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quarta-feira, 22 de julho de 2015

Relatos de Viagens

                                


                                                                                Eloah Margoni

   Sim, sabia que o hotel, em Genebra, para onde iríamos, próximo `a moderna e organizada estação de trens, embora mesmo sendo hotel de turistas, ficava no Paquis, bairro onde há duas ou três ruas de prostituição que lá, aliás, não tem qualquer restrição legal. Foi o hotel mais caro e o pior de toda a viagem, diga-se.   Tinha, por outro lado, conhecimento da localização deste, mas minha mente fantasiosa “glamurizava” o lugar. Imaginava calçadas limpíssimas e bonitas, vitrines com luzes coloridas e efeitos especiais, onde mulheres fariam performances eróticas, muito trabalhadas. Ideias holiwoodianas. Nada disso era!  Calçadas comuns e sujas, muitas pontas de cigarros no chão, africanos ali e aqui faziam certa algazarra. Homens brancos, com aspecto algo marginal, transitavam por lá. Um africano encostou de modo um tanto rude e proposital na minha perna ao passar por mim; fora isso, não fomos incomodados por ninguém. As mulheres em si eram tipos comuns, de diferentes alturas, cores de cabelos e nacionalidades, com idades diversas.
   Assim, tendo deixado para trás a deslumbrante Riviera italiana, a qual fez -me do coração frangalhos de tanta beleza, com sol, montes verdejantes, plenos de bosques e muito boa organização das cidadezinhas, as quais pareciam ter sido montadas para cenários, tive a impressão de que Genebra, local de negócios, não era aquilo tudo... O quanto me enganei! Descobri uma cidade cosmopolita, vibrante, cheia de arte, cultura, música de boa qualidade e alegria, embora pequena; também com transportes públicos gratuitos e sem poluições. Tudo isso e mais, para além do paraíso fiscal.
  Verdade, deixáramos para trás Gênova, na Ligúria, Itália, onde as pessoas são realmente gentis, simpáticas, acolhedoras; onde fazia mais calor.
   Vimos bem, em Gênova, (o que eu já sabia) que os italianos não são mesmo gordos. Nada de matronas ou obesos, nada de barrigas... Mulheres vaidosas, que gostam de usar colares atraentes e têm cabelos longos com frequência, abundantes, ondeados e crespos muitas vezes, os quais elas não fazem questão de alisar ou de enlourecer, como as brasileiras. Ao menos como as do nosso Estado. Lindas mulheres aquelas! Os homens, com expressivos genes para calvície, mostram-na amiúde, muitas vezes desde cedo, mas são bonitos, elegantes, em forma, faladores, gesticuladores e sensuais.
   Lá em Gênova, os senegaleses, geralmente jovens negros que sobreviveram no mar, andam em grupos, vendem tranqueiras chinesas junto ao porto, onde costumeiramente são encontrados. Coitados! procurando a sobrevivência.  São marginais ali, mas não nos sentimos ameaçados andando de um lado a outro da cidade que, com setecentos mil habitantes, chega a ser calma, com ares de cidade pequena. Transportes públicos abundantes e de boa qualidade contribuem muito para tal.
    Além disso, encontramos por todas as terras onde caminhamos aquela preciosidade que cá não existe: silêncio ou muito pouco ruído.
   A viagem de trem de Gênova a Genebra, Suíça, tirou-nos da cama de madrugada. Sonolência muita, mas sono proibido. Nem pensar em passar dormindo pelos Alpes, ainda mais no verão! Duas coisas direi; primeira, não gosto dos Andes com sua aridez mortal, e sorrio para os Alpes. Segunda, o lago formado pela águas limpas do degelo é superlativo. Por mais de uma hora corremos às sua margem (o trem indo a cento e setenta, cento e oitenta quilômetros por hora) até Genebra, onde entra triunfante, com transparência comovedora.
   O que lá vi induzira-me a pensar na água. Em todos os países costumeiramente é assim, se quiser saciar a sede, precisa comprar água mineral ou pedir em algum estabelecimento um copo de água encanada. Aqui, de péssima qualidade, sabemos. Em Genebra as bicas de água limpa e potável, com excelente sabor estão por toda a cidade. Floridas, artísticas, decoradas.  Água pura, para toda gente. É um prazer ancestral e animal ver as biquinhas e beber delas.
    Pianos postos em toda parte, ao ar livre, vimos onde pianistas competentes tocavam e muitos aplaudiam.  Simpáticos cantores e corais presenteavam a população a toda hora, num canto ou noutro, com canções alegres. Sem barulhos, sem alto falantes.
     Sobre a bonita Luxemburgo, digo que nos surpreendeu a topografia da cidade, muito incomum. Alguns caminhos que fizemos deram-nos ideia de entrarmos em locais mágicos, de descobrir portas; foi um achar alamedas secretas, cruzar riachos encantados, alcançar patamares com hortas e flores, que também sensibilizava-nos de verdade.
     E os dias tão longos, escurecendo quase as 22:00h... Dormia-se pouco. E como seria diferente?

    Essa mistura de imagens, flashes e acontecimentos ficam registrados na mente e os levamos conosco ao longo da vida. Que bom!

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