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quarta-feira, 18 de março de 2015

ILHA DA MAGIA


                                               Leda Coletti

Após mais de 20 anos voltei a Florianópolis. Devo admitir que só me lembrava vagamente da área central, ou seja da catedral  e da figueira na praça.
Neste fevereiro de 2015, posso dizer que a conheci um pouco mais e por esta razão encantei-me por ela. Ao  mesmo  tempo que tive a sensação de estar numa cidade grande senti a natureza bem presente, pois além do mar, praias paradisíacas e lagoas,  alguns trechos da cidade conservam a mata ciliar, onde há trilhas para quem desejar conhecer e usufruir sua paisagem verde.
Com exceção das construções erguidas nos morros em épocas passadas, não há casas nas partes mais altas. As populares encontram-se nas áreas baixas e para o turista desavisado não há bairros de periferias isolados dos bairros de classe média e alta. Estes últimos existem em condomínios fechados e até abertos, nas praias Jurerê, Santinho com mansões de pessoas com grandes posses, incluindo alguns jogadores de futebol e astros da televisão. Não vimos favelas.  
Conheci lugares pitorescos que caracterizam a iniciação do povoado, às margens da Lagoa da Conceição. Alguns: Santo Antonio de Lisboa e Ribeirão da Ilha. Os casarios antigos com telhas portuguesas e azulejos pintados retratam a chegada dos imigrantes das ilhas dos Açores e Madeira aliciados pelo governo, que ao erigirem a capela do local, escolheram como padroeira, N.Senhora das Necessidades. A guia enfatizou Nossa Senhora do Desterro e oficialmente a padroeira da cidade e também do estado, é Santa Catarina (de Alexandria).
Um dos passeios inesquecíveis foi o de escuna, saindo da região das Canasvieiras para as Fortalezas de Santa Cruz e Santo Antonio.  “Capitão Gancho” era o nome da embarcação, réplica das utilizadas pelos piratas estrangeiros no início do povoamento da ilha, muito cobiçada por eles. A viagem transcorreu num clima muito alegre, com os animadores em trajes de piratas, promovendo o entrosamento entre brasileiros, argentinos, uruguaios e outros turistas.
Sobre a fortaleza o guia da excursão nos contou que esta teve papel fundamental na vitória da Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, quando era presidente da República, Marechal Floriano Peixoto. O nome de Florianópolis foi em sua homenagem. Atualmente há grupos na cidade interessados na mudança. Grande parte da população, a chama de Floripa. Outros sugeridos: Desterro, Ondina, Ilha da Magia etc.
Outro destaque da tradição é seu morador ser chamado carinhosamente por “Manezinho”. Isso, porque conta a história que em quase toda família de colonização portuguesa havia uma pessoa ou mais, com o nome Manuel. 
Visitando o bairro açoriano Ribeirão da Ilha, além do deslumbramento com as moradias semelhantes às das ilhas portuguesas, minha atenção foi despertada pelas fazendas de ostras, onde nos explicaram o processo e cultivo das mesmas. Depois houve a degustação “in natura” e no bafo. Preferi optar pela segunda e confesso que apreciei. 
Não poderia deixar de contatar a vida que se desenrola à beira de uma das maiores lagoas do Brasil, a lagoa da Conceição. Fomos de barco, conduzido pelos barqueiros. Tal embarcação funciona como meio de transporte para os moradores que residem nos postos, ou seja, povoados com pequena população e que sobrevivem da pesca e turismo.
 Conversando com uma moradora do local, que é pescadora de camarões e rendeira de bilro, soube que pela lei ambiental em vigor no município, os donos de negócios e mesmo particulares, não podem construir além da faixa de área territorial estabelecida pelos órgãos governamentais e estão sujeitos à punição se a ultrapassarem.
Seus moradores têm raízes sólidas onde nasceram. A mesma senhora que viajou no barco que nos conduzia, contou que aí nasceu e permanece até hoje. Dos seus dois filhos, um também reside à beira da lagoa e atualmente é dono de um dos barcos. Disse que antes de ser proprietário foi entrevistado por um canal de televisão e quando lhe perguntaram se não trocaria sua vida naquelas plagas por outra mais lucrativa, ele respondeu firmemente que por dinheiro algum deixaria de viver e trabalhar na lagoa. Descemos num dos postos de parada e após o grupo se banhar com as águas formadas pela cascata vinda da mata, almoçamos peixe pescado na lagoa da Conceição: o carapeva, acompanhado com molho de camarão. Muito bom!
Tivemos como ponto alto da programação conhecer o Projeto Tamar (Ta, Tartaruga e mar de onde ela se origina). É muito bonito acompanhar o trabalho desenvolvido pelos profissionais da área, para a preservação e perpetuação da espécie. Desse ponto seguimos em grupo para a Barra da Lagoa. Era a hora do almoço e aproveitamos escolher no cardápio, o que é comum ser servido na ilha: “sequência de camarão”. Pedimos para duas pessoas, mas não conseguimos comer nem a metade da porção, pois a quantidade era enorme. Valeu, pois matei a vontade de comer camarões preparados de vários modos.
Sobre o Bairro do Campeche, localizado no sul da Ilha contam os mais antigos que este Bairro do Campo do Peixe, recebeu a visita do então piloto e escritor francês Saint-Exupéry, conhecido pelo apelido de Zé Perri. Ele, por várias vezes ficou nessa região, utilizada na época como parada para entrega de correspondência e lhe deu o apelido de Champ et Péche, como é conhecida  nos dias de hoje. A principal avenida recebeu o nome do livro que o tornou famoso: Pequeno Principe. Fico a pensar se muitas de suas prosas poéticas não foram inspiradas nesta ilha cheia de encantos. Desses, o poeta Edy Leopoldo Tremel se inspirou para compor  o que hoje é o hino de Florianópolis. “ um pedacinho de terra/ perdido no mar.../ um pedacinho de terra/ beleza sem par.”
Por tudo isso só posso dizer: Valeu ter retornado à Ilha da Magia!


P.S. Em boa hora leio na edição de hoje do Jornal local “A Gazeta” (dia 07/03/2015): A primeira cidade melhor para criar os filhos, dentre os 100 melhores municípios do Brasil é Florianópolis. Também com quase meio milhão de habitantes tem o terceiro maior índice de desenvolvimento humano

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