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sábado, 26 de setembro de 2015

PRESENTES



                                                                       Pedro Israel Novaes de Almeida
            Não é fácil presentear.
            O presente é a consequência natural do comparecimento, em substituição ao antigo telegrama, atual e-mail ou telefonema, justificando a ausência. É fácil presentear pobres, pois qualquer lembrança é útil, e sobra-lhes educação para não medir em cifrões o valor da homenagem.
            Difícil é presentear idosos, quando ultrapassam os 90 anos. As mercadorias que necessitam costumam habitar as prateleiras das farmácias, mas recebem de bom grado chinelos, livros, CDs e cosméticos.
            Ricos possuem poucas necessidades materiais, e devem ser presenteados com originalidade, como artesanato, bebidas extravagantes, objetos raros e, também, livros. Crianças, ricas ou pobres, ficam encantadas com qualquer presente que não seja roupa, sempre vista como obrigação dos pais.
            Quando de casamentos, os presentes visam equipar a nova residência. Com as listas de compras à disposição dos convidados, nas lojas, os casais puderam refrear a avalanche de garrafas térmicas, cinzeiros, joguinhos de xícaras e pingüins de geladeira, que chegavam às centenas.
            Os noivos em geral aderiram à moda de nomear dezenas de padrinhos, artifício para melhorar o valor médio dos presentes. A tendência é termos mais padrinhos que convidados comuns.
            Existem padrinhos de geladeira, de fogão, de TV, de viagem de lua-de-mel, etc. Até para a comemoração de bodas estão nomeando padrinhos.
            São poucos os presentes, quando o convite informa que os noivos despedem-se na igreja. Em pequenas cidades, todos investigam se a comemoração foi, de fato, restrita a parentes e padrinhos.
            Nem sempre os presentes agradam. Ninguém fica alegre ao receber um estimulante sexual, creme anti-rugas ou manual de boas maneiras.
            Sovinas usam calculadoras para decidir se comparecem ou não a alguma festa. O valor das guloseimas não pode ser inferior às despesas de transporte, somadas ao eventual presente. Só contrariam a regra quando a recepção oferecer vantagens de relacionamento comercial ou político.
            É comum, nas capitais, os aniversários com despesas rateadas, sem presentes. Os provenientes do interior estranham tal modalidade de comemoração.
            Os livros continuam sendo lembranças universais, da primeira à maior idade, sendo conveniente a prévia sondagem das preferências do homenageado. Para jovens, é difícil fugir dos eletrônicos e roupas de grife.
            Existem categorias que devem ser presenteadas mesmo quando não aniversariam ou nada comemoram, pela presença em nosso dia-a-dia, como os lixeiros e carteiros. Um amigo, Madaleno, certamente emendaria: também os poetas.

            Presentes são lembranças, e como tais devem ser recebidos. Presentes também preenchem a pauta da semana, quando a falta de assunto atormenta o articulista.

Um comentário:

  1. Tenho uma filha, quando fez dois anos realizei uma festinha. No dia seguinte, fomos abrindo um a um os presentes. Nunca houve criança mais feliz. Gostei do seu texto, apenas acrescentaria o encanto do inusitado.

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