Christina Aparecida Negro Silva – 58 anos, diretora de escola, professora, contadora de histórias e hoje, cronista assustada com essa absurda “onda de violência”.
01/11/13
Eu
sei que estamos todos, ultimamente, assustados com a violência, tão presente em
nossa sociedade, haja vista a quantidade de notícias que tratam sobre este
tema. Ao ligar a TV, logo cedo, somos “metralhados” por uma série de notícias
ruins – acidentes, roubos, agressões de qualquer ordem, abandono, tudo o que
nosso humor matinal não gostaria de ouvir. Eu sei que deveria achar que isso
é natural, afinal, a mídia tem que
cumprir seu papel de divulgar os acontecimentos, os quais, recentemente são
péssimos e em todos os canais; a qualquer hora do dia, as notícias se repetem :
bala perdida mata criança na rua ,
sequestradores seviciam e matam suas vítimas, idosos são ludibriados por
marginais, a Cracolândia recebe não sei quantos mais viciados/dia, maluco atira
em estudantes dentro de escola...
Meu
Deus, para tudo ! Somos tão absurdamente envolvidos que perdemos o bom senso no trato com outros humanos, nos fatos simples
da vida. Agimos desconfiados, temos medo de tudo e de todos, nossas casas vivem trancadas, lacradas,
evitamos sair à noite ou até deixar o carro em qualquer rua. Eu sei que isso é
normal, mas não devia ! Não deveria ser normal agir com desconfiança nas
atividades corriqueiras do dia-a-dia. Parece que somos controlados pela mídia,
seguindo regras ou tendo posturas que desafiam nossa autonomia.
Hoje
pude sentir na pele esta teoria a que estou me referindo – as pessoas perderam
o discernimento e agem como marionetes controladas pelo senso comum , ou
seja, é preciso desconfiar de todo mundo
! quem quer que seja, é sempre uma ameaça...vejam o que me ocorreu ...
Fui
até uma igreja, rezei um pouco e dirigi-me à secretaria, cuja porta de ferro
estava entreaberta, a atendente passou por mim rapidamente, fechou a porta e
ainda passou o ferrolho. Tomei um choque ! Sou uma senhora de quase 60 anos,
ela também já deve estar na casa dos “entas”. Uma vez lá dentro, engaiolada
entre as grades da porta , protegida de MIM, disse:
__
Pode falar.
__
....
__
Pode falar – repetiu em tom mais alto.
Recuperada
do susto, balbuciei – quero marcar uma
missa de sétimo dia... Era mesmo necessário fechar a porta, passar o
ferrolho, atender-me daquela maneira ? O que a fez pensar ( se é que pensou )
sobre mim ? que eu iria assaltar a secretaria ? fazer-lhe mal ? praticar atos
delinquentes dentro da igreja ? Meu Deus ! Eu sei que devia entender o cuidado
daquela senhora, mas não consigo. Não entendo este exagero a que estamos
acostumados a agir por conta dessa glamourizada violência que nos cerca. Além do susto e
constrangimento por que passei, ficou-me uma dor imensa de saber que todos nós,
independente da idade ou modo de agir, sofremos violência gratuita de pessoas
simples que , teoricamente, deveriam ter a função ou a missão de nos dar
atenção. Apenas isso.
Por
isso, reforço : eu sei que a violência é pano de fundo nas atuações da
sociedade , mas não devia, ou melhor, EU
não devo conformar-me com isso. Em meio a tantas ações descabidas, somos
pessoas que se relacionam no dia-a-dia em várias situações e, no mínimo, soa
muito estranho tanta desconfiança nas nossas pequenas interações sociais.
Talvez seja este o motivo por haver tantos boletins de ocorrência com queixas
de preconceito. Olha, no meu caso, só se for preconceito contra baixinha, gorda
e bem madura . Se ela estiver lendo este texto, o preconceito também a ela se
aplica.
Que
coisa !
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