
Irineu Volpato

“Vai deixar muitas saudades...”
Ana Lucia Paterniani

Lamento profundamente pela passagem desse cientista reconhecido pelo meio acadêmico da ESALQ.
Marco Antonio Chuahy

 “Uma grande perda para as Letras Piracicabanas”
Ana Marly de Oliveira Jacobino

“Ludovico além de ser sido um grande jornalista, foi também um grande escritor. Tive oportunidade de conviver com ele numa oficina de textos no Engenho Central em Piracicaba. Grande perda para a cultura piracicabana.
Rogério Viana


"Hoje, não posso volta no tempo da oficina literária. Mas posso fazer um novo começo.
Agradecendo o companheirismo, o carinho e o respeito de um homem de cabelos brancos e de um escutar encantador. Senhor Ludovico"
Carmelina de Toledo Piza


sábado, 21 de novembro de 2015

Oficina do professor Cornélio Carvalho

Carmelina de Toledo Piza, Ivana Negri, Carmen Pilotto, professor Cornélio, Cassio Negri, Leda Coletti, Lourdinha Sodero e Idamis
 Professor Cornélio, Carmelina, Lourdinha e Carmen
 Leda Coletti e Ivana Negri
 E no final da oficina, um pão especial feito pelo professor Cornélio. 
A rosca trançada de leite condensado estava deliciosa!

terça-feira, 17 de novembro de 2015

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Dia Nacional da Língua Portuguesa (05 de novembro)


Olivaldo Júnior

Portuguesa, ou lusitana,
nossa língua "brasileira"
fez 'Chiquita' ser bacana
e Emilinha, mais faceira.

Eu, que falo como escuto
essa língua à luz da feira,
tiro dela o estado "bruto"
dando a ela voz brejeira.

Caro lusa, companheiro,
vosmecê jamé se engane:
se escutar um brasileiro,

cada estrela no Cruzeiro,
cá do Sul (e em celofane!),
ilumina o mundo inteiro!...

terça-feira, 10 de novembro de 2015

domingo, 8 de novembro de 2015

Prosa&Verso - especial homenagem a Ludovico da Silva

A Prosa&Verso homenageou Ludovico da Silva, que foi um dos coordenadores da página por 15 anos.
A partir desta semana, Carmen Pilotto, integrante do GOLP, assinará a página junto com Ivana Negri,

sábado, 7 de novembro de 2015

ADAPTÁVEL *


Lídia Sendin

Moira não conseguia tirar os olhos daquela palavra que parecia saltar entre as outras no texto à sua frente: adaptável. Apenas um minuto atrás ela estava em frente ao espelho soltando os cabelos anelados e escolhendo a roupa que usaria para ir ao aeroporto pegar Álvaro depois de um mês fora do país. O aviso de uma nova mensagem chegando chamou sua atenção e ela voltou-se para a tela ansiosa quando percebeu que era dele a mensagem. Como? Há pouco mais de vinte e quatro horas recebera o aviso de que era essa a última comunicação dele, dando o voo e a hora de chegada.
Não conseguiu terminar de ler, seus pensamentos retrocederam cinco anos e ela se viu diante do “falecido” que lhe dizia, do alto da sua arrogância: “Não quero uma mocinha cheia de sonhos e vontades, quero alguém que seja adaptável ao meu estilo de vida”.
Com quase trinta anos, pensou ter tirado a sorte grande, ia casar com um homem elegante, inteligente e com boa situação financeira, que poderia lhe dar uma vida confortável e o filho que seu relógio biológico estava pedindo. Na época aquelas palavras lhe soaram como elogio, afinal já estava ficando pra titia e suas chances com o sexo oposto estavam se tornando escassas. Pagou o preço de ser adaptável, mas não foi feliz.
Apesar de detestar, cuidava da cozinha, apesar de gostar de dormir cedo, ficava com ele em longos jantares e mesmo tendo pavor de aviões, ia a todas as conferências de negócios pelo mundo afora. Todos os seus sonhos de compartilhar com alguém seu amor pela literatura, pelas caminhadas, filmes românticos e o desejo de ser mãe, acabavam na leitura da página financeira de algum jornal, em andar esbarrando nos garçons dos jantares de negócios, a ver filmes sobre empresários bem sucedidos e visitar algumas vezes os sobrinhos dele. Mas a ganância e a arrogância levaram o marido por caminhos escusos e perigosos, a idade e o coração não aguentaram e ele se foi, deixando pouca saudade e muitas dívidas. Vendeu a casa, os carros e agora sobrevivia escrevendo para jornais e revistas. 
Depois de cinco anos de abençoada solidão, onde só cabiam livros, amigos e viagens, por uma coincidência quase impossível, conheceu Álvaro. Num sábado chuvoso, quando nada podia fazer senão ler ou escrever, que era o que ela estava fazendo, seu computador travou. Desesperada com a possibilidade de perder todo o texto digitado e mesmo sabendo que era pouco provável encontrar alguém num sábado à tarde, ligou para a prestadora de serviços, rogando aos céus que Bruno, seu fiel escudeiro para assuntos de informática, tivesse se atrasado. Um toque, dois, mais um e outro, estava quase desistindo, quando uma voz desconhecida atendeu. Depois de um segundo de indecisão perguntou por Bruno. “Já foi embora”, disse educadamente a voz do outro lado da linha. Moira prendeu a respiração. “Algum problema?”. Um pouco chorosa ela contou o que tinha acontecido. A voz tornou-se atenciosa e precisa, aos poucos foi orientando seus passos até que tudo se resolveu. Depois do alivio e dos agradecimentos ela pediu pra mandar o Bruno na segunda pra ver se tudo estava bem e receber. Mas quem veio foi Álvaro, veio na segunda, saíram na terça, falaram ao telefone na quarta e trocaram e-mails todos os dias. E assim ela soube que Álvaro era o dono, que ficara para preparar um seminário sobre jogos virtuais que aconteceria em breve no Japão.
Foram três meses maravilhosos, com encontros no parque para a corrida, com idas ao cinema e ao teatro e muitas conversas no aconchego dos cafés sobre preferências literárias. Era por ele que ela esperara a vida toda, ele seria o pai do filho desejado e o companheiro amoroso que dividiria com ela o futuro.
Chegou finalmente o dia da partida para o Japão, “Vamos nos falar todos os dias” e assim fizeram: e-mail, MSN, Skype e tudo o que o mundo digital oferecia para aproximar duas pessoas que se amam.
Seus olhos ainda não acreditavam no que lia: “Moira, tenho ótimas notícias, meu projeto foi classificado, os empresários japoneses me querem, vão patrocinar todo meu trabalho, vou finalmente entrar em grande estilo para o mundo digital, participar de reuniões internacionais e jantares memoráveis, comprar a casa dos meus sonhos e um belo carro; vou ter que pagar um pequeno preço, é claro, a médio prazo não poderemos ter filhos, você não poderá escrever com tanta frequência, pois terá muitas obrigações sociais e a viagem de lua de mel vai ser adiada por alguns anos. Mas eu sei que você é mulher suficientemente adaptável para compartilhar tudo isso comigo.”
Moira levou um segundo para se lembrar de sua experiência anterior, outro segundo para levar o cursor até a palavra apagar na tela. Depois apertou a tecla enter, desconectou a Internet, desligou o computador.
Enquanto prendia os cabelos e procurava com os olhos o último livro comprado e não lido calçou o tênis, colocou o boné e foi caminhar no parque à procura de um lugar agradável para ler. Nunca mais queria ser adaptável a nada. Ia ser feliz do seu jeito mesmo.

* Conto classificado em 3º lugar no concurso Buriti 2014

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

LUDO



Adolpho Queiroz

                Admiração e respeito foram dois sentimentos que cultivei ao longo de minha trajetória profissional em Piracicaba – ou fora daí – pelo jornalista Ludovico Silva. Aprendi a conhecer melhor o E.C.XV de Novembro de Piracicaba através da coluna que ele editou durante décadas no Jornal de Piracicaba, intitulada “Q.G do XV”.  Eram pequenas notícias sobe o dia a dia do clube, escritas entre uma folga e outra que tinha nas suas funções mais nobres de servidor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”.
                Ainda jovem jornalista, naquele periódico, inventei de fazer um suplemento dominical, em formato tabloide, para imitar o velho “Pasquim”. Uma das primeiras encomendas que lhe fiz foi para contar sobre apelidos curiosos de jogadores de futebol. Ele formou uma seleção com nomes estranhos como Formiga e Ratinho na zaga central e um exército de apelidos mal postos nos caneleiros que faziam sucesso à época. Ambos nos divertimos muito com o resultado do trabalho.
                Mais recentemente acompanhava suas investidas literárias na página que ajudou a construir com carinho aqui na Tribuna, ao lado da escritora Ivana Negri. Escrever era um gesto de liberdade para ele, uma forma de respirar das contradições do dia a dia.
                Ajudou-me grandemente durante a construção do último livro de memórias que consegui elaborar aí na cidade, recontando a história e trajetória do jogador Vicente Naval Filho, o Gatão. Foi aos arquivos com o mesmo vigor dos grandes dias de glórias do nosso quinzão. Vizinho de uma das irmãs de Gatão, me deu dicas também sobre a família. Não conseguiu ir ao lançamento, pediu desculpas e nos enviou o filho Renato Scudeller da Silva, meu colega de “Sud Mennucci”, para representá-lo na ocasião.
                Dias depois recebeu-me em sua casa, entre várias xícaras de café, para avaliar o livro e rabiscar autógrafos ao meu lado para seus filhos e pessoas mais queridas, a quem pretendia enviar os exemplares do “Gatão”.
                Fizemos planos para um novo livro sobre o Presidente tremendão, Humberto D ´Abronzo, que engrandeceu o XV com o seu trabalho e fez Piracicaba tornar-se conhecida por causa da sua caninha “Tatuzinho”. Chegou a rabiscar oito páginas sobre o assunto e tinha me enviado recentemente para nortear o nosso trabalho de pesquisa. As dificuldades destes dias impediram-nos, pelo menos por enquanto, a dar prosseguimento ao projeto.
                Apaixonado pelo XV, legou à torcida fanática uma das contribuições mais singulares, com as notas que escrevia diariamente sobre o clube. E na conversa derradeira, entre um sorriso maroto e uma cara meio fechada segredou: “O Ripoli me ligava todos os dias. De umas coisas que eu escrevia ele gostava. De outras me criticava, as vezes me aborrecia, como se eu fosse funcionário dele e não do Jornal. Foi duro manter a minha independência! ”

                Mais do que seriedade e compromisso, num setor do jornalismo onde as paixões prevalecem, Ludovico Silva deixou aos seus leitores e amigos, duas grandes marcas: o seu caráter e a sua dignidade. 

Adolpho Queiroz, é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP
Texto publicado no jornal A TRIBUNA PIRACICABANA

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Oficina Literária


Na próxima quarta-feira, 4 de novembro, o GOLP oferece mais uma oficina literária, a cargo do professor Cornélio Carvalho, intitulada  “Semiótica”. 
Às 19h30 na Biblioteca Municipal.
Entrada franca e aberta aos interessados em produzir textos.


segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Poema para os vivos - Dia de Finados

Perder alguém não é dizer adeus ao pé da sepultura, escura casa desse corpo, igualmente escuro, enigmático. Por isso, nesse Dia de Finados, se você perdeu alguém para o qual não é mais possível telefonar para dizer "Te amo", faça uma prece, mas não uma prece decorada, cheia de frases que escreveram para você repetir. Faça uma prece que, ainda que não saiba, sabe de cor, de coração, porque fala do que lhe vai no peito, na alma de passageiro espírito pelo mundo. Assim, quem já se foi para bem mais longe de onde um simples telefonema pode chegar, saberá que você ainda se lembra dele e o considera importante em sua vida. Seja "vivo".


Olivaldo Júnior

 
Para os vivos que se foram
para o além de nossa terra,
um poema, algum foguete
com palavras.
 
Para os vivos que voltaram
para o céu que nos encerra,
um poema, o meu bilhete
para as almas.
 
Para os vivos que vigoram
na memória em primavera,
um poema, um ramalhete
pelas lágrimas.
 
Para os vivos que soltaram
seus grilhões pela quimera,
um poema, algum deleite,
muitas palmas.

Dia de Todos os Santos (homenagem a Ludovico da Silva)

Uma das agradáveis reuniões do GOLP, na Casa do Médico, tendo Ludovico à frente

Carmen M.S.F. Pilotto

  
A Alma de um escritor é um ambiente sempre conturbado onde emoções afloram vorazes e conturbadas. Lá fora, um dia nublado de todos os Santos. Na TV cultura, um especial sobre a “Bohemian Rhapsody”, com Freddie Mercury, arrasando em uma intensa voz que mistura rock e ópera incidindo sobre nosso humor como algo intenso e abrasador.
Ontem nosso amigo Ludovico da Silva mudou de plano. Um sentimento amargo em nossa rotina nos toma com o aumento das ausências dos queridos escritores que passaram para outro lado. Viajando pelo site do Grupo Oficina Literária de Piracicaba, encontro um lindo texto dele, de 13 de fevereiro de 2010, sobre a Felicidade: “Ao abrir a janela, logo pela manhã, deparei com uma paisagem que prenunciava um dia triste. O céu estava encoberto por nuvens escuras, barrando o sol, que lutava com seus raios fortes, para dar vida à natureza. Uma chuva começou a forçar as pessoas a apressar os passos. As flores, que enfeitavam os jardins, se encolhiam entre os ramos dos arbustos, à procura de abrigo. Pareciam tristes, como o próprio tempo. Fios de água escorriam pela sarjeta, ganhando força ao alcançar a ladeira escorregadia e se perdiam no encontro do rio la embaixo. Mas tudo passou de repente. Então, vi os raios do sol atravessando a chuva mansa, colorindo o céu, com a beleza de um arco-íris. Meus olhos encheram-se de felicidade.”érico rocha
Ludo era assim, todo realidade-cotidiana, relatava as microssensações que o assomavam e escrevia sobre a rotina, imagens, de forma singela e intensa, assim como a vida se apresenta, norteado pela simplicidade e experiência dos momentos vividos e observados.
Escreveu muitos anos no Jornal de Piracicaba a coluna QG do XV como um observador apaixonado por futebol, especialmente de sua terra natal. Coordenou em conjunto com a amiga Ivana Negri a página Prosa &Verso, na Tribuna Piracicabana, divulgando os amigos escritores de Piracicaba.
Foi também um dos fundadores do Grupo Oficina Literária de Piracicaba tendo recebido diversos reconhecimentos por prêmios e dignidades municipais da cultura, especialmente a Medalha de Literatura Profa. Branca Mota de Toledo Sachs.
Contabilista, professor, economista e jornalista tinha um perfil detalhista na literatura que praticava. Sua obra publicada, O diário de um ano bissexto, originou-se de uma pesquisa que relatou por crônicas muito interessantes e de humor com fatos folclóricos do calendário de um ano bissexto, utilizando suas datas mencionadas a partir de registros culturais, cívicos, profissionais, históricos e curiosos.
Como ser humano, marido extremoso, tinha muito afeto por sua família. Com um sorriso tímido, jeito discreto, era dono de um olhar misterioso e melancólico. Não era pessoa de exageradas palavras  mas  trazia sempre um comentário inteligente e bem colocado para toda e qualquer situação, comumente chamado de bom senso e discrição. Seu andar me fazia lembrar Carlos Drummond de Andrade, visto que todos nossos amigos nos remetem para alguém de nossa mente ficcional.
Seriam inúmeros textos que poderíamos citar de nosso amigo Ludo para expressar nosso pesar pela sua passagem, mas nada pode representar melhor do que sua própria frase na crônica Os vãos da vida: “Os invernos da vida entristecem olhares e sulcam as faces. Mas procuro alguém. Olho pelos lados. Canso-me. Tudo em vão. Os amigos sempre vão.”