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sábado, 16 de julho de 2011

"À MESTRA COM CARINHO"

Richard Mathenhauer

Alguém disse que na vida “existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.” Feliz de quem teve a vivência de tais momentos, a experiência de tais coisas e a felicidade de encontrar pessoas especiais. Porque, num dado momento da nossa vida sentamo-nos numa pedra imaginária de um caminho imaginário e colocamo-nos a rememorar o percurso feito, e que coisa gratificante reconhecer que em meio a tantos percalços (que são partes indissolúveis da condição de caminhante) há do que se recordar com saudade, que é “o passar e repassar das memórias”, um momento, algo, um alguém.

Com essa introdução e seus perdoáveis defeitos, compartilho com muitos dos meus colegas a homenagem de sinceros sentimentos de gratidão e admiração à pessoa de minha ex-professora Dona Wilma Rosa Limongi, com quem tive o privilégio de conviver por quatro anos, e de quem recebi não apenas o que o ofício do magistério oferecia, mas o carinho amigo, e por que não, tão próximo do maternal. Tempos diferentes aos de hoje; tempos em que existia um vínculo maior entre aluno e professor, e professor tinha uma áurea que me parece desgastada hoje por ação das mudanças tão rápidas que na vida se operam.

Apropriando-me e ligeiramente modificando as palavras de Álvaro de Campos, “conheci a minha mestra Dona Wilma em circunstâncias excepcionais – como todas as circunstâncias da vida, e sobretudo as que, não sendo nada em si mesmas, hão de vir a ser tudo nos resultados.” Egresso da escola Barão de Serra Negra e indo para a Escola Professor Augusto Elias Salles, onde, então, conheci Dona Wilma, fui um dos seus tantos alunos que certamente dela se lembram a paciência própria de quem fazia do trabalho um sacerdócio, o explicar e reexplicar, a atenção a cada um indistintamente, a elegância na sua postura, a calma nas suas explanações, o carinho no trato, o sorriso inspirador de confiança e sinceridade, a assiduidade ao trabalho, a simplicidade apesar de suas origens. (Filha de Rosa Marino Limongi e de Paschoal Limongi, pertencente a uma das famílias importantes que contribuíram para a formação econômica e histórica de nossa cidade).

Quando descansava o livro, contava de suas viagens, do seu gosto pela música (dizia com evidente modéstia típica de sua formação, “tocar um pouco de piano”), chegava a cantarolar trecho de La Marseillaise : “Allons enfants de la Patrie / Le jour de gloire es arrivé...” (aprendida nos seus tempos de estudante) e que nunca terminava, rindo numa timidez certamente ao trazer dentro de si lembranças de sua juventude estudantil. (Ainda guardo as moedas estrangeiras que me presenteava quando tirava boas notas e que hoje já não tem valor venal, devido às mudanças na economia européia, mas que são como memórias tangíveis de uma generosidade inconfundível de quem cativava, não pelo que dava, mas pelo que oferecia e como oferecia: as oportunidades, pela Educação, de sermos homens e mulheres de bem). Eram estas ocasiões que particularmente a mim foram a construção dos tais momentos inesquecíveis, das lembranças firmemente cravadas no Coração vindas dessa Mestra como tão poucas hoje existem – se existem -, e que apesar da curta duração se comparada à extensão da vida, foi intensa em sua duração: “circunstâncias que viriam a ser tudo nos resultados”, como disse o poeta.

Nesta semana (15/07) em que a querida Mestra completa seus 77 anos de vida, grande parte dedicada ao Magistério (aposentou-se em 1994), deixo garatujada a minha homenagem de eterno aluno no Mundo das Boas Recordações, quando me vejo sentado numa pedra imaginária de um caminho imaginário...

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