Ludovico
da Silva
As grandes fazendas de café de
antigamente tinham a casa da sede enorme, com muitos quartos reservados para os
filhos do casal, que, à medida que iam se casando, tinham onde se alojar. Em
razão disso, era também grande a sala de jantar, o mesmo acontecendo com a
cozinha, cujo fogão tomava espaço considerável, tendo anexo um forno. Pelas
próprias condições econômicas dos patrões, havia bom gosto na elaboração desses
detalhes. Essas dependências ficavam a
cargo da matriarca da família, no preparo do café da manhã e no cozimento dos
alimentos, de bolos e manjares. No lar fazia-se de tudo e a limpeza da
residência ficava a cargo de empregadas, requisitadas junto a moradores das
colônias.
Como as fazendas ficavam afastadas dos
centros maiores, era comum na zona rural o forno fazer parte das residências
dos colonos. Mesmo sem a sofisticação notada na casa grande, tinha sua
importância. Sempre construído no quintal, próximo à porta de entrada da
cozinha, com o objetivo de facilitar a locomoção da dona de casa para enfornar,
sobretudo o pão, normalmente feito em finais de semana. Mas o forno não servia
simplesmente para assar pão. Por ocasião de festas, casamentos, batizados e
outras mais, como fim de ano, Natal e Páscoa, era utilizado para assados dos
mais variados tipos.
É interessante o formato do forno
caipira. É construído em forma curvada em seu teto, com tijolos que se encaixam
de maneira arredondada. Tem o mesmo tamanho por todas as casas em que é
produzido. Muito dificilmente é encontrado um maior que outro. Atrás, o
pedreiro deixa um vão, um espaço mais ou menos do tamanho de meio tijolo, que
serve como respiro quando está sendo aquecido. A boca de entrada tem uma tampa,
algumas como uma espécie de guilhotina, a exemplo de vidraças antigas, que sobe
e desce, e, às vezes, simplesmente uma peça de folha de zinco, encostada por um
sarrafo de madeira, um cabo de vassoura ou mesmo um galho de árvore comprido e
fino. O forno tem um tempo certo para ficar pronto na hora de assar, que só a
dona da casa sabe. É que ela prepara a massa e enrola o pão de acordo com o
formato que deseja, com tempo coincidente à temperatura certa do forno. Tão
isso ocorra é chegado o momento de fazer a varredura na parte interna do forno,
com a retirada de alguns tocos de lenha que não queimaram por completo, aqueles
tições que ficam ardendo, e das cinzas acumuladas durante o aquecimento.
A esta altura das atividades em torno do
preparo do forno para assar o pão, a dona de casa está pingando de suor,
valendo-se de uma toalha, sempre pendurada no ombro, para enxugar o rosto e o
pescoço. Não fosse só o calor, o vestido é comprido até os pés, normalmente de
tecido grosso, consistente. Como ponto de higiene, a cabeça é coberta com um
lenço, para evitar a queda de qualquer fio de cabelo no feito preparado.
Essa é uma parte do preparo para o
cozimento do pão.
Passados esses preparativos, chega o
momento de enfornar o pão. No mais das vezes, colocados em formas de alumínio
ou folha de flandres, esta preparada pelo chefe da casa, aproveitando uma lata
vazia de óleo de vinte litros, muito comum em vendas e armazéns de secos e
molhados em bairros rurais. Na falta desses utensílios, era normal o uso de
folhas verdes de bananeira. A dona de casa não podia se esquecer de fechar o
orifício que ficava na parte detrás do forno, pois isso garantia a continuidade
do aquecimento. A fornada chegava de seis a oito pães.
Embora isso ainda aconteça no fundo dos
sertões, em locais mais próximos dos bairros populosos ou centros maiores, a
vida dos ruralistas mudou muito. Hoje centros comerciais fornecem quase tudo o
que o consumidor precisa, sem a necessidade de tanto sacrifício para a família.
Principalmente assar pão em forno fora de casa.
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