Uma das agradáveis reuniões do GOLP, na Casa do Médico, tendo Ludovico à frente |
Carmen M.S.F. Pilotto
A
Alma de um escritor é um ambiente sempre
conturbado onde emoções afloram vorazes e conturbadas. Lá fora, um dia nublado de
todos os Santos. Na TV cultura, um especial sobre a “Bohemian Rhapsody”, com
Freddie Mercury, arrasando em uma intensa voz que mistura rock e ópera incidindo
sobre nosso humor como algo intenso e abrasador.
Ontem
nosso amigo Ludovico da Silva mudou de plano. Um sentimento amargo em nossa
rotina nos toma com o aumento das ausências dos queridos escritores que passaram
para outro lado. Viajando pelo site do Grupo Oficina Literária de Piracicaba,
encontro um lindo texto dele, de 13 de fevereiro de 2010, sobre a Felicidade: “Ao
abrir a janela, logo pela manhã, deparei com uma paisagem que prenunciava um
dia triste. O céu estava encoberto por nuvens escuras, barrando o sol, que
lutava com seus raios fortes, para dar vida à natureza. Uma chuva começou a
forçar as pessoas a apressar os passos. As flores, que enfeitavam os jardins,
se encolhiam entre os ramos dos arbustos, à procura de abrigo. Pareciam
tristes, como o próprio tempo. Fios de água escorriam pela sarjeta, ganhando
força ao alcançar a ladeira escorregadia e se perdiam no encontro do rio la
embaixo. Mas tudo passou de repente. Então, vi os raios do sol atravessando a
chuva mansa, colorindo o céu, com a beleza de um arco-íris. Meus olhos
encheram-se de felicidade.”
Ludo
era assim, todo realidade-cotidiana, relatava as microssensações que o
assomavam e escrevia sobre a rotina, imagens, de forma singela e intensa, assim
como a vida se apresenta, norteado pela simplicidade e experiência dos momentos
vividos e observados.
Escreveu
muitos anos no Jornal de Piracicaba a coluna QG do XV como um observador
apaixonado por futebol, especialmente de sua terra natal. Coordenou em conjunto
com a amiga Ivana Negri a página Prosa &Verso, na Tribuna Piracicabana, divulgando os amigos
escritores de Piracicaba.
Foi
também um dos fundadores do Grupo Oficina Literária de Piracicaba tendo
recebido diversos reconhecimentos por prêmios e dignidades municipais da
cultura, especialmente a Medalha de Literatura Profa. Branca Mota de Toledo
Sachs.
Contabilista,
professor, economista e jornalista tinha um perfil detalhista na literatura que
praticava. Sua obra publicada, O diário de um ano bissexto, originou-se de uma
pesquisa que relatou por crônicas muito interessantes e de humor com fatos
folclóricos do calendário de um ano bissexto, utilizando suas datas mencionadas
a partir de registros culturais, cívicos, profissionais, históricos e curiosos.
Como
ser humano, marido extremoso, tinha muito afeto por sua família. Com um sorriso
tímido, jeito discreto, era dono de um olhar misterioso e melancólico. Não era
pessoa de exageradas palavras mas trazia sempre um comentário inteligente e bem
colocado para toda e qualquer situação, comumente chamado de bom senso e discrição.
Seu andar me fazia lembrar Carlos Drummond de Andrade, visto que todos nossos
amigos nos remetem para alguém de nossa mente ficcional.
Seriam
inúmeros textos que poderíamos citar de nosso amigo Ludo para expressar nosso
pesar pela sua passagem, mas nada pode representar melhor do que sua própria
frase na crônica Os vãos da vida: “Os invernos da vida entristecem olhares e
sulcam as faces. Mas procuro alguém. Olho pelos lados. Canso-me. Tudo em vão.
Os amigos sempre vão.”
Ivana, favor incluir que a coluna Prosa e Verso é do Jornal A Tribuna de Piracicaba.
ResponderExcluirGrata
Carmen Pilotto