Olivaldo Junior
Era uma vez uma grande árvore que ficava no meio do bosque
que se chama Solidão (lembra-se da cantiga?).
Nesse bosque, a mais bonita árvore era aquela. No entanto,
em vez de frutos, nela havia corações. Grandes, médios, pequenos, mais claros e
mais escuros que o vermelho sangue, próprio dos músculos que suportam nossas
almas, eles, os corações da grande árvore do bosque, se pendiam dos galhos
frondosos, que insistiam para que alguém os visse.
Na parte mais alta da árvore, a mais difícil de alcançar,
estavam os corações mais duros, mais antigos e mais queridos, sedutores, que
todos os outros. Eram os corações de quem cultivou poesia durante a vida. Não
“apenas” a escrita, mas a que se vive ao correr dos dias, em pequenos hábitos
que nos fazem crer na beleza infinda do mundo. Poetas não são somente autores,
nem sempre escrevem. São bem mais que isso. Poetas são pessoas que se voltam para
ouvir os que têm algo a dizer e, com o que escutam, tecem poemas, palavras em
si.
Frágil, cada galho da grande árvore sustentava muitos
corações, e, caso alguém se atrevesse a subir para pegar os corações mais
altos, sentiria o peso de querer demais o que não se deteve quando estava ali,
a dois passos de um abraço, perto do peito aberto, que se fecha aos outros, sem
compaixão.
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