Pedro
Israel Novaes de Almeida
Apesar dos apelos comerciais, a
aproximação do Natal ainda segue semeando um clima de maior fraternidade
humana.
No ambiente de trabalho, as
brincadeiras de amigo secreto, com a espontaneidade um pouco inibida pela
presença dos chefes, descontraem o ambiente, após mais um ano de convivência. A
limitação do valor dos presentes equipara os gastos, poupando exibições de
riqueza.
Nos jardins, lâmpadas chinesas e
gambiarras elétricas tentam eletrocutar pessoas e torrar plantas, mas sempre
acabam embelezando o ambiente. Presépios lembram que a data é um aniversário, e
valorizam o aconchego de uma humilde e festejada manjedoura.
Nos supermercados, consumidores
amargam preços de ocasião, e lotam carrinhos. Carnes vão, ano a ano, cedendo
lugar a frutas, mas ainda seguem recordistas em vendas, ao lado das bebidas.
Filhos de pais sovinas já não
estranham o fato de comer panetone em meados de janeiro, e ovos de páscoa em
julho.
Nas lojas, crianças tentam emocionar
os pais, que aproveitam a oportunidade para jogar a culpa do baixo salário em
Papai Noel, ou lembrar que o presente é um prêmio por algum bom comportamento.
Houve um tempo em que as crianças
acreditavam no bom velhinho, mas sempre existiram os malvados, ensinando que é
uma criação humana.
Religiosos aproveitam a data para
cultos e encontros, e voluntários tentam minorar os sofrimentos alheios.
Seresteiros, em grupo, alegram o ambiente.
Para a maioria, o Natal é um pretexto
à beberagem e comilança, entremeada por um ou outro cumprimento. É um desfilar de emoções.
Muitos passam o Natal entristecidos,
pois é inevitável a lembrança dos que já se foram e das alegrias que
presenciamos. O Natal é o exercício da gargalhada em público e do choro
solitário.
Mas não convém permitir que a
natural tristeza, uma quase melancolia, perpétua saudade, macule a festa e a
alegria dos que ainda não possuem passado.
É hora de festejar, sorrir e presentear, lembrando sempre os heróis do
dia-a-dia, garis, socorristas, catadores de reciclados, guardas-noturnos,
animais domésticos e tantos outros.
O espírito do Natal, lembrando o
surgimento de uma boa nova, faz falta à humanidade, já quase acostumada aos
episódios diários de violência, com assassinato de crianças e degolas, à título
de manifestação política, entremeada com radicalismo religioso. Faz falta ao
ambiente de praças e esquinas, onde a pressa do dia a dia e a busca da
sobrevivência faz vítima a solidariedade.
E assim, de festa em festa, a humanidade
segue sua trilha, entremeando feitos grandiosos com retrocessos desastrosos. Não
sabemos o destino final da caminhada, mas a memória do aniversariante, homem
brilhante, enviado celeste ou feliz criação de pensadores da época, indica um
caminho e leciona virtudes que percorreram séculos e ainda inspiram grande
parte da humanidade.
É natal.
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