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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

ASAS


Olivaldo Júnior


Que saudade do tempo em que eu era um passarinho,
e o céu azul, a lua cheia e o sol a pino eram meu ninho!

Não havia nada
além do corpo
e sua leve
e livre
e solta, etérea   p   a    z     ...

Hoje, preso às minhas roupas,
aos meus modos de ser e de agir,
sou muitos e vivo a perseguir
quem pode ser igual às aves todas,
com asas cálidas, querendo ir

terça-feira, 29 de outubro de 2013

INTERSECÇÃO


Ana Marly de Oliveira Jacobino

Sua velhice nada tinha a ver
Na sua poesia! Nada!
Escreve versos para dar conta
Da alma surrada pela vida.
A morte nesta hora faz presente, sempre!
Num amigo que se vai,
No pai que lhe deixou
Mas, ainda amando as mulheres
Mesmo no seu leito de morte!
Mulheres! Promessas de versos
Poemas repletos de redondilhas
Esquematizadas ou não pelo poeta.
Ele ainda tão jovem
Resvala com a morte, sempre!
De onde ela surge assim, imprevisível
No meu Eu ou no seu...
Somos a mesma pessoa...
lá vem a morte...
Mancando com marca do meu nome
Num escrutínio amassado.
Amarelo, ressecado, empoeirado!
Imagem do que fui e ainda sou
Poeta das desventuras
Sentado no banco do destino,

Vendo-me passar!

sábado, 26 de outubro de 2013

FRUTOS DA MUDANÇA



Esther Vacchi Passos

Na década de 70, quando eu ainda morava em São Paulo, iniciando minha família, morava ao lado da minha saudosa sogra, Dona Maria. Sempre nos reuníamos e conversávamos a perder de vista.
No quintal da casa dela ao lado direito da porta da cozinha, havia um vaso de cimento redondo com uma flor, e junto dela, no mesmo vaso, uma muda de jabuticaba, que ali germinou e permaneceu estagnada.
A muda ficou neste vaso por mais de dez anos, sem poder desenvolver-se por falta de espaço, clima frio e falta de perspectivas. Nesse meio tempo, nos mudamos para Piracicaba. Um dia, entre conversas, sugeri a Dona Maria que iria levar a muda para plantar no meu quintal.
Com cuidado, a bordo da nossa brasília amarela, levamos a planta ainda no vaso e plantamos entre um abacateiro e um pé de acerola.  Molhamos, adubamos e a jabuticabeira logo se acostumou com o clima quente e seu novo habitat.
Nasceram novas folhas, novos galhos e hoje ela está enorme, entrelaçada com as pontas do galho do pé de acerola e todos os anos dá muitos frutos. Todos saboreiam, inclusive os pássaros, e ficamos admirados com os frutos dessa árvore que se mudou.

Nossa vida é assim, às vezes plantamos e não colhemos, outras colhemos ainda em vida e com alegria, outras precisamos, como algumas árvores, ser arrancadas e replantadas, para assim darmos frutos, os Frutos da Mudança.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Fim de tarde




Carmen M.S.F.Pilotto

O dono em casa, alegria infinda
Mel corta o ar em corrida incontida
Pula no pufe, salta a almofada
Na ânsia de se fazer presente

Não sabe de rotinas desgastadas
Ou se existe crise no planeta
Seu desejo é só se sentir notada
E receber um afago benfazejo...

sábado, 19 de outubro de 2013

Pobre de mim...



Ah, pobre de mim
que possuo um coração
que não me visita,
me ausenta...

O APRENDIZ



Olenio F. Sacconi

Era um cãozinho travesso,
que aprendeu com a mamãe
a latir para os carros.
Latia e corria, latia e corria.
Até que, um dia, um carro parou.
E o cãozinho surpreso,
olhou para a cachorra, na calçada
e disse atrapalhado: “Mamãe,

e agora, o que eu faço?”

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O PAVÃO


                                                                       Leda Coletti

Antes de ler um pouco sobre mitologia grega, especificamente sobre deuses como Zeus e Hera, não havia prestado tanta atenção nas plumas coloridas do pavão. Não imaginaria que estas cores tão bonitas e que formam um todo colorido e esfuziante seriam explicadas fantasiosamente à luz desses mitos.
Conta a história que Hera, rainha do Olimpo era conhecida como protetora do casamento e da mulher. Zeus seu marido a traia com muitas amantes. Algumas ele as seduzia transformando-se em cisne, como foi o caso de Leda, rainha de Esparta. Já com Ios foi diferente. Hera não se conformando com a traição  a transforma numa vaca e ordena que o monstro Argos tome conta dela noite e dia, por ser dotado de muitos olhos e ter o poder de ficar sempre acordado. Por sua vez Zeus manda Hermes eliminá-lo. Hera fica tão triste com este desfecho, que  em homenagem ao fiel escudeiro, conserva seus olhos enfeitando com eles as plumas de sua ave preferida, o pavão.
O resultado realmente é digno de admiração, pois o pavão quando exibe sua cauda chama a atenção pelo colorido delas, salientadas pelas bolas azuis, “os olhos do dragão”.
Hera com certeza teve o aplauso de muitas deusas da época, que se sentiam traídas pelos deuses, guerreiros, seus companheiros. Revertendo estes episódios para a época atual, muitas mulheres também ficam possessas e alimentam sentimentos de vingança quando traídas.
 De vez em quando a mídia noticia alguns imitadores, como foi o caso daquela mulher  que indignada matou com facadas seu esposo e depois de esquartejar seu corpo, jogou-o   num matagal.

O que um ato movido pela emoção desmesurada pode causar! Oxalá esses comportamentos estranhos e hediondos e que demonstram psicopatias graves não se repitam.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Carta aberta aos professores


Olivaldo Júnior

            Hoje é dia quinze de outubro, ou seja, Dia do Professor. Não, não colocarei roupa nova, nem irei ao shopping mais próximo comemorar. Em vez disso, estou pensando em colocar um pano preto na janela como sinal de luto. A luta continua, mas o luto é inevitável. Não há como deixar de ver o quanto sofre o Rio de Janeiro com os constantes embates, nas últimas semanas, entre policiais e professores. Que país é esse, você e eu sabemos bem, e não é de hoje. Mas hoje é Dia do Professor, e eu quero ver o professor em sala, com salário digno, nem que seja o mínimo, para comprar livro, que, num país como esse, ainda é caro, meu caro. Carolina não é só aquela da canção do Chico, mas uma moça que existe aqui e ali no Brasil. Será que ela sabia ler e escrever?
            Tenho pensado muito em como as crianças são vulneráveis à primeira educação que recebem. Isso me faz pensar em quanto trabalho se tem para desentortar os pensamentos de quem chega à escola hoje em dia. O professor, muitas vezes, em jornada tripla, mal tem tempo de saber os nomes dos alunos e tentar “passar” o conteúdo programático anual a tempo de encerrar mais um ano com a sensação de dever cumprido e... já é Natal! Boas festas, boa nova, e um novo ano se inicia. Mas, para o mestre, nem sempre é novo o Ano Novo. Olhos na lousa, não no joguinho, ó, menino!
            A vida segue, e eu me cego, mas me lembro de quem me ensinou alguma coisa. Minha mãe, meu pai, meu irmão, meus professores e todos com os quais convivo e convivi me ensinaram alguma coisa. Quase sempre, perde-se a fonte, a origem do saber, mas o sabor não passa, corre solto ao céu da boca e se estatela sobre a língua quando está cristalizado. Cristalizar informação é transformar em “diamante” o verbo ao vento.
            Hoje eu queria cantar um pouco e fazer de conta que sou mestre. Abrir o caderno e lhe ensinar o sim da vida, o não da morte e o quanto a sorte é boa ou má. Mas só me restam as palavras, minha mãe e a solidão de ser sozinho neste quarto, sem amigo para um canto, sem um canto para um coro, sem coro para honrar os professores. Solidão é matéria vasta, veste-se de luto e acaba assim, reivindicando o que lhe seria óbvio: não apenas pão, nem circo, mas pão, circo e consciência para aproveitá-los como homens. Homens que se tornam mestres não deveriam ser dignos de pena, e a pena é a máxima.


APERTAR BOTÕES


Dirce Ramos de Lima

Viva a tecnologia!

A criança esperta,
todos os botões aperta,
e sempre acerta um!
O adulto consciente,
hesita na múltipla escolha,
e aperta nenhum!

Se viver é aceitar desafios
a bomba vai explodir em flores
ou em horríveis odores
de um enorme pum!

Então,
deixe a criança brincar,
apóie o adulto que errar...
Nada pior vai acontecer

do que viver ou morrer!

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

João e Maria


Olivaldo Junior


            João e Maria pode ser um conto de fadas coletado pelos Irmãos Grimm na Alemanha, no século dezessete, e uma canção de música popular composta por Sivuca e Chico Buarque no Brasil, no século vinte. Mas eu penso que João e Maria podem ser qualquer pessoa que se disponha a procurar uma saída para o bosque em que se encontra, ou a puseram. Qualquer pessoa pode ser João e Maria. Ou José e Maria, que, não há como negar, também foram peregrinos em busca de pousada, de um refúgio pela noite escura de Belém. Lembro-me de que as migalhas de pão me impressionavam.
            Tenho, a vida toda, deixado as famosas migalhas de pão pelo caminho. Eu, que sempre quis ser passarinho (logo eu!), suspeito de que tenha havido um passarinho que comeu minhas migalhas, aquelas que esperava que um amigo encontrasse e viesse ter comigo a mesma experiência. “Agora eu era o herói / E o meu cavalo só falava inglês”, cantou Buarque na década de 1970, mais precisamente, em 1977. A canção, cujo tema pode ser infantil, também pode ser vista como música política (eu sei, toda música é política, mas eu digo em caráter especial). Nos tempos da ditadura militar no Brasil, qualquer canção de certos artistas tinha conotação política. E, se não tivesse, hoje, olhando para aquele tempo, impregnamos de política até mesmo os versos pretensamente infantis de uma canção tão doce quanto João e Maria. “Agora eu era o rei / Era o bedel e era também juiz”... Pode haver coisa mais linda que o faz-de-conta? Talvez, o João e a Maria dos Irmãos Grimm cantarolassem a canção popular se ela tivesse sido composta à época em que viviam na hora de dormir lá na Alemanha.
            Jogo, na verdade, ainda hoje, as minhas muitas migalhas. São pedidos para que alguém me acompanhe o canto, ou leia o que escrevo, ou goste de mim. O pai está em outra, o irmão estava e está bem longe, mas a mãe está perto. Não é madrasta, nem fada-madrinha que se vira em bruxa, mas mãe. Não morre ao fim do conto para que tudo se acalme. Bem que alguém podia tocar João e Maria para eu cantar, jogar migalhas estrada afora de mim. “Agora era fatal / Que o faz-de-conta terminasse assim”, porque tudo termina. Difícil resistir aos doces e não dar a si o gosto da morte: outra vida.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

INFÂNCIA II


Marisa Bueloni


Meu pai enrolava por entre os dedos
Um cigarro de palha caprichoso
Moviam-se ali tantos segredos
Daquele fumo sempre bem cheiroso

Meu pai me oferecia um pedacinho
Do fumo preto para que eu cheirasse
- Faz espirrar! - dizia com carinho,
Para que, em seguida, eu espirasse

E num  espirro, a saudade bate
Meu coração mais uma vez se abate
E nas lembranças, triste, me retiro...

Fumo de rolo e uma mangueira
Lembrança linda e tão verdadeira
Quero espirrar... e só suspiro!..

sábado, 5 de outubro de 2013

Pouco Soneto pra muita idade


Lídia Sendin

Não tenho pressa, nem necessidade,
Não me afobo, nem sou de correria,
Vem comigo toda a felicidade
De achar em cada canto uma poesia.

Para sempre estarei nessa idade
Em que ninguém mais pensa no outro dia,
Qualquer hora pra mim tem caridade
E cada amanhecer é uma alegria.

Nessa idade, que dizem é a melhor,
Nenhum degrau impede meu avanço,
Nem recuos seguram minha vontade,

Não é boa, mas também não é a pior,
Eu não luto, mas não quero descanso;
Pois descanso terei na eternidade.

 Poema selecionado em 1º. Lugar no concurso de São João da Boa Vista

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Convite especial de Carmen Pilotto


Gostaria muito de convidá-los e a todos os Membros para o evento abaixo. Será inaugura uma exibição externa que pode até ser publicada futuramente pelo Instituto Histórico:
 
 
ESALQ apresenta palestra e exposição sobre a vida de Luiz de Queiroz

  
Com o intuito de apresentar a biografia do idealizador da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), serão realizadas, em 7 de outubro, palestra e exposição sobre a vida e legado de Luiz de Queiroz.
A palestra intitulada “Os pioneiros e seu tempo: o legado de Luiz e Ermelinda de Souza Queiroz” será ministrada por Jacques Marcovitch, professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, autor de livros sobre os grandes empreendedores e pioneiros do Brasil, dentre eles Luiz de Queiroz. A palestra dará sequência à inauguração da exposição “Luiz de Queiroz – vida e obra, uma percepção humanística”, que apresentará, por meio de dez painéis bilíngues (português e inglês), sua genealogia, educação e convívio familiar, a personalidade notável e a busca pela inovação e visão empresarial. A exposição, que trará fotos e textos, também contará com uma linha do tempo de 1849 até os dias atuais.
Os dois eventos integram a programação da 56ª Semana “Luiz de Queiroz” que, neste ano, com o tema “Empreendedorismo Inovador”, pretende estimular o intercâmbio técnico e científico entre universidade e empresas por meio do debate de temas relacionados à ambiente de inovação, financiamento e inovação aberta, bem como casos de sucesso de empresas que surgiram no ambiente acadêmico. A exposição será inaugurada às 18h, no Espelho de Água ao lado do Edifício Central e a palestra acontecerá no Salão Nobre, no 1º andar do Edifício Central, às 18h30. A participação é gratuita.
O palestrante - Jacques Marcovitch, professor da Universidade de São Paulo (USP), dedica-se ao estudo do pioneirismo empresarial, estratégia e inovação com foco no crescimento econômico, na distribuição de renda e na sustentabilidade ambiental. Desde 2002, tem pesquisado as políticas de implantação da Convenção do Clima com ênfase na redução dos gases de efeito estufa na atmosfera. Master of Management pela Vanderbilt University (EUA), Doutor em Administração pela FEA/USP, e pós-doutorado pelo International Management Institute (Suíça).
Foi Reitor da USP de 1997 a 2001, Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária da USP de 1994 a 1997, Diretor do Instituto de Estudos Avançados e da FEA/USP, Presidente das Empresas de Energia do Estado de São Paulo (CESP, CPFL, Eletropaulo e Comgás) e Secretário de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo. Atualmente, além das atividades acadêmicas, é membro do Conselho Superior do Graduate Institute of International and Development Studies(IHEID), em Genebra na Suíça. Recebeu vários reconhecimentos, entre eles: l´Ordre Nationale de la Legion D´Honneur (França), Prêmio Jabuti, Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco e Grã Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico.
 
Cordialmente
Carmen Pilotto
Assistente Técnico de Direção - Cerimonial
ESALQ/USP
fone: 3429.4110
 

FILOSOFIA FRANCISCLAREANA

           

Maria Cecilia Graner Fessel
                       
Pelas mãos de um serafim de seis asas
Tento alcançar seus ares rarefeitos
Mas a leveza celestial me atrasa
É incompatível com meu cérebro imperfeito.

Tenho medo de afogar-me, tenho medo
Da celestial leveza desta atmosfera
Que me arrasta, me seduz, me asfixia,
Prometendo desvendar-me o seu segredo.

Assusta-me também deixar as águas rasas
E mergulhar nessa amplidão de amor,
Mas tanto anseio partilhar desse fervor
Que mal percebo meus pulmões em brasa!

Não posso alongar mais tão doce espera
Arrisco-me a virar casca vazia
      Ou alma insatisfeita, a vaguear vadia
       A me perder em múltiplas quimeras.

Ah, minh’alma, empreende logo a espiritual jornada
Abandona o fardo desta fria mente
Que te prende, te segura e te desmente:
                                        Vai  buscar a tua imagem projetada
Aconchega-te no colo doce e terno

 E usufrui do imenso amor do Pai Eterno!

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O velho


        Leda Coletti  

Seus cabelos brancos
lembram algodão doce,
 as rugas na face cansada
mostram longa história,
colcha de retalhos
de muitas cores e tamanhos.
Seus passos lerdos
reforçados por rústica bengala,
sugerem rastros saudosos
de um caminhar glorioso.
Bom e respeitável velhinho:
deixe-me beijar sua fronte
e suas mãos tão calejadas!
Ensina-me a fazer do meu presente
um pouco do seu passado radioso.
Se assim acontecer, tenho certeza,
não passarei apenas no mundo,
mas viverei de modo intenso
ajudando a construir um universo

com mais justiça, paz e amor.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Primavera em flor


Esther Vacchi Passos

Linda estação do ano, a Primavera. Sinto alegria ao ver os jardins floridos com tanta beleza. As flores sempre fizeram parte de nossas vidas, desde o dia do nosso nascimento, quando entregam às mães ramalhetes multicores.
No nosso aniversário as orquídeas e gérberas róseas chegam de surpresa nos trazendo alegria. Na noite do baile de formatura, enormes arranjos com lírios, rosas, jasmins, antúrios coloridos e melindres, pendentes e perfumados, ornamentam o salão iluminado.

Rosas vermelhas dão realce ao buquê da noiva e aos arranjos no dia do casamento. Nas bodas, as rosas brancas se misturam com carmim, mas no dia derradeiro, no último adeus, ganhamos coroas de todas as flores e cores.