Plinio Montagner
No fim da vida
nada se leva. Ficam nossa casa, nossa família, o trabalho, o carro, os livros, o
velho piano, o gato, o cachorro, as dores que nos castigaram, os amores que nos
alegraram, os amigos e inimigos, as contas e pagar e a receber, filhos, netos,
genros, noras e sogras.
A vida é curta, dura
e algumas vezes tediosa, e assim passa-se toda no desejar. Se as pessoas nos
traem, a vida também, pela expectativa de algum dia ser usufruída pelo que foi
conquistado. Mas não é esse o prêmio. A idade avançada nos premia mal. Por que
não valer-se do bom quando estamos bem de saúde e tudo é novidade e prazeroso?
Não está certo
contemplar a tranquilidade e a paz no último quartil da vida. Nesse momento a
mente está obscurecida, os sentidos atingidos e o corpo quebrado, operado,
dolorido. Nessa fase se sente as sequelas das cutucadas da vida pelo pouco que se
aproveita com qualidade.
As mudanças dos
valores, o que é certo e errado, foram outros castigos aos idosos, principalmente
a incompatibilidade e o afastamento entre idosos e jovens; os mais velhos não desejam
a separação, é a juventude, não por afeição diminuída, mas por desarmonia de
interesses e gostos.
Embora bem-vinda, a tecnologia é a grande vilã.
Ela é necessária, mas causou certo desdém ao romantismo. A elegante caneta Parker substituída pela esferográfica, os designers e luxos dos Cadillacs
e Thunderbirds pelos modelos cheios de tecnologia, mas sem charme; os bilhetes e
passagens das bilheterias pelos ingressos virtuais, dinheiro vivo pelos
cartões, e assim será.
A ausência de um
chefe nas famílias também favoreceu a desordem do clã pela independência e da
liberdade sem limites que afrouxou a harmonia entre pais e filhos.
A abundância de
bens trouxe conforto, mas comprometeu o lazer pela expansão do tempo dedicado à
administração do patrimônio.
Se descobrissem
um elixir da longa vida e da cura de todos os males ainda continuaríamos a nos surpreender
em meio a desejos e trabalhando para os outros quem poderiam fazer por si.
Cheios de dores
e de alguma feiura, se a cura chegasse, não mudaríamos: continuaríamos a
desejar.
Invejar os ricos
é um erro. Os abastados são ricos, mas à custa da perda das melhores fases da
vida. É preciso aprender que o – pouco - resulta em mais alegrias do que - o
muito -, que atrapalha, prende e descarta a serenidade.
A pobreza, a simplicidade e a ausência de
heranças sempre acompanham a juventude. Coincidência ou não, a riqueza e a
velhice vêm ao mesmo tempo.
O pobre nada perde
em vida nem depois da morte; só perde aquele que deixa bens acumulados.
Tendemos sempre deixar para depois o dia de parar de trabalhar para os outros,
e passar a cuidar de nós, e assim, continuamos sempre às voltas com bancos,
compras, doenças, pintores e vidraceiros.
O pobre está
mais próximo da alegria, e o rico, mais da tristeza e das preocupações.
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