Meus avós
Olivaldo Júnior
Nasci em Aguaí, uma pequena cidade do interior paulista, e, lá, passei boa parte da infância. Nem toda criança teve avós. Eu tive.
Meus avós maternos se chamavam Ana Rosa e Benedito Batista, conhecidos como Dona Ana e Seu Dito. Convivi com essa minha avó por quatro anos, quando, então, ela se foi. Sendo rosa até no nome, deixou em minhas mãos o perfume de seu carinho, a história da corujinha e de seus filhotes (cada um mais lindo que o outro!), seu colo e sua voz, de que ainda hoje me lembro. Seu marido, meu avô, depois da "ida" da Dona Nica, casou-se de novo e ganhei outra avó, a Dona Maria, que, igual àquela minha avó sanguínea, cozinhava muito bem e me tratou como neto até o "fim". Esse avô, contador de causos, mineiro autêntico, partiu há pouco, coitado. Lembro-me de sua risada boa e de como se preocupava em nos hospedar bem quando o visitávamos. Ainda usava chapéu e falava de um tempo cada vez mais longe, quando o mundo era nosso, e o tempo era eterno.
Meus avós paternos se chamavam Alzira e Lindolfo (o "Dorfo", do Mercado). Não conheci a mãe de meu pai, já falecida quando nasci. Ouvira dizer que ela gostava do trabalho no comércio da família, uma daquelas vendas de antigamente, e que ficava no caixa. Partiu para o boteco celeste deixando os filhos pequenos aos cuidados de uma empregada que, mais tarde, seria a mulher de meu avô materno, a Dona Maria. A vida é uma surpresa, não? Bem, o vô "Dorfo" era dono de uma venda no Mercado Municipal de Aguaí e, sempre que nos recebia, fazia questão de encher as mãos de seus netos com doces e guloseimas, que, para uma criança, era o mesmo que ter uma parte do céu das mãos do próprio São Pedro. Ê, saudade...
Não tenho filhos. Não sei se terei netos. Mas tive avós. Sempre estão comigo. Eu, que podia ter dedicado mais tempo a eles, eu, que, como tantos, vivi e ainda vivo para meus problemas, sinto falta de um colinho de avô, de uma bênção de avó. Estarão no Sítio do Picapau Amarelo? Na Arca de Noé? Não sei, mas devem ter se encontrado. Ana Rosa com Benedito e Alzira com Lindolfo. Este neto, ainda vivo, um dia vai entrar pela porta do Sítio e, tão vivo quanto uma coruja, entrar na Arca, a de Noé, e virar menino outra vez, pra sempre.
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