Leda
Coletti
Após mais de
20 anos voltei a Florianópolis. Devo admitir que só me lembrava vagamente da
área central, ou seja da catedral e da
figueira na praça.
Neste
fevereiro de 2015, posso dizer que a conheci um pouco mais e por esta razão
encantei-me por ela. Ao mesmo tempo que tive a sensação de estar numa
cidade grande senti a natureza bem presente, pois além do mar, praias
paradisíacas e lagoas, alguns trechos da
cidade conservam a mata ciliar, onde há trilhas para quem desejar conhecer e
usufruir sua paisagem verde.
Com exceção
das construções erguidas nos morros em épocas passadas, não há casas nas partes
mais altas. As populares encontram-se nas áreas baixas e para o turista
desavisado não há bairros de periferias isolados dos bairros de classe média e
alta. Estes últimos existem em condomínios fechados e até abertos, nas praias
Jurerê, Santinho com mansões de pessoas com grandes posses, incluindo alguns
jogadores de futebol e astros da televisão. Não vimos favelas.
Conheci
lugares pitorescos que caracterizam a iniciação do povoado, às margens da Lagoa
da Conceição. Alguns: Santo Antonio de Lisboa e Ribeirão da Ilha. Os casarios
antigos com telhas portuguesas e azulejos pintados retratam a chegada dos
imigrantes das ilhas dos Açores e Madeira aliciados pelo governo, que ao
erigirem a capela do local, escolheram como padroeira, N.Senhora das
Necessidades. A guia enfatizou Nossa Senhora do Desterro e oficialmente a
padroeira da cidade e também do estado, é Santa Catarina (de Alexandria).
Um dos passeios
inesquecíveis foi o de escuna, saindo da região das Canasvieiras para as
Fortalezas de Santa Cruz e Santo Antonio.
“Capitão Gancho” era o nome da embarcação, réplica das utilizadas pelos
piratas estrangeiros no início do povoamento da ilha, muito cobiçada por eles.
A viagem transcorreu num clima muito alegre, com os animadores em trajes de
piratas, promovendo o entrosamento entre brasileiros, argentinos, uruguaios e
outros turistas.
Sobre a
fortaleza o guia da excursão nos contou que esta teve papel fundamental na
vitória da Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, quando era presidente da
República, Marechal Floriano Peixoto. O nome de Florianópolis foi em sua
homenagem. Atualmente há grupos na cidade interessados na mudança. Grande parte
da população, a chama de Floripa. Outros sugeridos: Desterro, Ondina, Ilha da
Magia etc.
Outro
destaque da tradição é seu morador ser chamado carinhosamente por “Manezinho”.
Isso, porque conta a história que em quase toda família de colonização
portuguesa havia uma pessoa ou mais, com o nome Manuel.
Visitando o
bairro açoriano Ribeirão da Ilha, além do deslumbramento com as moradias
semelhantes às das ilhas portuguesas, minha atenção foi despertada pelas
fazendas de ostras, onde nos explicaram o processo e cultivo das mesmas. Depois
houve a degustação “in natura” e no bafo. Preferi optar pela segunda e confesso
que apreciei.
Não poderia
deixar de contatar a vida que se desenrola à beira de uma das maiores lagoas do
Brasil, a lagoa da Conceição. Fomos de barco, conduzido pelos barqueiros. Tal
embarcação funciona como meio de transporte para os moradores que residem nos
postos, ou seja, povoados com pequena população e que sobrevivem da pesca e
turismo.
Conversando com uma moradora do local, que é
pescadora de camarões e rendeira de bilro, soube que pela lei ambiental em
vigor no município, os donos de negócios e mesmo particulares, não podem
construir além da faixa de área territorial estabelecida pelos órgãos
governamentais e estão sujeitos à punição se a ultrapassarem.
Seus
moradores têm raízes sólidas onde nasceram. A mesma senhora que viajou no barco
que nos conduzia, contou que aí nasceu e permanece até hoje. Dos seus dois
filhos, um também reside à beira da lagoa e atualmente é dono de um dos barcos.
Disse que antes de ser proprietário foi entrevistado por um canal de televisão
e quando lhe perguntaram se não trocaria sua vida naquelas plagas por outra
mais lucrativa, ele respondeu firmemente que por dinheiro algum deixaria de
viver e trabalhar na lagoa. Descemos num dos postos de parada e após o grupo se
banhar com as águas formadas pela cascata vinda da mata, almoçamos peixe
pescado na lagoa da Conceição: o carapeva, acompanhado com molho de camarão.
Muito bom!
Tivemos como
ponto alto da programação conhecer o Projeto Tamar (Ta, Tartaruga e mar de onde
ela se origina). É muito bonito acompanhar o trabalho desenvolvido pelos
profissionais da área, para a preservação e perpetuação da espécie. Desse ponto
seguimos em grupo para a Barra da Lagoa. Era a hora do almoço e aproveitamos
escolher no cardápio, o que é comum ser servido na ilha: “sequência de
camarão”. Pedimos para duas pessoas, mas não conseguimos comer nem a metade da
porção, pois a quantidade era enorme. Valeu, pois matei a vontade de comer
camarões preparados de vários modos.
Sobre o
Bairro do Campeche, localizado no sul da Ilha contam os mais antigos que este
Bairro do Campo do Peixe, recebeu a visita do então piloto e escritor francês
Saint-Exupéry, conhecido pelo apelido de Zé Perri. Ele, por várias vezes ficou
nessa região, utilizada na época como parada para entrega de correspondência e
lhe deu o apelido de Champ et Péche, como é conhecida nos dias de hoje. A principal avenida recebeu
o nome do livro que o tornou famoso: Pequeno Principe. Fico a pensar se muitas
de suas prosas poéticas não foram inspiradas nesta ilha cheia de encantos.
Desses, o poeta Edy Leopoldo Tremel se inspirou para compor o que hoje é o hino de Florianópolis. “ um
pedacinho de terra/ perdido no mar.../ um pedacinho de terra/ beleza sem par.”
Por tudo isso
só posso dizer: Valeu ter retornado à Ilha da Magia!
P.S. Em boa
hora leio na edição de hoje do Jornal local “A Gazeta” (dia 07/03/2015): A
primeira cidade melhor para criar os filhos, dentre os 100 melhores municípios
do Brasil é Florianópolis. Também com quase meio milhão de habitantes tem o
terceiro maior índice de desenvolvimento humano
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