De saudades e reencontros
Carmen M.S.F. Pilotto
As rugas sulcavam expressivamente a face de Maria José. Mas o sorriso quase translúcido bailava constantemente no rosto septuagenário, cândido, leve e faceiro, do que restara da doce Mazé. Ela mantinha dos áureos tempos o molejo dos ritmos cariocas e a brejeirice das garotas das calçadas de Ipanema.
Seu olfato ainda trazia o cheiro da brisa marinha. Sua leveza fora ceifada por João, que a roubara da bossa do Rio para montar família em Uberaba.
E o corpo foi perdendo o bronzeado, debruçado na extenuante lida caseira. Passara sua rotina na Rua Aurora, número 20. Solitária, aquecia-se ao sol esmaecido mineiro todas as manhãs, cultivando as lindas rosas de seu jardim. À tarde, alquebrada, na cadeira de balanço, com o xale de fuxico, conversava com as nuvens, personagens de seu passado.
Cismava, por horas, visualizando barcos se afastando no horizonte, a brancura das areias de Ipanema, o show de fogos na passagem de ano em Copacabana, os bares na Avenida Atlântica, os bailes no Clube Tatuí em Ipanema, os barquinhos do Posto 6 e tantas outras imagens que povoavam diuturnamente sua mente senil.
João, que partira há algum tempo, Letícia, a amiga de infância e ainda uma legião de seres se delineavam conforme apertava a saudade ou lhe ditava a carência.
Com a escuridão tomava delicadamente o lampião e se dirigia ao pequeno quarto onde fervorosas orações dissipavam qualquer ranço de melancolia da alegre paisagem que deixara. Nos sonhos, como Penélope, tecia um imenso e intenso imaginário de céu.
Certa noite, seu querido João, perfumado como nos tempos de outrora, surgiu garboso em seus sono, de chapéu panamá e terno de linho bem ajambrado, tomou-lhe novamente aos braços e carinhosamente confessou:
- Não quero mais esse negócio de você longe de mim...
No dia seguinte todas suas rosas brancas despetaladas forravam o chão do jardim e os pedúnculos balouçavam solitários ao sabor da brisa outonal.
Carmen M.S.F. Pilotto
As rugas sulcavam expressivamente a face de Maria José. Mas o sorriso quase translúcido bailava constantemente no rosto septuagenário, cândido, leve e faceiro, do que restara da doce Mazé. Ela mantinha dos áureos tempos o molejo dos ritmos cariocas e a brejeirice das garotas das calçadas de Ipanema.
Seu olfato ainda trazia o cheiro da brisa marinha. Sua leveza fora ceifada por João, que a roubara da bossa do Rio para montar família em Uberaba.
E o corpo foi perdendo o bronzeado, debruçado na extenuante lida caseira. Passara sua rotina na Rua Aurora, número 20. Solitária, aquecia-se ao sol esmaecido mineiro todas as manhãs, cultivando as lindas rosas de seu jardim. À tarde, alquebrada, na cadeira de balanço, com o xale de fuxico, conversava com as nuvens, personagens de seu passado.
Cismava, por horas, visualizando barcos se afastando no horizonte, a brancura das areias de Ipanema, o show de fogos na passagem de ano em Copacabana, os bares na Avenida Atlântica, os bailes no Clube Tatuí em Ipanema, os barquinhos do Posto 6 e tantas outras imagens que povoavam diuturnamente sua mente senil.
João, que partira há algum tempo, Letícia, a amiga de infância e ainda uma legião de seres se delineavam conforme apertava a saudade ou lhe ditava a carência.
Com a escuridão tomava delicadamente o lampião e se dirigia ao pequeno quarto onde fervorosas orações dissipavam qualquer ranço de melancolia da alegre paisagem que deixara. Nos sonhos, como Penélope, tecia um imenso e intenso imaginário de céu.
Certa noite, seu querido João, perfumado como nos tempos de outrora, surgiu garboso em seus sono, de chapéu panamá e terno de linho bem ajambrado, tomou-lhe novamente aos braços e carinhosamente confessou:
- Não quero mais esse negócio de você longe de mim...
No dia seguinte todas suas rosas brancas despetaladas forravam o chão do jardim e os pedúnculos balouçavam solitários ao sabor da brisa outonal.
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