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quinta-feira, 1 de novembro de 2012

DIGO ADEUS AOS MEUS MORTOS


Alfredo Cyrino


Hoje, me despeço das lembranças metálicas,
pungentes, meticulosamente gravadas,
dos rancores, tristezas, ressentimentos.

Deixo no passado, abandonados,  
os cuidados, as atenções e os bens que não tive,
as crenças absolutas e os grandes embates inúteis,
as lutas vencidas e perdidas, por nada,
os perdões negados, as culpas e os culpados,
os sonhos e planos inconclusos
que cansei de perseguir.

Deixo ao destino as mensagens
feitas de mãos, coração e alma,
lançadas ao mar do tempo
que há milênios me traz o açoite das ondas
vazias de respostas, já desnecessárias.

Digo adeus aos meus mortos,
a todos os que dentro de mim aprisionei.

Dos seus corações retiro as adagas
das dores secretas, somente minhas.

Do meu feroz pensamento os liberto
para a paz que lhes tomei.

E retomo a caminhada,
com o peito vazio,
pleno de perdas e saudades.

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