Páginas

quinta-feira, 31 de março de 2016

SETE CAIXAS (Siete Cajas)

                                                      

                                                                                   Eloah Margoni

     Andava atrás desse filme paraguaio (direção de Juan Carlos Maneglia, 2012) há tempo! Um prazer encontrá-lo na rede e não menos prazeroso ver a direção diferenciada, com cenas sem cortes de transição, de modo que uma tomada “gruda” nas vizinhas. Produção de baixo orçamento, boa história e convincentes trabalhos dos atores.  Assim também geralmente é o cinema argentino, com obras baratas, roteiros bacanas, atores ótimos; tanto que já se consagrou, mundialmente até, pela qualidade considerável.
    Porém, assistir à obra no próprio computador não é o que há de melhor ou mais confortável, pode-se imaginar. O filme é policial em última análise; o local, o mercado de Assunção, grande e precário, um labirinto de pobreza e confusão, pulando para bairros periféricos, opressivos, sem céu.  Parece-nos tanto realista quanto proposital tal enfoque. Todas as ambientações mostram essa carência de zelo, de boas construções e de estética; assim o filme é um anti cartão postal de Assunção. Um lugar onde, certamente, não se quer estar. A direção sem cortes, saltando de uma cena à outra, com tomadas de câmera inusuais, não chega a causar confusão quanto aos elementos, pois fica fácil conhecermos todos os personagens da trama e seguirmos o desenrolar da história. Mas a fuga do personagem principal, Vítor, um adolescente que juntamente com sua jovem amiga Liz tenta escapar com as sete enigmáticas caixas, mostra angustiante e claustrofóbica situação; uma corrida por becos sem saída e corredores labirínticos, remetendo-nos a imagens de filmes de terror ou de pesadelos. Pelo menos dos meus pesadelos...
   A obra tem ingredientes bem dosados também, com toques de humor negro quando mostra quadrilhas perigosas e mortais sim, mas também com membros trapalhões, que fazem confusões ridículas e risíveis. Juntamente com sua frieza, evidenciam algumas dessas pessoas amadorismo e inexperiência no crime. Também há alusões a problemas sociais, pois um dos bandidos precisa extremamente de dinheiro para ajudar o filho doente, ainda criança. Faz menção o thriller, ligeiramente apenas à corrupção policial, e também à corrupção pessoal, pois Vítor enfrenta o medo, a repulsa, o horror, o risco de morrer, apenas para obter um desejado objeto eletrônico! Mas, não se nota ali nada parecido com os filmes Tropa de Elite 1 e 2, nem com Cidade de Deus e afins.

     Nas cenas finais a câmera “abre” para locais claros, iluminados, mais urbanizados e bem arranjados, mostrando outro tipo de gente e uma “outra Assunção”.  Pedaços da tragédia enfocada na história, que acabaram sendo filmados, aparecem na televisão local e trazem grande audiência por parte da população da capital paraguaia, relata a película. Isso indica que a violência de lá, apesar da pobreza do país, não é assim tão banalizada e cotidiana quanto a nossa, não tão terrível ou incontrolável, não tão feroz, tanto que até fez os senhores grisalhos da academia (do Oscar) levantarem-se e saírem da sala ou sentirem-se mal, em alguns filmes brasileiros, indicados ao prêmio.  Enfim, em meio à pobreza, à criminalidade e à carência, Assunção, no Paraguai, não é tão feia quanto se pinta. Nem seu cinema.

terça-feira, 22 de março de 2016

Dia Mundial da Água: Gênesis 3:19


22 de março: Dia Mundial da Água
Olivaldo Júnior

        Todos naquele pequeno vilarejo sabíamos que, na verdade, viemos mesmo da água. "Contrariando" o ditame bíblico, em Gênesis 3:19, que diz "[...] porque tu és pó e ao pó da terra retornarás!", o povo daquela pequena aldeia e eu acreditávamos mesmo é que tínhamos vindo da água. Nossos olhos, quando nosso peito transbordava emoção, vertiam o quê? Água. Nós, antes de nascermos, ainda em gestação, no ventre da mãe, vivíamos em quê? Em água. Quando trabalhávamos muito, quando pressentíamos o perigo, o que nossa pele exibia? Água. Portanto, por mais que não quiséssemos, só sabíamos que éramos água, néctar divino da vida.
        Foi que, naquele pequeno lugar, morava uma moça muito bonita que se havia casado há pouco tempo com um rapaz também muito bonito. Assim, em poucos meses de casados, a cegonha os visitava e, do fundo das águas do Céu, lhes trazia um bonito menino, o qual chamaram Davi. Davi era cheio de vida. Quando seus pais iam lá pro riacho, o menino parecia um peixinho, contente em nadar sobre os braços do pai. Quem nunca se sentiu assim no mar da existência, constantemente amparado por Deus ao cruzar oceanos, intensas marés, que mais arrastavam para o fim que para um novo começo? Pois é, o pequeno Davi era assim, um nadador nato.
        O povo da aldeia em que morávamos era muito temente a Deus e a suas leis. Mas, de uns tempos para cá, um mistério tomou conta dos arredores da vila e pôs muita gente descrente. Uma seca terrível levou as flores e os frutos para longe das mesas de cada amigo de lá, deixando muitos sem pão e, ainda pior, sem água. Quem tinha cisterna, quem tinha poço, quem descobria um lençolzinho d'água ainda se arranjava como podia; entretanto, quem precisava da chuva e do rio para a sede aplacar, pouco podia fazer. Com a precisão bem à porta, um vizinho se voltou contra o outro e, quem tinha água não queria dividir com seu próximo. Foi bem triste.
        O único médico da cidade havia partido para longe, e o período de seca se agravava. Uns culpavam Deus, outros o homem, outros a vida, que era sempre madrasta, mas em nada adiantava chorar: a seca, com sua boca voraz, devorava os cabelos do milho e, com eles, fazia perucas para o monstro da fome. Aquele belo casal era um dos raros que não tinham partido para outras margens, crentes em que Deus Pai mitigaria a sede dos Seus. 
        Davi, o bonito bebê de outrora, minguava dia a dia com a falta de comida e, sobretudo, de água. O rio em que nadava feliz havia secado suas íris e não sussurrava mais sua bela canção. Desesperados, seus pais não sabiam mais o que fazer com o pobre bebê. Batiam à porta de cada casa, mas, quando os atendiam, pouco lhe davam, nada de água. O homem, a mulher e o bebê mais belos do pequeno vilarejo em que eu morava se prostravam.
        Passados mais alguns dias, o casal, já sem forças, nem saía mais de casa. Juntos, na enorme cama de casal, o marido, a mulher e o pequeno filho entre eles formavam uma unidade perfeita, tão linda quanto uma molécula do tão sonhado líquido que já não tinham mais... Chorando, a mãe rezava, pedindo a Deus piedade, acompanhada do pai, que chorava também. Pouco a pouco, os olhos de cada um se foram fechando e, com eles, o céu também se fechou e, de um forte relâmpago que em nós soou seu trovão, caiu uma chuva que durou por três dias. Essa chuva, pelos buracos do velho telhado da casa em que o casal definhava, ressuscitou o marido, a mulher e o pequeno bebê, à beira do pó.
        Quando ficaram mais fortes pela água que tomaram pelas frestas das telhas, beijaram o filhinho com afinco e choraram bem mais, incutindo o sal do choro no açúcar da chuva sobre o mesmo lençol, de algodão, que era como uma nuvem para eles, que, assim como eu, sempre acreditaram que viemos mesmo da água, dos olhos de Deus, Que se voltam para quem chora quando o choro é da alma, que nada mais é que uma fonte, e deságua em nós.

21h06min

Mogi Guaçu, São Paulo, vinte e um de março de 2016.

Dia Mundial da Água foi criado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas através da resolução A/RES/47/193 de 21 de Fevereiro de 1993,[1] declarando todo o dia 22 de Março de cada ano como sendo o Dia Mundial das Águas (DMA), para ser observado a partir de 1993, de acordo com as recomendações da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento contidas no capítulo 18 (Recursos hídricos) da Agenda 21 (Dia Mundial da Água, em Wikipédia).


domingo, 20 de março de 2016

Dia da Mulher e Dia da Poesia comemorados com distribuição de poemas

Na estação da Paulista
Na Galeria Gianetti

No Hospital UNIMED
Hospital UNIMED

Funcionárias da UNIMED que receberam poemas

segunda-feira, 14 de março de 2016

Conto para o Dia Nacional da Poesia


Olivaldo Júnior
 
        Era uma vez, há muito tempo, um menino que sentia dentro de si um grande amor por tudo o que havia. Tinha amor por seus pais, por seu irmão, por seus parentes, por seus amigos e por todas as coisas que Deus havia criado para todos os seus filhos.
        Esse menino, com o tempo, foi vendo que não podia ter todos, nem todas as coisas para sempre e, sozinho, sofria. Chegava a um cantinho de casa e, quando ninguém estava vendo, chorava, chorava, chorava como se o choro fosse lavar essa certeza.
        O menino, coitado, não sabia, que as verdades da vida não mudam. O mundo, as pessoas que amava, tudo o que havia, um dia, passaria, deixaria de existir. Assim, novas pessoas, novas pedras e novas flores poderiam surgir e experimentar o sol da vida.
        Chegando à adolescência, aquele menino sentiu que estava vivendo sua primeira grande perda, a da infância. Seu coração menino, inquieto, se mudava em coração de jovem, que se mudaria em de homem daqui a pouco e, mais tarde, em de velho.
        Certo dia, quando seu peito parecia irromper-se em mil perguntas sem resposta, correu para seu quarto e, com a caneta Bic mais simples do mundo, pôs-se a escrever seu primeiro poema. Era sobre um homem falando com Deus, pedindo a Ele respostas.
        Não, o menino não sabe onde foi parar esse poema... Depois desse, vieram outros, muitos outros, que o sustentaram a alma em seu corpinho adolescente, em seu corpanzil de moço feito e em seu corpo de homem que caminha para sua velhice.
        Talvez esse menino nunca tenha previsto que existiria um dia em que se comemoraria seu ofício, o da Poesia. Talvez esse menino sequer suspeitasse que um poema só nasce pelo desejo de se guardar o que não se pode verdadeiramente guardar, mas sentir, tecer com o fio aéreo do verbo a veste fria dos versos e fazer de conta que se guarda quem se ama, o que se ama e o que se surpreenderia eterno.

quarta-feira, 9 de março de 2016

MULHER


Luzia Stocco

“Não vamos mais obrigar nossas meninas-mulheres a esconderem seu corpo sagrado, os homens bestializados é que devem cobrir seus olhos.”
Provocações dos sentidos ou descontrole?
Ainda me lembro quando minha filha, estudante adolescente, ia a pé à escola usando uniforme (normal) e todos os dias tinha seu direito legal de ir e vir negado, pois precisava desviar de dois bares no caminho que ali sempre alguns se sentiam no direito de "mexer" com ela, sendo obrigada, então, a mudar para uma rota mais longa. Este é só um exemplo que compartilho entre centenas que conheço vindos de amigas, parentes, estranhas.
E, como sempre, eu indago: até quando uma parcela do sexo masculino vai continuar acreditando que as mulheres são extraterrestres? que são seres de outro planeta, sempre estranhas aos olhos e tato do sexo oposto? sempre, sempre lhe causando estranhamento e a necessidade de dar uma olhadinha pra trás, como se nunca tivesse visto ou sentido a sexualidade? Homens desta parcela citada, por favor: apreciar o belo é muito mais que isso; pesquisem, conheçam além de suas limitações, enfrentem seus medos e os tabus que lhes foram impostos por seus pais e mães (essas mesmas mulheres que não reconhecem seus direitos e que negam os próprios corpos, que não buscam conhecimento, ou que foram educadas para esse fim: propagar a soberania masculina do sistema patriarcal, remoto na história), sintam mais, acariciem mais, beijem mais, conheçam o corpo da mulher, despertem o prazer nela, valorizem-na, assim como ela é “obrigada” pela mídia e sociedade atual a conhecer e valorizar o corpo masculino.
Tenho pensado ultimamente: “a maioria deles depende do sexo feminino para quase tudo, até para o ato solitário. E cozinhar para a própria sobrevivência então, nem se fale, aí já é tabu ou burrice mesmo, pois é algo que se faz desde a pré-história e que, com a descobetrta do fogo e a invenção da agricultura pela mulher, facilitou um pouco para os machos o acesso à comida. Se essené o princípio básico para mantermo-nos vivos – o ato de alimentar-se – como pode hoje ser encarado com um "eu não sei cozinhar"? Neste caso, ele ou ela já estaria morto se vivesse sozinho. Bom, só por isso já considero grandioso pertencer à espécie das fêmeas, e diria, sábio é aquele que vê isso e por isso é grato. Grato a terra e aos que cozinham.
Até o século XIX a moda cobria o corpo da mulher com a intenção de esconder sua forma, com arames embaixo das saias longas, mesmo nos climas tropicais, e mangas longas e cabelos longos, tudo para esconder, escravizar; espartilhos que a sufocava, porém agradava no âmbito da sensualidade masculina. Além de subtrair-lhe a liberdade de escolha e de defesa pois era tolhida de movimentos rápidos... tente você correr? e isso se aplicava também às meninas crianças. Será que os olhos daqueles homens, o que chamam de instinto (e eu chamo de outro nome) não suportavam ver, não respeitavam o corpo da criança também? é para se pensar, ou melhor, não pensar. Sem liberdade de caminhar, de se expressar, de ser cidadã (lembremos que a mulher só conquistou o direito ao voto no Brasil em 1934). E hoje, o que somos? para onde vamos? querem que cubramos o rosto e o corpo todo como muitas muçulmanas o fazem? Tudo é banal, a violência é banal, extirpar clitóris também é banal? Será que a mulher terá que anular-se e esconder suas formas e curvas naturais para não “assustar” esse tipo de homem?
Que tal, se ao invés da mulher cobrir seu corpo “exótico” o homem passasse a pôr um lenço pra vendar os olhos?
 “Não vamos mais obrigar nossas meninas-mulheres a esconderem seu corpo sagrado, os homens bestializados é que devem cobrir seus olhos.”
Quem pratica a maior parte da violência? Além da violência da fome, do preconceito, da humilhação, que ambos praticam, refiro-me agora à violência física, psicológica, sexual: o homem! Criado nem um pouco com a imagem e semelhança aos deuses. Criado sim, pela ignorância das mulheres suas mães e homens seus pais, num círculo vicioso de geração. Sabemos que as pesquisas hoje apontam que os maiores índices de violência sexual ocorrem dentro de casa, com parentes próximos, e que a maioria das crianças e “pré-adolescentes” não sabe disso e ninguém (nem mesmo a mãe e a escola) lhes conta. Que as mulheres e namoradas pobres que residem nos bairros periféricos são espancadas e nem sequer vão à uma delegacia. Nem B.O, nem processo e ainda acabam agradecendo o agressor por ter se arrependido e estar pagando os tratamentos para sarar logo os ferimentos. Vejo isso no bairro onde trabalho. É ainda a ideia e crença consciente e inconsciente de "propriedade", “patrimônio privado” advinda do patriarcalismo.
E por acaso a mulher se acha no direito de agir assim com um menino ou homem só por que ele estaria com pouca roupa?
Se a mulher deve ser a responsável por tudo de negativo e positivo no tangente à família e filhos segundo apregoa o senso comum, como engravidar, abortar ou abandonar o bebê por vários motivos que ninguém quer saber, fugir de casa, apanhar, cuidar de toda a casa, cuidar ou não dos filhos, cuidar dos alimentos, educar bem ou mal, tornar a cria um cidadão,  acompanhar ou não sua vida escolar, etc e etc, gostaria de saber - se assim o deve ser - por que então ela não é tratada pelas leis e por todos como um ser supremo especial? Com salários, benefícios, cuidados e respeito maiores que o homem? Parece-me haver aí uma contradição. E tanto.
Chega da antiga e famosa frase “Prendam suas cabritas por que meu bode tá solto”, mas “Prendam seus bodes porque minhas cabritas estão soltas”; prendam, segurem, amarrem seus ímpetos descontrolados e doentios porque os nossos ímpetos estão saudáveis e libertados, somos livres, finalmente, rumo à felicidade. 
            Por mais que o sexo feminino erre ao tentar copiar o homem no que ele tem de pior, e erre ao sustentar o mesmo modelo de educação imposto pelas suas mães, posso ver que a mulher está refletindo e tentando algo novo há menos de cem anos (refiro-me ao movimento mais coletivo e de massa) - enquanto o homem vem fazendo o que faz há milhares de anos.
Até quando a sociedade vai nos negar o direito de manifestarmos os nossos sinceros e belos desejos em relação ao sexo masculino? De lhes apreciar sem sermos criticadas ou taxadas por ideias preconceituosas.  Sim, é verdade, pra quem não sabe, sentimos ou podemos sentir tesão, ter orgasmo, sim (pesquisas mostraram que o índice que vivencia um orgasmo é bem abaixo dos 50% ). Assumir e reconhecer que quando estamos ovulando, nosso corpo libera o muco que facilita o ato e que a sensibilidade está no ápice do desejo, e que nessa fase podemos engravidar sim, e que precisamos da ajuda de vocês para que isso não ocorra fora de nossos planos. E que somos muito diferentes de vocês, sim. E que, não podemos decidir e nem arcar com as consequências desses atos sozinhas. E que, fora desse período fértil que dura uns quatro a seis dias mensais precisamos de outras formas de carinhos para nosso corpo lubrificar-se e se preparar para uma sexualidade gostosa e motivadora; diferente do corpo de vocês?  Amigos nas horas boas e ruins?
Outro detalhe: por que a mulher ainda adiciona o sobrenome do marido ao seu ao se casar se a legislação permite que se preserve a sua identidade ou que se faça o contrário também, acrescentando o dela ao dele? Não tem ela individualidade e luz própria? Esta prática fazia sentido quando não havia o pertencimento da mulher por si mesma, mas como propriedade do marido, como já fora citado. Tantas as transformações nas relações familiares  - talvez nem tantas - que não se atentou a outro detalhe: continua-se acrescendo o sobrenome do pai no final do nome dos filhos, em descrédito à mãe. Neste país, quantos pais abandonam o lar para sempre, ou esporadicamente lembram-se dos filhos? Rápido fabricam outros em distintos lugares e quando a criança ou a mãe vai preencher uma ficha ou compartilhar algum prêmio dos filhos depara-se com o seu sobrenome abreviado e em destaque o sobrenome daquele que nem sabe a idade e a série escolar em que o mesmo se encontra. Ela leva um choque. Desde a promulgação da última Constituição do país em 1988 não há mais o termo chefe do lar só para o homem, ambos são os responsáveis pela família. Temos um grande aumento de lares chefiados somente por mulheres. Sua força e resistência foram fundamentais para a construção da sociedade, ainda que obscura pra História. E ainda temos que concordar em generalizar as palavras femininas pelos vocábulos masculinos; todos ou todas? Oque mais podemos suportar? Ouvir o termo pejorativo “comer” sendo que as mulheres  é quem possuem uma boca que os devora; ouvir “ela deu” sendo que quem dá, recebe, uma troca ou uma submissão? As palavras têm força. Pra reforçar estereótipos de gênero ou pra encantar-se com a vida. É só escolher.
             Quem vai mudar tudo isso? Quem terá essa coragem? Que possamos, homens e mulheres, compartilhar de uma busca lado a lado! Talvez investindo num sistema educacional e numa mídia mais ética que ajudem a prevenir abusos e tantas desigualdades e sofrimentos. Que não se atire a primeira pedra quando a mulher se engana, falha, mas que se pergunte onde está o pai? O garoto que não fez a sua parte? Evitemos julgamentos, pois quando nós - homens e mulheres - permitimos que corpos e imagens sejam vendidos em out-door, mídias, redes sociais como mercadorias e nós as compramos, a figura feminina surge estereotipada e manipulada.

·         Ver o movimento “Chega de Fiu Fiu!” no site Think OLGA e nas redes sociais.           

                           "MULHERES DE TODO O MUNDO, UNI-VOS!"

             E como sempre, eu indago: até quando uma parcela do sexo masculino vai continuar acreditando que as mulheres são ETs? são seres de outro planeta, sempre estranhas a seus olhos e tato? sempre, sempre lhes causando estranhamento e a necessidade de dar uma olhadinha pra trás, como se nunca tivesse visto ou sentido a sexualidade? Homens do 65%, apreciar o belo é muito mais que isso, pesquisem, estudem, entendam, vivam de verdade, enfrentem, sem camuflagem, sem mentiras, seja você, e se não puder ou não gostar do que se é, busque dentro de si, leia mais, sinta mais, acaricie mais, beije mais, e, sinceramente, o resto só é importante para você e não para ELA, em geral.
              E de vez em quando ultimamente tenho pensado: ... a maioria deles depende do sexo feminino para quase tudo, até para o ato solitário; e cozinhar para a própria sobrevivência então, nem se fale, aí já é tabu ou burrice mesmo, pois algo que se faz desde a pré-história, e depois com a invenção da agricultura pela mulher facilitou um pouco o acesso à comida para os machos; e como algo que dependemos totalmente como princípio básico para manter-se vivo: alimentar-se, pode ser encarado com uma negativa "eu não sei cozinhar"? Nesse caso, ele ou ela já estaria morto, então, se vivesse sozinho. Bom, e só por isso já considero grandioso pertencer à espécie das fêmeas, e diria, sábio àquele que vê isso e por isso é grato. A mãe-terra e a grande-mãe, geradoras e provedoras de todos esses 65% dos homens. É pouco.
              Até o século XIX a moda cobria o corpo da mulher com a intenção de esconder sua forma, com arames embaixo das saias longas, mesmo nos climas tropicais, e mangas longas e cabelos longos, tudo para esconder, escravizar a bel prazer patriarcal; além de subtrair-lhe a liberdade de escolha e de defesa, pois tolhida de movimentos rápidos, tente você correr? e isso se aplicava às meninas crianças também; será que os olhos desses homens, o que chamam de instinto (e eu chamo de outro nome) não suportava, não respeitava o corpo da criança também? é para se pensar, ou melhor não pensar. Sem liberdade de caminhar, expressar, ser cidadã...assim o era; e nós, hoje, o que somos? para onde vamos? você tem liberdade de ir e vir ou a Constituição atual está desatualizada? querem que voltemos a usar os saiotes, saias com armação até os pés, espartilhos que sufocam porém agradam no âmbito da sensualidade masculina? querem que cubramos o rosto e o corpo todo como muitas muçulmanas o fazem? extirpar clitóris também é banal? pensemos, amigos.
                    E por acaso uma mulher se acha no direito de agir assim com um menino ou homem só por que ele estaria nu ou seminu próximo à ela? às favas!!
 Nas entrevistas e leituras atuais ou mais remotas que tenho visto, esse fato está ligado à perpetuação e banalização da ideia de "propriedade", advinda do patriarcalismo, “patrimônio privado”, basta olhar para a história!
Ver o movimento “Chega de Fiu Fiu!” nas redes sociais, e outros.


“INFELIZ? DIA DAS MULHERES”

Parabenizo a todas mulheres vereadoras (só temos uma), e às deputadas, senadoras e governadoras, a minoria de saia em meio aos pinguins de terno e gravata escuros, e, portanto não me sinto representada, assim como provavelmente se sentiam as mulheres até 1930. Parabenizo as mulheres cujos companheiros partilham os afazeres da casa, a minoria; às mulheres que possuem faxineiros e empregados domésticos e pajens masculinos, mas cadê?  Às que cuidam do lar e recebem um bom salário por parte do marido e filhos por cuidarem deles, algo com raras exceções; às que assistem televisão, leem livros e jornais ou ficam de barriga para o ar enquanto seus maridos trabalham na casa, pra quê? Àquelas que são satirizadas no volante de seu carro, embora raramente causem acidentes pois a atenção e sabedoria andam lado a lado; Àquelas que choram, sensibilizam-se, FRÁGEIS COMO UMA ROCHA, embora sejam esteios dos lares e fortalezas, que resolvem tudo; Enfim, não quero apenas criticar, mas instigar a sociedade a pensar seus valores e estereótipos a respeito do sexo feminino visando mudanças, que ainda não ocorreram.

quarta-feira, 2 de março de 2016

FALANDO DE SAUDADE


            Leda Coletti


Saudade é um misto do passado remoto, outras vezes de algo bom que aconteceu recentemente. Nem sempre sabemos definir satisfatoriamente esse sentimento, ora gostoso, ora dolorido. Talvez isso aconteça, porque as emoções novas se encontram com as antigas...
Na cadência melódica das músicas de bossa-nova, revivemos a leveza de um banho de mar; ao ouvir músicas românticas evocamos um amor com final infeliz, precedido de noites suaves de amor, com madrugadas cheias de serestas, tendo a lua como cúmplice desses venturosos momentos.
Sempre associo à palavra saudade, outra que aprecio muito: esperança. Ela motiva uma vida cheia de alegrias, não importa se mescladas de nostalgias, mas dá a certeza de que estamos vivos e prontos para viver intensamente o presente.


Os sonhos que viraram realidade
foram momentos de felicidade,
transformaram a vida em suavidade.
deixando apenas gostosa saudade.

Quando as ilusões são levadas por súbita tempestade,
as lembranças se tornam doloridas saudades.

Com diferentes matizes
a vida fica bonita
e esses momentos felizes

muita saudade  suscita.