Leda
Coletti
Começo do século
XX do nosso país, no então chamado Brasil-colônia. Época em que predominavam os
imigrantes europeus nas nossas lavouras, que chegaram após à abolição dos
escravos, principalmente no estado de São Paulo. Fugindo de situações difíceis
em que viviam na Europa, sobretudo da guerra, vinham para a “América”, sonhando
com dias melhores, pois tinham notícia, que neste “torrão tudo se transformava
em ouro”.
De início a
maioria ia trabalhar nas grandes propriedades de cultivo do café e dependiam economicamente
dos patrões, que os exploravam e não ofereciam condições de vida digna para
suas famílias.
Os campos se
vestiam de verde esmeralda dos cafezais, exibindo grãos vermelhos como rubis;
mais tarde, os canaviais também verdes da cor do mar, se sobressaiam nas paisagens campestres.
Embora no final
do século XIX houvesse ocorrido por lei a libertação dos escravos, estes
continuaram nos campos, na sua maioria dependentes economicamente dos
fazendeiros.
A vida campesina
começava muito cedo, quando os colonos em trajes próprios para se protegerem do
sol, iam pelos carreadores, com as enxadas aos ombros e na época da
colheita,(no caso, a cana), com seus facões bem afiados. As mulheres e crianças
se movimentavam prontas para o trabalho e a escola. As primeiras cuidavam dos
afazeres da casa, além de levar o almoço às nove horas para os que trabalhavam
na roça, lavar roupa no riacho próximo, buscar água no poço para provisão
diária. Já as crianças para irem à escola, caminhavam alguns quilômetros,
geralmente descalços, levando os parcos cadernos na sacola de pano.
As brincadeiras da garotada tinham o mesmo sabor das frutas
doces, colhidas nos quintais sem muros. Essas cirandas infantís eram imitadas
pelos adultos, que nos finais de semana se divertiam com os bailes nas tulhas,
ou em palizados improvisados com taquaras ou bambus.
Não havia muito
consumo de bens materiais, pois a população campesina se bastava, alimentando-se
com os cereais, verduras e legumes colhidos nas hortas que eles próprios
plantavam e cuidavam, bem como da carne e ovos das galinhas e patos; era comum
criarem porcos que lhes forneciam além da carne, a banha utilizada no preparo
dos alimentos. Também peixes, pescados nos rios ou ribeirões que abasteciam as
fazendas. Poucas roupas e calçados consumiam. Geralmente as mulheres costuravam
as roupas de todos os familiares e os calçados eram passados dos mais velhos
para os mais novos
Nessa primeira metade
do século passado chegaram outros imigrantes, como japoneses, sírios, que se
fixaram mais nas pequenas cidades que despontavam.
Destacando mais
os imigrantes europeus (de quem descendemos), muitos deles com famílias
numerosas conseguiram com muito sacrifício se desvencilhar do poder patronal ,
comprando pequenos pedaços de terra, onde procuravam se manter. Devagar despontaram no cenário
nacional.
Decorrente
inicialmente da queda dos cafezais, devido às fortes geadas, aconteceu a
primeira leva do êxodo rural. Partiam os rurícolas para tentar nova vida como
trabalhadores das pequenas indústrias que surgiam nas cidades maiores..
A grande
arrancada para as cidades se deu mais acentuadamente na segunda metade do
século XX, com o advento cada vez maior das indústrias e criação de usinas de
açúcar. Estas passaram a transportar da cidade para o campo os cortadores de
cana diariamente, dando origem à terminologia “bóia fria”, desde que levavam a
marmita e comiam nas roças, a comida sem esquentar.
A paisagem campestre
sofreu mudanças totais. As colônias com casas simples, dispostas lado a lado,
foram demolidas e no lugar surgiram os canaviais. Não existem mais as escolas
rurais e as chácaras hoje existentes perto das rodovias, são na maioria casas
de veraneio.
Onde havia um
vozerio alegre, silêncio e desolação restaram. Ao homem que se mudou para a
metrópole impelido pelas circunstâncias expostas, só restou relembrar a vida
difícil, mas prazerosa que lá vivenciou. Geralmente são os idosos atuais.
Quando interrogados, dizem o que alguém poeticamente escreveu um dia: “Eu era
feliz e nem sabia.”
Este texto foi
escrito, após vermos a exposição Naif no Sesc Piracicaba e apreciar uma bela
tela intitulada “ Antes do Êxodo Rural” de Miguel S.S.S. de Marília e que nos
fez reviver um pouco da história dos nossos antepassados e um pouco da nossa
trajetória pessoal.
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