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terça-feira, 20 de outubro de 2009

VIVÊNCIA
Eunice ZemVerdi

O dia amanhecera sem que ela sequer houvesse dormido.
Noite insone, cheia de inquietação, seguida de profunda apatia.
Como sonâmbula, saíra do quarto alcançando a porta rumo ao nada.
Olhos perdidos, distantes, caminhava agora, lentamente, sem que nada a pudesse deter.
Assim, nem percebeu que o sol já ia alto, quase meio dia.
Absorta e só com seus pensamentos, passos lentos e cadentes, parecia alheia ao encanto daquela bela manhã ensolarada.
À sua volta, tudo era tão exuberante, contrastando com o vazio daquele olhar sem brilho.
De repente, à sua frente, um espetáculo de rara beleza: logo adiante, bem no topo de uma pequena montanha, descortinava-se em meio às árvores e flores, os últimos raios de sol, que horas antes, aquecera-lhe o corpo.
Agora, os pássaros em bandos, cantando, voltavam aos ninhos para, em silêncio, reverenciar a noite que já se aproximava.
Só então, aquela mulher despertou da apatia que por horas a dominara. Olhou para frente, para trás e para os lados e constatou o quão distante estivera e do quanto aquela visão lhe era importante. Contemplou todas as cenas daquele belo dia, como se fosse o primeiro do resto de todos os seus dias.
Pela primeira vez, sentiu a necessidade de se juntar àquele magnífico cenário do qual, percebera, fazia parte.
Desnudou seu corpo de todas as amarras que até então lhe serviam de clausura e soltou as emoções represadas em seu peito. Com toda graça de seus movimentos, pôs-se a correr, a cantar e a dançar, feliz, como criança plena de encantamento.
A noite chegara. A beleza da lua e das estrelas invadiram aquela alma carente de emoção. Hora de voltar! Hora de viver!
Aquele dia fora, definitivamente, o marco inicial de uma nova etapa de sua vida.
De volta para casa, a passos lentos, agora a vida passara a ter um significado maior para ela. Aprendera muito com aquele contato, aquela integração com a natureza. Até a solidão, que tanto a castigara, agora era a sua maior companheira.

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