Olivaldo Júnior
A verdade é que o poeta tem sido esquecido. Quando existe um casamento, quando existe um bom motivo para estar com seus amigos, ele não é convidado. O poeta tem ficado de fora. Será que está por fora, ou fora de moda? Sim, é provável. Parece louvável, a arte de fazer versos. Mas não é assim que me parece. Talvez eu seja, ou tenha ficado um tanto quanto amargurado, mas a amargura é uma coisa imprescindível para nós, os poetas, criarmos limo e fazermos pérolas. Do amargor da terra fria, um quente e doce fruto se obtém: a Poesia. Na verdade, o poeta não é dono de nada, nem de ninguém. O poeta é, como diria o nosso Erasmo, só mais um na multidão, um filho único, um gigante gentil. Amanhã, gentilmente, é o Dia do Poeta. Sem amigos poetas por perto, me desfaço de mim mesmo neste texto, como um náufrago sem barco, um barco sem marujos, um marujo sem marés. Sozinho, como um Vasco da Gama entre os lusíadas, luzidio como uma estrela de Belém, melindro-me à toa. Ninguém me ouve, ou não me quer escutar. Tarde demais para esquecer não é somente nome de um filme. Pode ser, também, o nome de um estado de ser. Serei mesmo poeta, ó sereia? As águas do mar da escrita serão mesmo minhas? Suas mãos de alga me dessalgam de minhalma, já sem alma. Parabéns, caros poetas! Poetinhas, poetaços, ou, simplesmente, poetas, parabéns! Com vocês, a vida é mais plena de sentido e de senões, sinal de que estamos vivos. Sofro, sofres e sofrerão todos os que se aventuram a serem quem são. Mandaram-me seguir meu rumo e me esquecer deles. Soluço, só, entre meus passos, mil passes para o gol que nunca faço. A verdade é que me disfarço. E o disfarce é de palhaço. O picadeiro é meu carma.
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