Elda Nympha Cobra Silveira
É incrível como certos odores nos
transportam para dimensões no tempo e no espaço numa velocidade incrível. O
pensamento não precisa de nenhum veículo para viajar, é só ter sentimento. O
cheiro que exala dos restaurantes, que ficam nas imediações do rio Piracicaba é
inconfundível. É incrível a nostalgia que nos toma ao lembrar-se dos tempos em
que se via com frequência verdadeira multidão, que se acotovelava na curva que
o Piracicaba faz antes da Casa do Povoador, quando os pescadores paravam os
barcos e eram muito aplaudidos quando um dourado ou pintado saia da água,
envergando as varas e testando, até o limite, a perícia dos atores daquela
mágica cena ribeirinha!
O cheiro de pipoca nos leva a
pensar em reunião de família, Copa do Mundo pela TV, festa junina, jogo de
baralho com amigos, recordação da infância, a gostosura de brincar com os
filhos no parque de diversões...
O cheiro da terra molhada traz á
lembrança cenas do clássico hoollywoodiano “A Dama das Camélias”, na cena em
que a protagonista gostava desse odor, porque estava se entregando à morte,
porque tinha que deixar seu grande amor por causa da tuberculose. O cheiro
gostoso dos livros nas livrarias traz à mente um mundo de sonhos. Cada livro é
um “abre-te sésamo”, que nos permite absorver as joias da literatura, quando
cada livro nos leva às lágrimas ou à introspecção, porque, ao escolher um livro
entramos na intimidade fascinante dos pensamentos do escritor.
Os cheiros dos doces diversos, do
cachorro-quente, do pastel, da pipoca doce e salgada e do tempurá da Praça José
Bonifácio, trazem à memória as festas comunitárias e os encontros casuais dos
amigos. A Catedral nos traz à memória o odor da devoção representado pelo ardor
do incenso e da luz mortiça das velas, que impregnavam paredes e colunas
majestosas com a fuligem da cera queimada, a nos propiciar emoções intimistas e
espirituais.
O cheirinho de talco lembra
filhos e netos quando bebês. O perfume dos cabelos de quem se ama, e até o
cheiro de uma noite de amor, tudo é lembrança!
O cheirinho de Glostora, Gumex,
Odorono, o perfume de Gardênia, do Cachemir Bouquet, do sabonete das estrelas e
do perfume Channel, nº. 5. É tão bom sentir o cheiro de mormaço no fim das
tardes de verão, deitada numa rede num rancho na beira de um rio, ou o cheiro
da maresia, misturada com o das árvores.
O cheiro daquele velório, num
misto de flores e velas, que dificilmente se esquece, porque alguém partiu para
sempre deixando uma lacuna que jamais será preenchida. E o cheiro da comida da
mamãe? E o do café coado na hora? O cheiro de manga madura chupada com amigas,
que repimpadas nos galhos da mangueira, sempre lambuzavam a cara inteira, senão
não tinha graça.
O cheiro de lança-perfume nos
salões dos carnavais de outrora, extravasava pelos poros colados com confetes.
O cheiro de cloro da piscina do
Colégio Piracicabano e a lembrança do Bastião, funcionário muito querido por
todos. O cheiro de cera no assoalho coberto com uma passadeira de linóleo
Por isso Deus nos deu olhos para
ver e olfato para sentir o cheiro das coisas, proporcionando-nos, através do
olfato um reviver eterno, pois odores são voláteis e passageiros, mas nos é
dado conhecer suas novas nuanças, que poderosas, conseguem resgatar o que o
tempo levou, mas que ainda vive em nossas lembranças.
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