Ivana Maria França de Negri
De tempos em tempos, várias profissões desaparecem
e outras novas surgem, conforme as necessidades ou mudanças de costumes.
Por força da tecnologia esse processo
está cada vez mais acelerado, e de modo inexorável, vão sendo decretadas mortas
algumas profissões.
Alguém já ouviu falar do acendedor de
lampiões? Eles eram incumbidos de acender todos os dias os lampiões de
querosene quando anoitecia e os apagavam ao nascer do sol. Com a chegada da
eletricidade, a profissão acabou.
Telefonista era uma atividade em alta.
Dela dependiam todas as ligações interurbanas. Hoje, com os celulares, esse
trabalho não faz mais sentido.
Algumas profissões nos levam ao riso
hoje, mas na época, tinham sua importância, como o arrumador de pinos de
boliche, que a cada jogada armavam rapidamente os pinos para novas jogadas.
Hoje tudo é feito eletronicamente.
Quando não havia refrigeração, o leite
era entregue todos os dias diretamente das fazendas, e quem o fazia era o
leiteiro. E também o padeiro entregava os pães quentinhos. As cidades eram
pequenas e todos se conheciam. Hoje em dia, nas grandes metrópoles, ninguém conhece mais ninguém e
abrir um portão é tarefa difícil devido ao medo de assaltos. Somos cercados de
grades, cadeados, cães de guarda e câmeras.
Algumas profissões agonizam, como é o caso dos alfaiates e modistas, pois
comprar roupas prontas é muito mais fácil e até mais barato.
Engraxates também estão em vias de extinção. As pessoas preferem tênis ou
sapatos de outros materiais, que não o couro, e não prezam tanto sapatos
brilhantes como no passado, quando as ruas eram de terra batida e sujavam muito
mais.
O amolador de tesouras, que era ouvido pelo toque de sua gaita, não se vê
mais há muito tempo. Muitas profissões acabam
porque filhos e netos não se
interessam em seguir o ofício dos pais e avós. Preferem as áreas promissoras da
informática,
A indústria chinesa contribuiu muito para a derrocada de muitos
profissionais por terem barateado tanto os produtos de má qualidade que as
pessoas não mandam consertar nada, tudo se torna descartável. Quebrou, vai para
o lixo, e quem arrumava, ficou sem trabalho. Relojoeiros são raridade, assim
como consertadores de guarda-chuvas. Lembram-se dos vendedores de
enciclopédias? Hoje qualquer criança sabe pesquisar no Google tornando
obsoletas as enciclopédias.
Os fotógrafos que ficavam nas ruas, os lambe-lambe, já sumiram do mapa
faz tempo. Todo mundo faz suas próprias selfies.
O que me inspirou a escrever este texto foi a recente proibição das
vaquejadas no nordeste. Essa decisão provocou a ira dos amantes da vaquejada
que querem derrubar o veto alegando que é um esporte cultural e muitos “profissionais”
ficarão sem emprego. Mas desde quando tortura é cultura? Já está mais do que na
hora de acabarem com rodeios, touradas, vaquejadas, farra do boi, “esportes”
que torturam animais inocentes para deleite de sádicos que se comprazem com a
dor alheia.
E essa desculpa de desemprego não cola. Quando os canavieiros faziam as
odiadas queimadas para a colheita manual da cana, alegavam que se a prática
fosse proibida e colocassem colheitadeiras, haveria desemprego em massa. As
queimadas acabaram, e não ouvimos mais falar sobre isso. Não importaram mais
pessoas para trabalho semiescravo, e elas arrumaram empregos em novas áreas que
vão surgindo.
E assim caminha a humanidade...
Texto publicado na Gazeta de Piracicaba 15/01/2017
Muito boas suas colocações, Ivana.
ResponderExcluirSonho o dia em que ouvirei falar que acabou a profissão de matador de animais em matadouros. Quem sabe eles consigam emprego como coletores de flores e frutos. Sei que é um sonho impossível para minha geração. Mas quem sabe meus descendentes poderão descrever esse acontecimento algum dia.
Um beijo e parabéns pelo belo texto.
Maria José Soares/MICA