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sábado, 9 de fevereiro de 2013

MINHA AVÓ E O CARNAVAL



Maria Cecilia Graner Fessel

Uma das coisas que tive desde menina é a curiosidade sobre costumes de outros povos, outras civilizações, outros tempos. Gostava de ouvir minha avó materna falar sobre as antigas comemorações de Piracicaba, como a festa do Divino, as cerimônias da Semana Santa, o Natal com suas visitações aos muitos presépios da cidade.
 Sobre o Carnaval, muitas vezes a fiz contar-me como as pessoas se divertiam nesta última data, isso em fins do século 19, começo do século 20.
Sendo uma pessoa que não gostava de brincadeiras, era emocionante ver seus olhos brilharem quando eu a inquiria sobre essas lembranças.
-“Conta, vó, conta das folias do Carnaval!”
Então ela descrevia, como se as visse de uma alta janela na velha praça, os grupos de foliões a
 circular nos arredores da antiga igreja, fantasiados ou não,  desafiando-se mutuamente, as famílias procurando identificar os encapuzados e provocando os brincalhões, para logo retrairem-se no interior das casas, fugindo das represálias.
Falava bastante das famosas “Laranjinhas de cera”, que eram oferecidas em tabuleiros sobre as cabeças dos vendedores, e eu ficava imaginando como seriam feitas... Como conseguiam a tal cera e a moldavam perfeitamente esféricas e de paredes muito finas, enchendo-as com “água de cheiro”, para que se arrebentassem ao serem jogadas. Serviam assim para verdadeiras guerras entre os grupos que podiam comprá-las , das quais todos saiam ensopados e perfumados (segundo ela, também havia laranjinhas cheias com líquidos bem menos agradáveis....).
Estando assim ensopados de perfume ou de outros odores, suados  das correrias pela praça, vinham os moços provocar as moças em suas janelas, aproveitando o clima de maior tolerância para mostrar seu interesse por esta ou aquela donzela sempre vigiada.
-E aí, vó, o que acontecia?
Com um ar travesso, me respondia ela:
-Ora, se o folião agradasse, as pessoas jogavam água para lavá-los e aliviar o calor de fevereiro...Se não, despejavam sobre eles conchadas de polvilho ou farinha, que grudavam no corpo e eles iam embora...
Com uma certa malícia, admirada do entusiasmo com que minha circunspecta avó descrevia essas cenas, certa vez lhe perguntei:
-E o que a senhora. fazia, vó? Jogava baldes de água ou farinha?
Tomada de surpresa no meio de um sonhador sorriso quase jovem, ela então fechava a cara e me dizia:
-“Ora, menina, eu...eu não fazia nada... eu... só ficava olhando!”
E logo me censurava tantas perguntas e encerrava a conversa...

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