Ivana Maria França de
Negri
A gente se acostuma ao glamour das páginas sociais e não
resiste à tentação de dar uma espiada naquelas notinhas no rodapé da página com
os nomes dos descolados em negrito. Gente sempre de bem com a vida e de alto astral.
É
incrível como todo mundo do high soçaite
é inteligente, elegante e posa com aquele ar de felicidade perene, sempre
escancarando o mais largo sorriso, o famoso “colgate” bem cuidado pelo dentista, brindando nas
festas com flutes de champanhe.
Ninguém, em
hipótese alguma, passa por dificuldades ou é infeliz. Todos vencem nos
vestibulares e vão às mais badaladas praias do Brasil e do mundo. E pegam
sempre tempo bom, em “temporada de sol e mar”. Chuva? Só os pobres mortais não
colunáveis é que pegam tempo ruim. Borrachudos, pernilongos, trânsito
engarrafado na serra, congestionamentos, filas e falta d’água nas horas de pico
também são coisas para infernizar a vida dos comuns.
Socialites não
comparecem às festas, eles “marcam presença”. Também não viajam como todo
mundo, eles “aterrissam” nos lugares da moda como Miami, Londres, Paris ou
Milão. Ou então viajam em transatlânticos e se hospedam em hotéis 5 estrelas. Existe
um linguajar próprio para designar os feitos desse povo cheio de charme que
curte badalação e vive coberto de jóias. De agito em agito, compram nos brechós
de Nova York e assistem aos musicais em voga na Broadway. Também não encaram os
paparazzi como qualquer um, eles
“acendem os faróis” e vivem “antenados”.
O pessoal da dolce vita não vai ao Play Center mas leva
os filhos para os parques da Disney. E no curto-circuito da moda, dão o tom de
sua presença nos desfiles das lojas de griffe,
sempre bem vestidos, bronzeados – mesmo que o almejado tom seja adquirido com
raios ultravioleta em câmaras de bronzeamento artificial.
Também
não se mudam de casa simplesmente, eles “inauguram” apês ou abrem as portas da
nova mansão para os outros vips e haja
flashes para registrar todos os
ângulos e o melhor “kolynos” dos convidados. E não se medem esforços para
conseguir uma brecha para aparecer. E quando isso acontece, é a glória!
Nesse mundo
restrito ninguém fica doente. Doenças são escondidas a sete chaves. Se morre
algum figurão, transformam-no logo em santo, pessoa caridosa que emprestará seu
nome a logradouros, escolas ou vias públicas, tendo feito trabalhos em prol da
comunidade ou não.
Se por ventura
alguém some dos holofotes por algum tempo a gente até pensa: “por que será que
fulano sumiu dos meios sociais?” Mas um dia ficamos sabendo por outras vias que
seu negócio faliu, empobreceu, ficou doente e acabou perdendo todos os
“amigos”. Já colocaram outro em seu
lugar, alguém que emergiu e está com a “bola toda”.
No mundo das
patricinhas e dos mauricinhos, só se admite glamour
e beleza, e não se amofine quem não nasceu com belos dotes naturais, sempre há o
infalível “banho de loja” e a eficiência dos bisturis dos cirurgiões plásticos
deixando todos lindos e perfeitos.
E como diria o
carnavalesco Joãozinho Trinta, sobre o luxo que impera nas escolas de samba
nascidas nos morros mais pobres do Rio de Janeiro: “quem gosta de miséria é
intelectual, pobre gosta mesmo é de luxo!”.
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