Ivana Maria França de Negri
Certa vez recebi um e-mail de uma pessoa da cidade de Passos, Minas Gerais, que dizia ser trabalhador de uma empresa, como conferente.
Contava que, ao abrir alguns volumes, encontrou uma página do caderno de cultura do Jornal de Piracicaba, justamente a que continha a coluna Letras & Rimas. Seguia dizendo que, como fiel admirador da arte das rimas, trovas e versos, dobrou com cuidado a folha e colocou-a no bolso a fim de ler com mais calma em sua casa após o serviço.
O moço dizia que gostou demais dos poemas, e ao constatar que havia um endereço eletrônico no cabeçalho da página, resolveu enviar uma mensagem.
Recebo dezenas de e-mails, mas esse me comoveu. Fiquei imaginando o rapaz, voltando para casa cansado do seu dia de trabalho, retirando ansioso do bolso a folha amassada e lendo a página de poesias, degustando e se deliciando com cada verso.
A página era do dia 29 de maio de 2010 (ele me enviou a data da publicação). E o rapaz termina a mensagem dizendo que continuaria garimpando entre os jornais que embalam as mercadorias, na esperança de novamente encontrar outros poemas, outros tesouros.
Respondi ao e-mail e pedi que me passasse seu endereço, pois gostaria de enviar alguns livros de poesias, afinal, para alguém que demonstrou gostar tanto dessa arte, esse deve ser um presente muito bem-vindo.
Repassei a mensagem para a Eleni, editora do Caderno de Cultura do JP, a fim de dividir com ela o fato e fiquei a pensar como a poesia cria asas e voa para longe. Como um pássaro, pode atravessar longas distâncias, das mais inusitadas maneiras, como essa que acabo de relatar.
Mas agora a Letras & Rimas é passado, assim como a Palavras & Versos que circulou sob a coordenação da saudosa poetisa Maria Cecília Machado Bonachella no Jornal de Piracicaba por 27 anos ininterruptos.
O momento atual não comporta mais poesia. Uma pena... Seguindo as tendências globais, o JP optou por levar a Letras & Rimas para o jornal digital, retirando-a do exemplar impresso.
Por algum tempo, os sábados não serão os mesmos sem o cantinho literário. Mas chegam novos cadernos, novas propostas e tudo vai sendo substituído e o passado esquecido. Sempre me lembro das sábias palavras do professor Mauro Vianna: “Nada é para sempre”. Tudo se mantém vivo no exato tempo que tem que durar para ser eterno.
E enquanto a página existiu, acalentou sonhos, despertou fantasias, induziu a reflexões. Eternizou-se na memória de muitos, e também em recortes guardados de páginas amarelecidas e sempre relidas.
A Poesia não vai morrer jamais, posto que é feita de sentimentos e estes são eternos. Morre uma página no jornal impresso, nasce outra no espaço virtual.
Agradeço a todos os colaboradores da coluna nestes anos todos, e peço que continuem a enviar seus poemas para a coluna digital. E também aos diretores do JP pelo espaço cedido nestes quase cinco anos.
*texto enviado mas não publicado pelo Jornal de Piracicaba
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Cartas enviadas à redação e não publicadas:
Senhores,
Sou assinante do JP há alguns anos. Gosto de ler as notícias da cidade, as crônicas de Ivana Negri, Maria Helena Corazza, Jaime Leitão e de outros articulistas piracicabanos; as tirinhas e charges e, principalmente, a coluna Letras & Rimas , publicada aos fins de semana, cujos poetas têm seu espaço na imprensa de Piracicaba.
Infelizmente, chegou-me a notícia de que essa coluna será extinta no jornal impresso e por este motivo escrevo-lhes para pedir que não tomem tal atitude,pois ela é tradicional neste veículo de informação e cultura e está, há tantos anos, divulgando sensibilidades de poetas consagrados e "menores" - como meus alunos, que muitas vezes tiveram seus poemas publicados nessa coluna e sentiram-se honrados por estar ao lado de pessoas ilustres dessa cidade.
Agradeço a atenção
Profa. Christina A. Negro Silva
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Prezados Senhores:
Durante anos a página de Letras e Rimas do Jornal de Piracicaba foi cuidada carinhosamente pelas escritoras Maria Cecília Machado Bonachela (in memoriam) e Ivana Maria França de Negri. Foram seleções de textos inúmeros enviados e definição de temas interessantes ou assuntos de comoção geral que se apresentaram nas mais diferentes abordagens. Nos últimos tempos até mesmo uma arte gráfica foi incorporada para transformar a referida página em uma agradável leitura dos sábados pela manhã. Humanizava o jornal quebrando a frieza das notícias factuais, obituários, classificados e outras colunas afins.
Em um país em que o universo digital ainda é restrito dizer que um página de jornal poderá ser consultada de forma virtual é diminuir as possibilidades de poesia e oferecer somente um pão amanhecido e embolorado.
Entristece o universo literário saber que um jornal extingue uma página que foge ao escopo comercial . Mas como afirma Pessoa:
“Hoje de manhã sai muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...
Não sabia por caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.
Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre –
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.”
Sigamos o caminho que o vento varre porque a humanidade segue em bloco para não mais pensar...
Atenciosamente
Carmen M.S.F. PiIotto
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ADEUS, POESIA!
Lino Vitti
Sim, caríssima, bela, apreciada e feliz Poesia, adeus! Já não terei a possibilidade de ver-te e ler-te num cantinho destas importantíssimas páginas do nobre e querido Jornal de Piracicaba, que Losso Netto, em conluio com este inveterado amante das rimas e dos sonetos, reservou para a sua divulgação e para alegria e encanto daqueles que te compõem e te lêem levados pela tua beleza, pela tua fantasia, pelos teus sonhos, pela demonstração sempre inequívoca, da arte e da cultura universais.
Como Príncipe dos Poetas Piracicabanos estou triste como vocês, mas ao invés de esgrimar o que os valores mais altos fundamentalmente assim decidem, agradeçamos os longos anos em que burilamos versos, estrofes, poemas e sonetos, graças à Maria Cecília Bonachella que da nobre página cuidou tanto tempo e a Ivana Maria, que lhe deu feliz continuidade até os dias de hoje e muito , muito mesmo, aos diretores do tradicional matutino, pela oportunidade concedida à Poesia piracicabana.
Afinal, deve perguntar alguém, que vem a ser essa tal de Poesia para merecer tantas atenções e merecer tanta divulgação ? Não sei. Só posso dizer que poetas foram Dante Alighieri, Shakspeare, Victor Hugo, Camões,Olavo Bilac, Francisco Lagreca, Mello Aires, Castro Alves, Marina Tricânico, Newton de Mello, Gustavo Teixeira, milhares espalhados pelo mundo inteiro, e não menos que centenas nesta terra dos canaviais, que se incumbiram ou ora se comprazem em deixar aos semelhantes a beleza e a alegria dos mais belos poemas brotados da inteligência humana. É ler o que escreveram para a posteridade e saber então o que é essa tal de Poesia.
Vou contar algo inédito de minha vida. Quando adolescente, morando na roça, meu pai José Vitti, funcionário do Grupo Escolar, era o único que recebia o Jornal de Piracicaba, levado pelo diretor da escola, prof. Euclides de Oliveira Orsi. Guardava-o sob a cama onde eu dormia o que me propiciava ensejo para correr os olhos por aquelas páginas curiosas e sempre encontrava uma poesia para ler, daí talvez os meus primeiros arranques pelo prazer de ser poeta. Fui interno de um seminário religioso, onde era proibido fazer versos, mas eu desobedecia e traçava às escondidas meus sonetos. E um dia, por felicidade, fui parar nas oficinas redacionais daquele jornal paterno. E aí criei raízes, e aí minha poesia veio a lume, e tanta e tão importante foi que a Academia Piracicabana de Letras me “nomeou” Príncipe dos Poetas Piracicabanos.
25 anos de Jornal de Piracicaba, aposentadoria e saudade.
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Bom dia
Aqui em casa somos a quarta geração lendo o JP, diariamente! Um vício do bem que nos direciona e nos faz pensar sobre a nossa inserção neste mundo globalizado tão marcado pela tecnologia descartável.
As notícias fluem das páginas do JP e a nossa leitura percebe temas generalizados, mas, sinto que o JP está se tornando um jornal de classificados e anúncios publicitários, e, isto não é bom para o leitor cansado de ver e ouvir propagandas inseridas em vários lugares, por onde passa.
Ciente de que ouvem os seus leitores espero ler mais temas que toquem mais a humanidade do que a racionalidade dos nossos bolsos.
Família Costa, Oliveira e Jacobino
Páginas
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sábado, 30 de julho de 2011
quarta-feira, 27 de julho de 2011
As rendas de minha avó
Algumas das rendas |
Ivana Maria França de Negri
Não tive muito contato com minha avó materna, que faleceu quando eu contava apenas cinco anos de idade. Mas através de minha mãe, eu e minhas irmãs e irmão, ouvíamos atentos as sagas familiares que ela ouvira desde criança.
Minha avó aportou no Brasil, recém casada, vinda da Itália, aos dezoito anos. Nunca mais retornou ao seu país de origem que ficou guardado na memória e nas lembranças de infância.
Uma mulher muito bonita e determinada que enfrentou inúmeras dificuldades num país estranho, costumes e língua bem diferentes e a saudade que teve de amargar pelo resto da vida da sua terra natal.
Os filhos foram chegando. Treze ao todo, mas vingaram dez.
Quanto trabalho, peças para cozer, tachos de doces, compotas, roupas para lavar, engomar, num tempo de dinheiro escasso. Mesmo com tantas crianças para cuidar, ainda sobrava-lhe tempo para bordar, tricotar e fazer crochê
Naquela época não havia empregadas, nem eletrodomésticos. Tudo era feito manualmente e em casa. As frutas e verduras vinham diretamente da horta do quintal, orgulho do meu avô.
Na última gestação, que foi gemelar, teve um parto complicado, sendo que naquela época os partos eram feitos em casa por parteiras e sem recurso algum que não fosse a experiência delas. Devido a complicações, por causa de uma hemorragia, ficou com as pernas fracas. E por conta desse problema, minha avó ficava sentada a maior parte do tempo enquanto a filhas mais velhas ajudavam a cuidar dos mais novos.
Começou a fazer rendas de crochê. Tecia metros e metros de delicadas peças, utilizando agulhas e linhas bem fininhas.
Eram trabalhos lindíssimos que ela produzia sem parar. Fios entrelaçados habilmente e as rendas prontas eram enroladas em pedaços de papelão. Entre os muitos metros de rendas brancas, havia também as azuis, cor de rosas, amarelinhas, verdes, algumas mesclando mais de uma cor, num arco-íris de encher os olhos.
Repartia os rolos de renda entre as filhas prestes a se casar para que aplicassem nas peças do enxoval, toalhas de mesa, de banho, panos de pratos. E mais tarde, para enfeitar os cueiros e mantas dos bebês que iam chegando.
Outro dia, entre os guardados de minha mãe já falecida, encontrei uma caixa repleta de rendas que para ela, eram verdadeiros tesouros.
As de cor branca estavam amarelecidas pela ação do tempo e as coloridas, um tanto desbotadas. Coloquei as brancas de molho ao sol e voltaram à brancura original, e as de cor, tiveram seus tons reavivados.
Ainda não decidi onde vou aplicá-las. Penso que ficarão lindas nos vestidinhos das minhas netas, a quinta geração da família.
Enquanto admiro o trabalho perfeito, fico imaginando no que pensava minha avó enquanto tecia as rendas. Numa época em que não existiam distrações e nem televisão, as mãos se ocupavam enquanto os pensamentos voavam. No que pensaria minha avó?
A cada laçada, um suspiro, e o coração cheio de amor, apesar das dificuldades.
Momentos de dor, de felicidade, de saudade, todas as emoções afloradas e impregnadas nas tramas de cada peça, uma diferente da outra.
E eu revejo minha avó ora sorrindo, ora chorando, em seus metros e metros de sonhos tecidos à mão...
As tataranetas gêmeas usando vestidinhos com rendas de crochê feitas por ela |
texto publicado no Jornal de Piracicaba 27/07/2011
terça-feira, 26 de julho de 2011
A neta e o avô
Lucas Medeiros Raphael
Ao entrar em um ônibus muito cheio que estava indo para o centro da cidade, consegui me sentar e no caminho fui reparando nas pessoas que estavam lá dentro. Eram pessoas simples que estavam indo ou voltando do trabalho com um ar de cansaço intenso, segurando nas mãos sacolas ou mochilas.
Ao olhar na janela vi uma menina novinha de uns dez anos de idade acompanhada de um senhor, dando sinal para que o ônibus parasse .
Rapidamente subiu as escadas do ônibus e perguntou para o motorista educadamente:
- Senhor, esse ônibus passa no shopping? O motorista balançou a cabeça em sinal de sim. Então a menina segurou o braço do senhor e disse:
- Vamos, vô!
A menina era pequena mas já era bem esperta. Também demonstrava ser bem carinhosa com o senhor e depois de algum tempo a menina disse: - Vô já chegamos.
Rapidamente ela deu o sinal e segurou o braço do avô, os dois desceram a escada e foram a caminho do shopping. Fiquei admirado com aquela cena uma garota tão pequena cuidando de seu avô. Senti-me muito feliz em saber que ainda temos jovens que cuidam e respeitam seus idosos.
Ao entrar em um ônibus muito cheio que estava indo para o centro da cidade, consegui me sentar e no caminho fui reparando nas pessoas que estavam lá dentro. Eram pessoas simples que estavam indo ou voltando do trabalho com um ar de cansaço intenso, segurando nas mãos sacolas ou mochilas.
Ao olhar na janela vi uma menina novinha de uns dez anos de idade acompanhada de um senhor, dando sinal para que o ônibus parasse .
Rapidamente subiu as escadas do ônibus e perguntou para o motorista educadamente:
- Senhor, esse ônibus passa no shopping? O motorista balançou a cabeça em sinal de sim. Então a menina segurou o braço do senhor e disse:
- Vamos, vô!
A menina era pequena mas já era bem esperta. Também demonstrava ser bem carinhosa com o senhor e depois de algum tempo a menina disse: - Vô já chegamos.
Rapidamente ela deu o sinal e segurou o braço do avô, os dois desceram a escada e foram a caminho do shopping. Fiquei admirado com aquela cena uma garota tão pequena cuidando de seu avô. Senti-me muito feliz em saber que ainda temos jovens que cuidam e respeitam seus idosos.
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Dia do Escritor foi comemorado no Parque da Rua do Porto
domingo, 24 de julho de 2011
AOS AMIGOS ESCRITORES
Christina Aparecida Negro Silva (educadora, contadora de histórias e escritora)
Já me sentei umas pares de vezes na cadeira defronte deste computador que me serve para escrever as minhas homenagens aos caros amigos escritores, os quais ainda acompanham-me neste quase meio século de domínio desta linguagem fenomenal – a escrita ! Pareço a personagem de Clarice Lispector em “ Felicidade clandestina”, postergando o momento sentir-se feliz em ler o livro; no meu caso,de deixar sair as palavras que, insistentemente, gritam dentro de mim – diga-lhes o que sente, vamos, mãos à obra ! O que realmente sinto é uma profunda gratidão a todos eles e faço desta data – 25/07 – DIA DO ESCRITOR, uma simples e sincera crônica de agradecimento aos consagrados, aos conhecidos e aos desconhecidos escritores que fazem nossa vida mais alegre.
Gosto de ler, mas gosto ainda mais das pessoas que me fazem ler, que provocam em mim este desejo de adentrar às páginas dos mais diversos livros – literatura brasileira, universal, clássica, popular, best sellers , paradidáticos – enfim, todos e qualquer um, não tenho preconceitos, sou leitora ! Faço minhas as palavras de Daniel Pennac em “Como um romance” – o leitor tem o seu direito – se quiser continuar lendo, muito bem. Se não, fecha-se o livro e procura-se outro; fiz isso a vida inteira e não me arrependo, porque pude, com prazer, selecionar meus queridos amigos escritores.
Assim foi que comecei minha vida de leitora, emocionando-me com José Mauro de Vasconcellos em “Rosinha, minha canoa” e “ Meu pé de laranja lima” – quanto chorei, meu Deus !Ou devorando Monteiro Lobato, rindo do alter-ego “Emília”- irônica, debochada, autêntica. Na escola do século passado me foram apresentados: Machado de Assis e José de Alencar, também Camões e Fernando Pessoa e ainda (pasmem!) Shakespeare já no que hoje chamamos de ensino Fundamental II. Fiz uma amizade certeira com eles e para sempre.
Outros vieram engrossando a minha lista de amigos preferidos: Jorge Amado em “ Tenda dos Milagres” e todos os demais escritos sobre as fortes mulheres bem como o belo “Capitães da Areia”; Aluísio de Azevedo com sua franca e contundente linguagem; encantei-me com Érico Veríssimo em seu engraçado “ Incidente em Antares” ou com ele mesmo chorei em “ Olhai os lírios do campo” ou maravilhei-me com os outros livros das trilogias.
Fui, devagar e permanentemente, tornando-me uma leitora mais autônoma, sem necessitar das indicações de meus mestres de então; virei uma freqüentadora assídua da biblioteca municipal, a qual ficava no meio do caminho entre minha casa e escola, sentia-me privilegiada e pude conhecer Morris West, Agatha Christie, Sidney Sheldon e tantos outros escritores da literatura universal - Charles Dickens, Mark Twain, Dostoiévyski, Conan Doyle, Victor Hugo (pai e filho), Jane Austen e outros mais que minha memória me trai, não me recorda dos nomes dos amigos, mas lembra-me de algumas de suas obras – “ Fernão Capelo Gaivota”, “Amores sobre o Don” , “ “Uma folha na tempestade”, “ Dois pontos e uma reta” ( esse me fez virar a madrugada lendo ), “Anjos e demônios” ... deixo minha lista com reticências , mas cheia de remorsos por não conseguir lembrar-me deles, tão caros e especiais que comigo fizeram-se presentes.
Só poderia tornar-me o que sou: professora, de leitura e redação, pois com toda essa paixão pelos livros e seus homens e mulheres que os escreveram, pude mais tarde indicar ( também apreciar ) outras leituras : as crônicas de Luís Fernando Veríssimo – todas, sem exceção – são especiais com seu jeito peculiar de dizer e fazer-nos rir ou pensar. Também sou fã de carteirinha de Marina Colasanti que não só tenho o prazer de ler, como também especializei-me (pretensão ?!) em contar suas fascinantes e sinestésicas narrativas fantásticas. J.K.Rowling também me encantou, e com ela vi crescer os jovens personagens da série “ Harry Potter” no cinema também.
Para todos eles e aos mais recentes amigos : Ana Maria Machado, Samir Meserani, Ivan Jaff, Walcyr Carrasco, Lya Luft ..., e aos escritores e poetas amigos locais – Ivana Negri, Carmem Pilotto, Leda Coletti, Élder Santis, Carmelina de Toledo Pizza, Luzia Stocco, Camilo Quartarollo, Jaime Leitão, Maria Helena Corazza, Miriam M. Botelho, Alexandre Bragion, Ana Lúcia Paterniani, Eunice Verdi, Ana Marly Jacobino, Daniel, o declamador, aos alunos – escritores embrionários e aos muitos mais que espero ( ainda) conhecer, deixo registrados meus parabéns, juntamente com um GRANDE ABRAÇO. O MEU MUITO OBRIGADA por fazer meus momentos mais alegres e prazerosos na companhia de todos vocês.
texto publicado na TRIBUNA PIRACICABANA de 06/08/2011
sábado, 23 de julho de 2011
sexta-feira, 22 de julho de 2011
USOS E COSTUMES
Ludovico da Silva
Embora possa ser entendido como redundância o título que encima este texto, tendo em vista a repetição de termos com o mesmo significado, as considerações a seguir têm como objetivo focalizar comportamentos de muitas pessoas. Podem não ser comuns, mas chamam atenção porque se repetem no dia a dia e em ocasiões as mais variadas. A maior parte das vezes como absoluto respeito e outras automaticamente porque ensejam a continuidade que vem de gerações.
Relativamente ao respeito, nos tempos antigos os filhos pediam a bênção aos pais quando era hora de se recolher para o descanso da noite. E não se tratava apenas das crianças ainda em processo de preparação educativa. Os mais velhos, também, tinham o mesmo costume. Era ponto sagrado para a continuidade de respeito entre os familiares. Não era um compromisso puramente de rotina, em obediência à perpetuação que vinha dos antigos, mas sim um ato de profundo significado cristão.
Quantas pessoas costumam fazer o sinal da cruz na passagem em frente a uma capela! Claro, aprendizado de família católica, que transmite aos filhos o que significam as tradições religiosas. Já quando passam em frente a um campo santo é o respeito aos que ali descansam, um gesto de oração e saudade.
Observem o comportamento de atletas, sobretudo de futebol, quando assumem o compromisso à entrada de campo. Benzem-se com o sinal em nome do Pai, não sem antes tocar com a mão direita o gramado. É certo que muitos, como se tem ouvido, trata-se de um pedido para que tudo corra bem, ninguém se machuque, mas não se esquecem de que, naquele momento, o importante é ganhar o jogo, chegar à vitória, para sua satisfação e da torcida. O mesmo não acontece quando marcam um gol? Não repetem quando o perdem? O que fazem quando visitam as redes após longo jejum? Assumem aquele ato de tirar uma carga pesada dos ombros, que o dito popular chama de descarrego, mandando o azar para longe, deslizando as mãos de alto a baixo, dobrando o corpo em reverência a um personagem de sua devoção.
Entrando na apreciação de comportamentos populares, é comum pessoas que tomam refeições em restaurantes procurarem sempre as mesmas mesas, um costume fácil de se perceber. Inclusive, chegam mais cedo para não encontrar alguém menos avisado a tomar-lhes a reserva do assento. E se o encontram olham dos lados, ficam meio baratinados na procura de outro espaço.
Nos ofícios religiosos não é diferente. A capela pode estar com muitos bancos à disposição, mas o bom ou o certo é sentar-se sempre no mesmo lugar. Quando a velhinha encontrou sua área ocupada não teve dúvidas, pediu licença e discretamente afastou o intruso, convencendo-o de que aquele era o seu posto costumeiro de assistir à cerimônia.
Em estádios de futebol acontece o mesmo. O torcedor entra e a primeira atitude é fazer uma verificação nas cadeiras das arquibancadas ou mesmo nas escadarias de cimento armado. Ele sabe onde encontrar amigos dessas horas de lazer, para um bate-papo, enquanto não se inicia o jogo e depois, bem, depois, dependendo da situação, aplaude ou vaia.
Esta eu soube por ouvir dizer. Um cidadão, ferrenho defensor de suas práticas econômicas, tinha o costume de repartir palito de fósforo ao meio, para aproveitá-lo por duas vezes, embora isso se caracterize mais pela sovinice.
Precisava de uma técnica apurada, dado que, tão fino o palito, corria o risco de ferir-se com o objeto cortante. A não ser que tivesse em mãos um palito de fósforo de Itu. Enfim, usos e costumes que atravessam o tempo.
(Crônica publicada no Jornal de Piracicaba de 21/07/2011)
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Desrespeito
Gabriela Ramos Barros
Numa tarde quente havia um senhor passando pela rua, sua pele era enrugada usava uma bengala, suas roupas eram muito simples. O idoso andava lentamente pois suas pernas já não eram as mesmas e com isso os motoristas mantinham a paciência.
Chegando ao ponto de ônibus, as pessoas sentadas e o idoso em pé, mal aguentava as dores nas pernas. Havia várias pessoas esperando o ônibus e quando o senhor acenou o motorista passou reto.
Pegou então o próximo ônibus, que estava lotado. O motorista que dirigia não era educado. Os passageiros não davam lugar para o senhor sentar. Uma jovem muito educada vendo aquilo ofereceu seu lugar para o idoso que ficou muito grato com sua atitude.
Que tristeza em ver que não há respeito com os mais velhos, a sociedade não tem respeito nem uns com outros, tenho certeza de que seremos os idosos de amanhã
PEDRAS
Ivana Maria França de Negri
Famosa foi a pedra de Drummond, que por estar no caminho do poeta, imortalizou-se num poema.
Famosas também, as pedras da muralha da China e as sobrepostas nas Pirâmides do Egito. Entraram para a história.
Quantos segredos guardam as pedras, expulsas do magma terrestre, deslizando montanhas abaixo, há milhares de anos rolando com as ondas do mar.
Pedras nuas que rebrilham ao sol, pedras recobertas de lama, pedras dormentes no fundo dos oceanos. Pedras lápides velando os mortos, pedregulhos nas mãos das crianças em lúdicos folguedos, ou arremessadas contra pessoas e animais ferindo-os de morte.
Destinos diversos aguardam diferentes pedras. Adornando as mulheres quando são preciosas, na forma de jóias lapidadas, ou lançadas por certeiros estilingues alcançando a frágil vida em pleno voo.
E que atire a primeira quem nunca apedrejou o seu próximo com duras palavras, que machucam mais do que as próprias pedras.
Sabe-se que sobre a humanidade paira a sinistra profecia do final dos tempos, quando não sobrará pedra sobre pedra...
Famosa foi a pedra de Drummond, que por estar no caminho do poeta, imortalizou-se num poema.
Famosas também, as pedras da muralha da China e as sobrepostas nas Pirâmides do Egito. Entraram para a história.
Quantos segredos guardam as pedras, expulsas do magma terrestre, deslizando montanhas abaixo, há milhares de anos rolando com as ondas do mar.
Pedras nuas que rebrilham ao sol, pedras recobertas de lama, pedras dormentes no fundo dos oceanos. Pedras lápides velando os mortos, pedregulhos nas mãos das crianças em lúdicos folguedos, ou arremessadas contra pessoas e animais ferindo-os de morte.
Destinos diversos aguardam diferentes pedras. Adornando as mulheres quando são preciosas, na forma de jóias lapidadas, ou lançadas por certeiros estilingues alcançando a frágil vida em pleno voo.
E que atire a primeira quem nunca apedrejou o seu próximo com duras palavras, que machucam mais do que as próprias pedras.
Sabe-se que sobre a humanidade paira a sinistra profecia do final dos tempos, quando não sobrará pedra sobre pedra...
terça-feira, 19 de julho de 2011
Dia do Escritor - convite
No dia 25 de Julho comemora-se o Dia Nacional do Escritor.
Os grupos literários da cidade, Clip, Golp, Clube dos Escritores, Sarau Literário e Academia Piracicabana de Letras, participam de um evento, dia 24, domingo, no Parque da Rua do Porto junto ao ônibus da Biblioteca Municipal.
Haverá varal de textos e poesias, doação de livros, sacolinhas de poemas, declamação, contação de histórias, apresentações musicais entre outras atividades a partir das 9h.
Os grupos literários da cidade, Clip, Golp, Clube dos Escritores, Sarau Literário e Academia Piracicabana de Letras, participam de um evento, dia 24, domingo, no Parque da Rua do Porto junto ao ônibus da Biblioteca Municipal.
Haverá varal de textos e poesias, doação de livros, sacolinhas de poemas, declamação, contação de histórias, apresentações musicais entre outras atividades a partir das 9h.
Dia do Escritor 2010 |
segunda-feira, 18 de julho de 2011
O RÁDIO SOBREVIVE
Pedro Israel Novaes de Almeida
Apesar de centenário, o rádio continua sendo o mais popular meio de comunicação.
Sua principal virtude é acompanhar o dono, no quintal, serviço, veículo e até em estádios de futebol, não exigindo a atenção dos olhos, só dos ouvidos. O rádio só perde o encanto quando ligado pelo pedreiro da obra vizinha, ou animando o carro de surdos.
Irradiam músicas e notícias, veiculam avisos oficiais, entrevistam, fazem fofocas e comentam a política e feitos locais. São, todos, políticos, por ação ou omissão.
Grande parte das emissoras pertence a políticos, feudos familiares ou religiões, com poderes para erigir ou demolir mitos, engrandecer ou apequenar imagens, fustigar ou paparicar autoridades. São inegáveis formadores de opinião.
Antigamente, mas já na era da pedra polida, as rádios produziam e transmitiam novelas, verdadeiras obras-primas, pois atraiam audiência e emocionavam montando cenas à base de falas, músicas e sons ambientes.
Para muitos ouvintes, o rádio substitui o relógio, pois a hora é informada a curtos intervalos de tempo. Radialistas ficam famosos pela voz, e poucos são reconhecidos, quando calados.
As rádios são eficazes meios de veiculação publicitária, imbatíveis no meio rural. Pela manhãzinha e ao entardecer, são comuns as músicas sertanejas, notícias e rezas.
Não raro, atropelam o vernáculo, eternizando erros de linguagem e caminhando na contra-mão do ensino de português. Legisladores já cogitaram de estipular multas, a cada erro cometido por profissional do rádio.
No Brasil, as rádios constituem concessões públicas, de nítido direcionamento político, sendo pequeno o número de emissoras comunitárias, título que não garante isenção partidária. Nas renovações, nenhuma sondagem é feita junto à população ouvinte.
Quando direcionadas ao sucesso ou insucesso de grupos políticos, as emissoras tornam-se tendenciosas, com versões e destaques que tentam direcionar a opinião pública. As demandas judiciais decorrentes de inverdades, manipulações aéticas, ofensas à honra alheia, etc., decorrentes da condução indevida de emissoras, deveriam ser noticiadas aos órgãos competentes, para análise quando da renovação de concessões.
O caráter privado das rádios não as exime de seus deveres éticos e constitucionais, pouco exigidos. Possuem função social, informativa e cultural, com entretenimento.
Perante o caos e omissão oficial que ronda o setor, a opção do ouvinte é penalizar, enquanto consumidor, os patrocinadores comerciais de programas aéticos, e, enquanto eleitor, os políticos que permitem ou cometem os atentados ao bom senso e à verdade dos fatos.
Apesar dos pesares, o rádio continua sendo útil à população, principalmente quando informa com isenção e cultua valores e iniciativas meritórias. Quanto maior o número de concessões, maior o estímulo à qualidade dos conteúdos.
Apesar de centenário, o rádio continua sendo o mais popular meio de comunicação.
Sua principal virtude é acompanhar o dono, no quintal, serviço, veículo e até em estádios de futebol, não exigindo a atenção dos olhos, só dos ouvidos. O rádio só perde o encanto quando ligado pelo pedreiro da obra vizinha, ou animando o carro de surdos.
Irradiam músicas e notícias, veiculam avisos oficiais, entrevistam, fazem fofocas e comentam a política e feitos locais. São, todos, políticos, por ação ou omissão.
Grande parte das emissoras pertence a políticos, feudos familiares ou religiões, com poderes para erigir ou demolir mitos, engrandecer ou apequenar imagens, fustigar ou paparicar autoridades. São inegáveis formadores de opinião.
Antigamente, mas já na era da pedra polida, as rádios produziam e transmitiam novelas, verdadeiras obras-primas, pois atraiam audiência e emocionavam montando cenas à base de falas, músicas e sons ambientes.
Para muitos ouvintes, o rádio substitui o relógio, pois a hora é informada a curtos intervalos de tempo. Radialistas ficam famosos pela voz, e poucos são reconhecidos, quando calados.
As rádios são eficazes meios de veiculação publicitária, imbatíveis no meio rural. Pela manhãzinha e ao entardecer, são comuns as músicas sertanejas, notícias e rezas.
Não raro, atropelam o vernáculo, eternizando erros de linguagem e caminhando na contra-mão do ensino de português. Legisladores já cogitaram de estipular multas, a cada erro cometido por profissional do rádio.
No Brasil, as rádios constituem concessões públicas, de nítido direcionamento político, sendo pequeno o número de emissoras comunitárias, título que não garante isenção partidária. Nas renovações, nenhuma sondagem é feita junto à população ouvinte.
Quando direcionadas ao sucesso ou insucesso de grupos políticos, as emissoras tornam-se tendenciosas, com versões e destaques que tentam direcionar a opinião pública. As demandas judiciais decorrentes de inverdades, manipulações aéticas, ofensas à honra alheia, etc., decorrentes da condução indevida de emissoras, deveriam ser noticiadas aos órgãos competentes, para análise quando da renovação de concessões.
O caráter privado das rádios não as exime de seus deveres éticos e constitucionais, pouco exigidos. Possuem função social, informativa e cultural, com entretenimento.
Perante o caos e omissão oficial que ronda o setor, a opção do ouvinte é penalizar, enquanto consumidor, os patrocinadores comerciais de programas aéticos, e, enquanto eleitor, os políticos que permitem ou cometem os atentados ao bom senso e à verdade dos fatos.
Apesar dos pesares, o rádio continua sendo útil à população, principalmente quando informa com isenção e cultua valores e iniciativas meritórias. Quanto maior o número de concessões, maior o estímulo à qualidade dos conteúdos.
sábado, 16 de julho de 2011
"À MESTRA COM CARINHO"
Richard Mathenhauer
Alguém disse que na vida “existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.” Feliz de quem teve a vivência de tais momentos, a experiência de tais coisas e a felicidade de encontrar pessoas especiais. Porque, num dado momento da nossa vida sentamo-nos numa pedra imaginária de um caminho imaginário e colocamo-nos a rememorar o percurso feito, e que coisa gratificante reconhecer que em meio a tantos percalços (que são partes indissolúveis da condição de caminhante) há do que se recordar com saudade, que é “o passar e repassar das memórias”, um momento, algo, um alguém.
Com essa introdução e seus perdoáveis defeitos, compartilho com muitos dos meus colegas a homenagem de sinceros sentimentos de gratidão e admiração à pessoa de minha ex-professora Dona Wilma Rosa Limongi, com quem tive o privilégio de conviver por quatro anos, e de quem recebi não apenas o que o ofício do magistério oferecia, mas o carinho amigo, e por que não, tão próximo do maternal. Tempos diferentes aos de hoje; tempos em que existia um vínculo maior entre aluno e professor, e professor tinha uma áurea que me parece desgastada hoje por ação das mudanças tão rápidas que na vida se operam.
Apropriando-me e ligeiramente modificando as palavras de Álvaro de Campos, “conheci a minha mestra Dona Wilma em circunstâncias excepcionais – como todas as circunstâncias da vida, e sobretudo as que, não sendo nada em si mesmas, hão de vir a ser tudo nos resultados.” Egresso da escola Barão de Serra Negra e indo para a Escola Professor Augusto Elias Salles, onde, então, conheci Dona Wilma, fui um dos seus tantos alunos que certamente dela se lembram a paciência própria de quem fazia do trabalho um sacerdócio, o explicar e reexplicar, a atenção a cada um indistintamente, a elegância na sua postura, a calma nas suas explanações, o carinho no trato, o sorriso inspirador de confiança e sinceridade, a assiduidade ao trabalho, a simplicidade apesar de suas origens. (Filha de Rosa Marino Limongi e de Paschoal Limongi, pertencente a uma das famílias importantes que contribuíram para a formação econômica e histórica de nossa cidade).
Quando descansava o livro, contava de suas viagens, do seu gosto pela música (dizia com evidente modéstia típica de sua formação, “tocar um pouco de piano”), chegava a cantarolar trecho de La Marseillaise : “Allons enfants de la Patrie / Le jour de gloire es arrivé...” (aprendida nos seus tempos de estudante) e que nunca terminava, rindo numa timidez certamente ao trazer dentro de si lembranças de sua juventude estudantil. (Ainda guardo as moedas estrangeiras que me presenteava quando tirava boas notas e que hoje já não tem valor venal, devido às mudanças na economia européia, mas que são como memórias tangíveis de uma generosidade inconfundível de quem cativava, não pelo que dava, mas pelo que oferecia e como oferecia: as oportunidades, pela Educação, de sermos homens e mulheres de bem). Eram estas ocasiões que particularmente a mim foram a construção dos tais momentos inesquecíveis, das lembranças firmemente cravadas no Coração vindas dessa Mestra como tão poucas hoje existem – se existem -, e que apesar da curta duração se comparada à extensão da vida, foi intensa em sua duração: “circunstâncias que viriam a ser tudo nos resultados”, como disse o poeta.
Nesta semana (15/07) em que a querida Mestra completa seus 77 anos de vida, grande parte dedicada ao Magistério (aposentou-se em 1994), deixo garatujada a minha homenagem de eterno aluno no Mundo das Boas Recordações, quando me vejo sentado numa pedra imaginária de um caminho imaginário...
Alguém disse que na vida “existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.” Feliz de quem teve a vivência de tais momentos, a experiência de tais coisas e a felicidade de encontrar pessoas especiais. Porque, num dado momento da nossa vida sentamo-nos numa pedra imaginária de um caminho imaginário e colocamo-nos a rememorar o percurso feito, e que coisa gratificante reconhecer que em meio a tantos percalços (que são partes indissolúveis da condição de caminhante) há do que se recordar com saudade, que é “o passar e repassar das memórias”, um momento, algo, um alguém.
Com essa introdução e seus perdoáveis defeitos, compartilho com muitos dos meus colegas a homenagem de sinceros sentimentos de gratidão e admiração à pessoa de minha ex-professora Dona Wilma Rosa Limongi, com quem tive o privilégio de conviver por quatro anos, e de quem recebi não apenas o que o ofício do magistério oferecia, mas o carinho amigo, e por que não, tão próximo do maternal. Tempos diferentes aos de hoje; tempos em que existia um vínculo maior entre aluno e professor, e professor tinha uma áurea que me parece desgastada hoje por ação das mudanças tão rápidas que na vida se operam.
Apropriando-me e ligeiramente modificando as palavras de Álvaro de Campos, “conheci a minha mestra Dona Wilma em circunstâncias excepcionais – como todas as circunstâncias da vida, e sobretudo as que, não sendo nada em si mesmas, hão de vir a ser tudo nos resultados.” Egresso da escola Barão de Serra Negra e indo para a Escola Professor Augusto Elias Salles, onde, então, conheci Dona Wilma, fui um dos seus tantos alunos que certamente dela se lembram a paciência própria de quem fazia do trabalho um sacerdócio, o explicar e reexplicar, a atenção a cada um indistintamente, a elegância na sua postura, a calma nas suas explanações, o carinho no trato, o sorriso inspirador de confiança e sinceridade, a assiduidade ao trabalho, a simplicidade apesar de suas origens. (Filha de Rosa Marino Limongi e de Paschoal Limongi, pertencente a uma das famílias importantes que contribuíram para a formação econômica e histórica de nossa cidade).
Quando descansava o livro, contava de suas viagens, do seu gosto pela música (dizia com evidente modéstia típica de sua formação, “tocar um pouco de piano”), chegava a cantarolar trecho de La Marseillaise : “Allons enfants de la Patrie / Le jour de gloire es arrivé...” (aprendida nos seus tempos de estudante) e que nunca terminava, rindo numa timidez certamente ao trazer dentro de si lembranças de sua juventude estudantil. (Ainda guardo as moedas estrangeiras que me presenteava quando tirava boas notas e que hoje já não tem valor venal, devido às mudanças na economia européia, mas que são como memórias tangíveis de uma generosidade inconfundível de quem cativava, não pelo que dava, mas pelo que oferecia e como oferecia: as oportunidades, pela Educação, de sermos homens e mulheres de bem). Eram estas ocasiões que particularmente a mim foram a construção dos tais momentos inesquecíveis, das lembranças firmemente cravadas no Coração vindas dessa Mestra como tão poucas hoje existem – se existem -, e que apesar da curta duração se comparada à extensão da vida, foi intensa em sua duração: “circunstâncias que viriam a ser tudo nos resultados”, como disse o poeta.
Nesta semana (15/07) em que a querida Mestra completa seus 77 anos de vida, grande parte dedicada ao Magistério (aposentou-se em 1994), deixo garatujada a minha homenagem de eterno aluno no Mundo das Boas Recordações, quando me vejo sentado numa pedra imaginária de um caminho imaginário...
quinta-feira, 14 de julho de 2011
O TERCEIRO OLHO
A velha senhora, hoje com seus oitenta anos, estava com uma solidão e depressão muito grandes.
Durante toda vida tivera esse incômodo, mas conforme a idade foi avançando, o processo foi avançando. Quando jovem, entretida com os estudos, namoro, na explosão dos hormônios, pouco sentia, somente às vezes, quando ficava só. Nesse caso, ligava o rádio e se distraia com as canções românticas.
Já mulher feita, ainda se entretinha com os filhos, cuidando do marido e deixando sempre a televisão ligada, disfarçava sua depressão.
O horror de estar só piorou muito quando os filhos alçaram voo para a vida e o marido para o céu. Não queria mais sair de casa, vivia deitada e se imaginava na mais completa solidão e escuridão, como que presa num caixão, com o ar já rareando.
Vez ou outra, ligava a televisão e num momento iluminado, viu parte de uma novela que ocorria na Índia. Ficou curiosa para saber o que significava aquele ponto entre os olhos dos artistas travestidos em indianos. Procurou a velha e empoeirada Enciclopédia Britânica, há muito não manuseada. Leu que aquilo significava a terceira visão, o olho da alma.
Deitada no travesseiro alto, vencida pelo sono, o velho livro caiu de suas mãos. Sonhou que via o mundo através dos olhos da alma.
Viu uma cidade brilhante e seres belíssimos, leves e luminosos que pareciam flutuar quando se locomoviam. Todos sorriam alegres. Lá não havia pobreza, ladrões, fome, políticos corruptos, ninguém precisava reivindicar seus direitos, pois todos cumpriam seus deveres.
Ela se viu feliz entre os felizes.
À sua frente notou um grande muro com dois pequenos orifícios, escrito embaixo: Espie aqui e veja com os olhos do corpo.
Quando olhou abaixo de si, abriu-se um bueiro escuro no qual caiu uma longa queda. Quando parou, viu-se novamente deitada em sua cama. Abriu os olhos físicos, mas procurou ver tudo e todos com os olhos da alma.
Sua velha cadela de pelos ralos e sem dentes entrou no quarto. Achou-a linda.
Quando sua acompanhante chegou, confundiu-a com um anjo.
Na visita semanal da nora, achou-a a melhor mulher do mundo.
Aprendeu a ver com a terceira visão, a da alma, e seu mundo transformou-se em paraíso, sua solidão e tristeza terminaram.
Anos mais tarde, quando foi colocada no caixão, viu-o como se fosse a carruagem da cinderela que iria levá-la de volta ao seu príncipe encantado.
quarta-feira, 13 de julho de 2011
O canto do galo
Ouvindo a leitura do texto “O galo”, de Rubem Alves, evoquei passagens de minha infância e de outras pessoas, que também conviveram em ambiente campesino.
Era uma festa ficar, à tardinha, vendo a volta dos colonos, após mais um dia de trabalho, com as carroças cheias de capim verde ou ponta de cana para os animais; outros, com enxadas e facões, vestidos com trajes de tecido grosso, grandes chapéus de palha, luvas nas mãos, na época do corte da cana.
Prolongava o meu passeio, para ver e ouvir o cacarejar das galinhas, na hora de se acomodarem nos galinheiros e nos poleiros, por elas improvisados nos galhos das árvores. Nos meus cinco anos, não entendia como conseguiam dormir tão desajeitadamente. Imaginava que o galo de penas de um marrom avermelhado, sempre cantando e fazendo a corte para um grande número de galinhas, durante o dia, as velaria no sono noturno, tal como o rei bondoso de uma história que me contaram. Este sim velava pelos seus súditos.Quantas vezes corri em companhia de minha mãe, para acudir as galinhas caipiras (de um vermelho bronzeado), as suas “queridas popocas”, com as quais ela conversava! Elas, e também o galo, quando assustados emitiam o que chamávamos de canto de guerra. Foi num desses alvoroços que meu pai foi verificar o que havia de estranho, e a cobra jararacuçu o picou.
Mas, esquecendo esse lado do galo, de líder mandão, tenho saudade do seu canto, muitas vezes até estridente, que me acordava e avisava que a aurora chegara. Os tempos são outros e não ouço mais seu canto, principalmente na paisagem urbana. Chego a desejar, ser de novo despertada por ele. Dá até para repetir aquele jargão popular: “A gente era feliz e não sabia.”
Ao escrever sobre esses galináceos, que tanto marcaram minha infância e juventude, lembrei-me da querida amiga escritora, Virgínia Prata Gregolim, que também teve grande parte de sua vida em ambiente rural, e descreveu-o poeticamente, em seu livro “O canto do galo preto”. Ele foi o símbolo dos dias áureos de sua trajetória nesse Planeta-Terra.
Quanta lembrança boa o canto do galo nos traz!
P.S. Coincidentemente, escrevi esse texto próximo da data de natalício de Virgínia: dia 20 de setembro. Cara amiga, na paz divina, receba o carinho de todos os amigos escritores.
terça-feira, 12 de julho de 2011
Gerações
Pedro Israel Novaes de Almeida
O incremento das comunicações e a longevidade humana tornaram mais intenso o convívio entre diferentes gerações.
Não é fácil a coexistência entre pessoas criadas e formadas em ambientes de costumes e valores tão diferenciados, com idades que chegam à diferença de oitenta anos.
Um pai, nascido nos anos cinquenta, fica inconsolável quando a filha telefona, avisando que vai pernoitar na casa do namorado, cujos pais viajaram. Se o telefonema fosse do filho, ficaria orgulhoso.
Os de média ou adiantada idade sentem calafrios perante piercings, e têm a incômoda sensação de marginalidade, perante qualquer tatuagem. Civilizadamente, não manifestam qualquer estranheza, só comentada no ambiente familiar.
Aos idosos é estranho o fato de pessoas passarem horas e horas perante o computador, conversando à distância ou por códigos indecifráveis. Também lhes parece estranho o silêncio familiar, durante as novelas ou noticiários da TV.
Os idosos, que passaram a infância e juventude jantando, sentem saudades das sopas, agora substituídas por lanches. Também estranham as praças, hoje meros atalhos, sem crianças, rodas de conversa e coreto.
Aos jovens, a vida de antigamente mais parecia uma aventura, sem qualquer protetor solar, alimentos sem data de validade e tênis sem solados especiais. A TV era um festival de chuviscos e chiados, e o rádio repercutia raios e trovões.
A inovação que os veteranos aplaudem é a emancipação feminina, embora não vejam com bons olhos o marido cozinhando e lavando roupas, enquanto a mulher provê o orçamento familiar.
Os idosos parecem acreditar na enganosa sensação de que suas gerações liam mais, e haviam mais poetas e literatos. Na verdade, as novas gerações são mais informadas e cultas, e, em outro estilo, igualmente românticas.
Pouco mudou, ao longo dos anos, o desinteresse pela política e a aversão aos políticos. Gerações intermediárias, hoje na faixa dos 50 aos 70 anos, experimentaram momentos de grandes manifestações populares, quando das lutas pela liberdade de expressão e democracia.
As novas gerações contam com as redes sociais, que rompem quaisquer barreiras geográficas ou políticas, eliminando censuras e criando um poder que ultrapassa mídias e governos, movendo massas e distribuindo idéias. As gerações anteriores padeciam de comunicações lentas, truncadas, e, não raro, pouco ilustradas.
As inovações tecnológicas não geram conflitos entre gerações. Os pontos de discórdia, que dificultam o entendimento, resultam de desrespeitos a valores culturais e morais, que resistem ao passar do tempo e aos progressos sociais materiais.
As gerações de outrora não conseguem conviver com o avanço das drogas, a banalização do sexo, a violência que restringe a liberdade de ir e vir, a superficialidade dos relacionamentos, a selvageria das concorrências e a supremacia das minorias. Estão certas.
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Viveiro Divino
desenho a lápis de Geraldo Victorino de França Júnior |
Maria de Lourdes Piedade Sodero Martins
Pássaros festivos voam e gorjeiam num vai e vem colorido em uma estratégica esquina próxima à minha casa. São dezenas, ou melhor, são centenas de pássaros bailarinos e cantantes, das mais variadas espécies e tamanhos que se cruzam, sem parar, em constante agitação a disputar o espaço paradisíaco, arquitetado graciosamente para o dia-a-dia da vida que lhes foi concedida.
Trata-se de um mirante circular, alicerçado em engenhoso e belo jardim, solidamente projetado entre vielas arborizadas, sempre floridas, que margeiam a elegante e convidativa residência da querida amiga. Em todas as direções há ângulos surpreendentes, arrematados com espécies comuns e raras de plantas e flores em proporções e cores das mais tocantes.
Aliás, tudo naquele recanto sutil e maravilhoso convida a momentos especiais, todas as criaturas que por ventura visitam o local: os pássaros livres em contagiante contentamento e nós, naturalmente a observá-los, usufruindo do mesmo espaço que enleva e acalma. Ali é possível se permanecer num encantamento inexplicável, com direito a um descanso total de alma, de espírito...
Farto banquete é oferecido três vezes ao dia, incluindo a hospedagem e banhos carinhosamente preparados. São alimentados, ali, bandos intermináveis de residentes fixos e aqueles que num voo acidental ou de passagem acabam por descobrir a hospedagem do amor. Sabiás atentos, bem-te-vis a cantar e bater asas em rítmo melodioso, quero-queros, periquitos, tuins, rolinhas, andorinhas, tais quais notas musicais a enfeitar a pauta do poste à frente, dourados canários a exibir a presente liberdade, e os pardais, barulhentos caipiras benvindos. Pintassilgos ligeiros, da mata, do campo ou do brejo? Não importa, quantos ou quais, todos em rítmo acelerado se misturam e se entendem. Uns cantam aqui, outros respondem ali; há os que se banham nas bacias dispostas na mureta circular, enquanto outros sedentos e apressadinhos disputam
com os lindíssimos beija-flores a água açucarada das flores dos bebedouros. Estes, pendurados estratégica e harmoniosamente entre arbustos floridos, gerâneos, samambaias lisas, crespas ou rendadas, trepadeiras no auge da floração.
São tantos os vasos que embalam as avezinhas; muitas copas jeitosas e macias as convidam à construção de ninhos para a formação da família e a segurança dos seus filhotes.
Toda essa história mais parece um sonho, uma invenção poética, talvez... Mas acreditem, é a mais pura verdade. Tenho visitado tal recanto ao qual denominei: Viveiro Divino!
sábado, 9 de julho de 2011
quinta-feira, 7 de julho de 2011
SAUDADE...
Maria Cecilia Graner Fessel
Essa amiga chegou-me numa tarde fria, chuvosa, após uma grande tempestade. Impossível não fazê-la entrar e enxugar-se, embora não a conhecêssemos, pois assim nos manda a caridade e ordenou-nos o coração. Criou-se assim um sentimento firme de amizade, de conforto mútuo, de afinidades.
Não que fosse uma personalidade de trato fácil, isso não. Exigente em suas necessidades, queria ser atendida imediatamente quando nos encontrávamos, e insistia até conseguir o que queria. Se tudo não fosse como desejava, virava-me as costas e ia emburrar no sofá ou no cadeirão da sala. Onde, então, não admitia ser incomodada.
Mas gostava de brincar, de exibir-se, de mostrar como era superior. Adorava embrulhar-se em grandes lenços coloridos e transparentes onde, a salvo, nos provocava a tocá-la. Aí, então, fugia, defendia-se com unhas e dentes, até que os panos escorregassem de seu corpo e ela se visse exposta, toda sem graça.
Ao se alimentar, o leite tinha que estar na temperatura certa, sempre morno, que ela não gostava de surpresas: se frio, ali sentada, olhava-me com ar aborrecido a dizer-me: “Ainda não aprendeste?!” Detestava cação , mas apreciava muito um abadejo sem gordura . Não era amiga de doces, porém fazia escândalo para que repartisse com ela um pote de danone, de preferência de morango.
Igual a qualquer um de nós, achava um insulto ser ignorada numa reunião, passeando entre os presentes até ser notada e elogiada. No entanto, percebia quando eu estava triste ou angustiada sem que eu lhe dissesse nada, e vinha ficar ao meu lado, fixando-me em silêncio, para que eu sentisse que não estava só em minha preocupação.
Certa noite, indisposta, ajeitou-se em sua cadeira predileta e nunca mais acordou.
Mas impregnou tanto nossa vida, que volta e meia falamos dela, e ainda a vemos passear às vezes pela casa, uma sombra silenciosa e pacífica, nossa velha gata Mila...
quarta-feira, 6 de julho de 2011
ILUSÃO SENIL
Carmen M.S.F.Pilotto
(miniconto)
Lavo o rosto sem me fixar no espelho. Vã tentativa de não ver os vincos da face. A velha ilusão de que o quê não é visto não é lembrado. As rugas no coração não têm solução, bradam sua dor na insônia da noite...
terça-feira, 5 de julho de 2011
Família, filhos, netos e bisnetos...
Maria MadalenaTricânico de Carvalho Silveira
Domingo, dia de almoço em família na casa da matriarca, onde a família de quatro gerações se reunia e mesmo que alguém estivesse viajando, sempre havia no mínimo 15 pessoas.
Enquanto saboreavam a sobremesa, a Bisa prestava atenção na conversa dos quatros bisnetos, sendo que o mais novo tinha apenas 5 anos, mas não perdia uma informação sobre os livros que os primos pré-adolescentes estavam lendo. A Bisa tinha mais duas netas, mas estas já estavam na faculdade.
– Por que essas crianças não lêem livros mais interessantes?
– Como livros mais interessantes? perguntaram a filha e a neta, que também já eram mães e pedagogas de formação acadêmica.
– Vocês não lêem antes os livros que eles estão lendo?
– Mãe, eu fiz isso porque aprendi com você, mas quem tem de fazer isso são meus filhos que agora são os pais – respondeu a primogênita que também é avó.
– Fico feliz quando eles me pedem para comprar livros, nas idas ao shopping, mas sempre querem os que estão na lista dos mais vendidos.
– Ultimamente o Enrico e o Augusto me pediram os quatros livros que estão nos primeiros lugares de vendagem.
– Não me fale que são daquele feiticeiro mirim que, além dos livros, tem também os filmes. Ele incentiva as crianças a saírem voando em cima de vassouras ou são foguetes de fabricação caseira? Não entendo muito bem porque sou do começo do século passado, de 1917, se não me engano...
– Bisa, agora que todo mundo foi embora o que você está aí matutando?
– Nada não. Estava pensando como seria bom se as crianças ouvissem histórias como o “Ninho do tico-tico” no dia das aves, dia da árvore e outras histórias mais. Não sou contra que leiam os modernos, mas, conhecendo o passado iam se divertir muito com a literatura e as fantasias de seus antepassados.
– Lembro-me muito bem de quando todos ficavam em volta do meu pai para ouvi-lo contar histórias de assombração, dos ventos nos canaviais, das frutas que voavam das árvores em cima de nossas cabeças, e nós nem desconfiávamos que eram macaquinhos no meio das folhagens.
No domingo seguinte, depois do almoço, a família estava reunida na varanda e deu um pé de vento formando um rodamoinho bem no meio do quintal. A Bisa levantou-se bem depressa da sua cadeira e chamou os bisnetos para ver que, no meio do rodamoinho, tinha um saci pererê com seu cachimbo na boca, sua calça vermelha com uma alça só e pulando, pulando. Ah! tinha também um gorro vermelho na cabeça.
Foi um delírio geral! Como a discrição da Bisa aguçou a imaginação de todos, alguns chegaram a jurar que tinham visto o saci e outros tentavam a todo custo vê-lo.
Augusto então gritou:
– Vó, eu vi, é igualzinho daquele livro de folclore que você trouxe da Flip de Parati, não é?
– Só falta você falar que ele veio de skate – retrucou o José.
– De patinete que não podia ser, né. Ele só tem uma perna, falou Maria com toda sua sabedoria de nove anos.
E com isso, a Bisa saiu de mansinho e foi buscar os livros de Monterio Lobato, enquanto as crianças iam se aninhando em sua volta.
domingo, 3 de julho de 2011
Letras & Rimas agora no JP Digital
A Letras & Rimas passa a ser publicada apenas na versão digital do Jornal de Piracicaba e não mais na versão impressa.
Agradeço a todos os colaboradores que me enviaram suas poesias e textos nestes quase 5 anos.
LETRAS E RIMAS VIRTUAL
Agradeço a todos os colaboradores que me enviaram suas poesias e textos nestes quase 5 anos.
LETRAS E RIMAS VIRTUAL
sábado, 2 de julho de 2011
sexta-feira, 1 de julho de 2011
FESTAS CAIPIRAS
Pedro Israel Novaes de Almeida
Referidas como juninas, as festas caipiras acontecem também em julho, e constituem uma preciosidade de nossa cultura.
Apesar de reverenciarem os santos Pedro, Antonio e João, são eventos pouco religiosos, unindo fiéis e infiéis de todos os credos. Católicos, protestantes, espíritas e até petistas varam a noite, alegremente.
Cabe a Santo Antonio a mais difícil e espinhosa das missões, socorrendo as solitárias e esperançosas donzelas, cujo confinamento rural limita a convivência com possíveis pretendentes. Para ajudar o santo, estimular e desinibir os novatos, nada melhor que vestidos coloridíssimos e demonstração de dotes culinários, além de muito quentão e música ligeira, que judia das solados das botinas. Dizem que o santo só interfere em uniões heterossexuais.
Pé-de-moleque, assados, cuscuz, doce de batata, pipoca, curau, pamonha, torresmo, bolo de fubá, geléia de pinga e tantas outras guloseimas nascem de ingredientes locais, sem qualquer aditivo químico. A fogueira, presença obrigatória, é uma exigência do frio da época.
O foguetório, com seus rojões e buscapés, é tido como uma forma de anunciar a festança, mas cientistas desconfiam que seu criador tencionava espantar os cachorros da vizinhança. Os balões, que outrora enfeitavam o céu, acabaram banidos, por justa proibição legal.
O ambiente é sempre familiar, e lembra, às novas gerações, a origem rural da imensa maioria das famílias brasileiras, que orgulhosamente ostentam a condição de caipiras. No burburinho ensurdecedor das baladas, ou coletivo solitário das internets, é útil a lembrança de que temos, todos, um pé no barro.
Enquanto as mulheres disputam estampas e cores, homens invariavelmente trajam xadrez, dificultando a venda de tal padrão, na zona urbana. Quando é dito que alguém foi ao xadrez, o entendimento é de que está preso ou em alguma festa junina.
Nas festas, o correio elegante é concorridíssimo. Muitas vezes, o arrecadador faz as vezes de linda donzela, estimulando os trouxas à curiosidade e resposta. Espertalhões exigem recadinhos com foto e localização da interessada. É arriscado marcar encontros, sem saber que figura encontrará.
São divertidos os paus-de-sebo, que mais parecem centros de treinamento para quem deseja ser, no futuro, bancário ou professor. No correr sobre brasas, qualquer queimadinha demonstra falta de fé, ou pés pouco calejados.
As quadrilhas divertem e animam, mas só são aplaudidas nas festas caipiras. Em outras ocasiões, acabam perseguidas pela polícia. Existem quadrilhas urbanas que não trajam xadrez, por todo o país, até na novata Brasília.
Ainda que estudiosos e pesquisadores identifiquem origens estrangeiras as mais diversas, para as festas juninas, elas continuam, brasileiríssimas, mantendo a memória de um estilo de vida e valores que devemos preservar.