Plinio Montagner
Durante a vida é sempre o presente o momento vivido.
A única diferença entre o agora, o passado e o futuro é que no começo o futuro é extenso, e no fim, sobra um longo passado.
Uma das mais importantes conquistas do homem é saber viver a vida para ser feliz.
Escreveu Voltaire: “Qui n’a pas l’esprit de son age; de son âge a tout le Malheur.” (Quem não tem o espírito de sua idade, dela terá todas as desventuras.)
O homem sábio aceita o espírito e os desejos de sua idade, respeitando os limites de seu corpo e entende os porquês de suas fantasias.
Na infância as necessidades e as responsabilidades são brandas e diminutas, como lenta e imperceptível a excitação dos desejos.
Para as crianças o futuro não existe; o presente é que é sentido. Mais tarde vão fazer igualzinho aos adultos, dedicando seu tempo pensando no futuro.
O homem amadurecido, enriquecido pela experiência, vê o mundo de modo diferente. Quem viveu mais teve mais experiências, errou mais e caiu várias vezes, mas proveito tirou das derrotas. Talvez seja a explicação por que as crianças têm alegrias, tristezas e medos imaginários.
Um filósofo comparou a vida a um bordado, em que a primeira fase é o que lado que se vê, a frente bonita, e na segunda, o avesso, se não tão belo, revela os segredos da beleza, mostrando como os fios estão concatenados entre si e como os caminhos da vida são difíceis e complicados.
Uma sutil diferença entre a mocidade e a velhice é a coragem dos jovens e sua impetuosidade, contra a vigia constante dos idosos aos seus corpos combalidos.
O medo da morte e o início da decrepitude potencializam os arrependimentos e os desejos do perdão não conquistado. Nesses momentos o homem volta a ser criança, dogmático, e procura a remissão dos seus pecados.
Na idade adulta o tempo é economizado, somos mais exigentes e mais seletivos. Nessa fase da vida os medos ignorados agora são emergidos.
Os créditos do tempo acabam sem aviso, como o último pedacinho do tubo de fio dental, que, de repente, a gente puxa o fio, e acaba.
O idoso fica “mais inteligente” - seleciona o que lhe convém.
É preciso ter vivido muito para perceber como a vida é curta; e, quanto mais velhos se fica, tanto menores e insignificantes nos parecem os problemas.
Costuma-se dizer que a mocidade é o tempo feliz da vida e que a velhice é o tempo da tristeza. Estaria certo esse preceito se a beleza e a juventude e as paixões trouxessem felicidade.
De certa forma, a mocidade é o tempo maravilhoso da vida, e também da inquietação, porque há muito para ser visto, sentido e conquistado, enquanto a velhice é o tempo da placidez.
As experiências fazem o homem mais velho considerar que muitos sonhos da juventude foram vaidades de fúteis conquistas, mas necessários ao desenvolvimento do corpo e da mente.
O traço característico da idade avançada é mesmo o desencanto com as fontes efêmeras da felicidade, e que o tédio só acompanha o homem que não conheceu prazeres que não os dos sentidos, deixando órfão o cérebro dos prazeres da espiritualidade.
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