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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

POLÍTICOS E ELEITORES


                              

                                                                           Pedro Israel Novaes de Almeida

            É estranho o contexto político brasileiro.
            A população, pela esmagadora maioria, amaldiçoa a classe política, apontando-lhe as seculares práticas de corrupção, desvios, compadrios e a quase uniforme falta de ética. Contudo, abertas as urnas, de novo ressurgem os blasfemados, para nova gestão, e nova desaprovação verbal popular.
            O diagnóstico de que a premiação eleitoral de maus políticos decorre de nossos baixos índices de escolaridade e cultura tropeça na realidade de grupos intelectualizados, que também estrumam nas urnas e apoiam figuras sabidamente incapazes de zelar pelo bom andamento das ações oficiais.
            Enquanto o vozerio lamenta a eleição das presidências do Senado e Câmara Federal, poucos percebem a realidade das câmaras municipais, onde vizinhos de quarteirão não desempenham mandatos éticos. Em verdade, julgamos absurda a desvalia de legisladores estaduais e federais, e normal a desvalia dos legisladores próximos.
            Existem interesses, poderes e meios, tão gigantescos quanto nebulosos, em constante e pouco percebida indução da opinião e vontade populares, manejando-nos pela ação das mídias, verbas, nomeações, favores, taxações e renúncias de receitas. É como se um monstro invisível estivesse definitivamente instalado nos ambientes de poder, a orientar-nos o voto e, principalmente, domesticar eleitos.
            Apesar das tramas e tramóias dos poderosos, os políticos nascem em nosso meio, brincam nas mesmas calçadas, padecem das mesmas diarréias, cursam as mesmas escolas, namoram nos mesmos portões e iniciam carreiras profissionais como todos os brasileiros. Eleitos, acabam, a maioria, desfigurados, como se adentrassem um antro castrador de virtudes.
            Acontece com os políticos e com a maioria de nós, déspotas e desrespeitadores ao primeiro cargo de chefia ou realce social. Não é nada bonito, mas a maioria dos brasileiros malversa a autoridade que lhe é delegada.
            A educação que falta transcende os bancos escolares, e a maioria de nossos princípios e valores vale mais no domicílio que no ambiente externo. Orgulhamo-nos, ainda, o jeitinho, o quebra-galho e a cotidiana exceção.
 Esperteza é a desonestidade do amigo, e criminosa a esperteza do desafeto. Nossa indignação é cada vez menor e passageira, a ponto de expressivos contingentes já julgarem injustas e radicais as medidas oficiais de compulsória regularização de casas noturnas, após o trágico incêndio em Santa Maria (RS).
Ladrões de carteirinha e currículo, personagens comuns em manchetes escandalosas, reunem multidões de adeptos, estudados e cultos, ou iletrados de toda ordem, alguns pessoalmente honestos.
Sofrem, e muito, os que percebem o fosso ético em que estamos metidos, e tentam remar contra a corrente. São revolucionários, muitas vezes mal vistos e discriminados, mas verdadeiros heróis, que discutem, portam cartazes e cerram fileiras de insatisfeitos. Destoam da normal subserviência e escancaram acordos de bastidor.
Resta-nos o apoio e incentivo e, principalmente, a retomada de alguns valores e princípios que, por desuso, andam esquecidos.

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