Pedro
Israel Novaes de Almeida
Não é fácil
presentear.
O presente
é a consequência natural do comparecimento, em substituição ao antigo
telegrama, atual e-mail ou telefonema, justificando a ausência. É fácil
presentear pobres, pois qualquer lembrança é útil, e sobra-lhes educação para
não medir em cifrões o valor da homenagem.
Difícil é
presentear idosos, quando ultrapassam os 90 anos. As mercadorias que necessitam
costumam habitar as prateleiras das farmácias, mas recebem de bom grado
chinelos, livros, CDs e cosméticos.
Ricos
possuem poucas necessidades materiais, e devem ser presenteados com
originalidade, como artesanato, bebidas extravagantes, objetos raros e, também,
livros. Crianças, ricas ou pobres, ficam encantadas com qualquer presente que
não seja roupa, sempre vista como obrigação dos pais.
Quando de
casamentos, os presentes visam equipar a nova residência. Com as listas de
compras à disposição dos convidados, nas lojas, os casais puderam refrear a
avalanche de garrafas térmicas, cinzeiros, joguinhos de xícaras e pingüins de
geladeira, que chegavam às centenas.
Os noivos
em geral aderiram à moda de nomear dezenas de padrinhos, artifício para
melhorar o valor médio dos presentes. A tendência é termos mais padrinhos que
convidados comuns.
Existem
padrinhos de geladeira, de fogão, de TV, de viagem de lua-de-mel, etc. Até para
a comemoração de bodas estão nomeando padrinhos.
São poucos
os presentes, quando o convite informa que os noivos despedem-se na igreja. Em
pequenas cidades, todos investigam se a comemoração foi, de fato, restrita a
parentes e padrinhos.
Nem sempre
os presentes agradam. Ninguém fica alegre ao receber um estimulante sexual,
creme anti-rugas ou manual de boas maneiras.
Sovinas
usam calculadoras para decidir se comparecem ou não a alguma festa. O valor das
guloseimas não pode ser inferior às despesas de transporte, somadas ao eventual
presente. Só contrariam a regra quando a recepção oferecer vantagens de
relacionamento comercial ou político.
É comum,
nas capitais, os aniversários com despesas rateadas, sem presentes. Os
provenientes do interior estranham tal modalidade de comemoração.
Os livros
continuam sendo lembranças universais, da primeira à maior idade, sendo
conveniente a prévia sondagem das preferências do homenageado. Para jovens, é
difícil fugir dos eletrônicos e roupas de grife.
Existem
categorias que devem ser presenteadas mesmo quando não aniversariam ou nada
comemoram, pela presença em nosso dia-a-dia, como os lixeiros e carteiros. Um
amigo, Madaleno, certamente emendaria: também os poetas.
Presentes
são lembranças, e como tais devem ser recebidos. Presentes também preenchem a
pauta da semana, quando a falta de assunto atormenta o articulista.
Tenho uma filha, quando fez dois anos realizei uma festinha. No dia seguinte, fomos abrindo um a um os presentes. Nunca houve criança mais feliz. Gostei do seu texto, apenas acrescentaria o encanto do inusitado.
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