Elda Nympha Cobra Silveira
A cidade entardeceu em incertezas, como as brumas dum
futuro alvissareiro que se tem de espreitar de perto, enquanto o governo não se
toca e nem satisfaz os anseios de um povo esperançoso.
Fiquei filosofando sobre o desgaste impaciente dessa vida,
na coragem dos jovens enfrentando a polícia por qualidade de vida, no jogo de
vaidades, de ambições, dos desencontros, das incertezas, na fixação pelo ganhar
e conseguir suas metas de consumo desenfreado.
A cidade nesse domingo estava vazia! No terraço do meu
apartamento olhava para as ruas! Um cão vira uma esquina e desaparece. Será que
tem dono, ou é mais um solitário sem teto perambulando pela cidade?
Pensei em sair para ver minhas netinhas, mas o edredom
macio e aconchegante despertou um langor preguiçoso que me levou a uma soneca.
E o dia foi nublando de repente, e tão de repente a chuva despencou numa
turbulência insólita, para nós piracicabanos, acostumados à calidez dos dias
suados que expurga nossos miasmas do cotidiano, e que se alteraram pelos fatos
desenrolados a olhos vistos, para o bem ou para o mal.
De repente, os ventos uivantes têm o poder de me despertar
para ir até o terraço me inteirar do barulho. Através da vidraça vejo um
temporal dantesco, com ventos ululantes e embravecidos, rasgando os ares,
acompanhado de uma chuva de granizo, que salpicava a vidraça e forrava o
chão do terraço de granito.
A noite cai e eu sem TV, sem computador, sem telefone sem o
celular, sem elevador!Como a eletricidade faz falta! Como tudo depende dela!
Quero sentir-me indiferente, mas não consigo. Penso na
família, nos amigos, no próprio prédio, no trânsito, nos desastres que ainda
vão acontecer... E a preocupação se instala! Não tem choro, mas tem vela e
pus-me a tricotar, até à meia noite, para desanuviar pensamentos negativos.
Vi no dia seguinte a avaria e dispêndio que muitas pessoas
e a cidade sofreram e agradeci a Deus por sua misericórdia para comigo. Esse
cataclismo não escolhe nem ricos nem pobres porque vários bairros foram afetados.
Ele não escolheu lugar nem pessoas. Veio como um rolo compressor arrancando
árvores com raízes a mostra e derrubando muitas, que danificaram muros, carros
e casas. A ventania foi tão forte, que até postes de concreto foram arrancados.
Será que Deus enviou essa chuva para deixar tudo limpo, até
nossos corações?
O Papa Francisco mobilizou tantos jovens, com sua
força carismática e a juventude, força viva da humanidade, veio de todos os
países do mundo, para enfrentar chuva e frio, e ouvir do Papa, que a cólera, a
indiferença ao nosso próximo, a desesperança, o medo de conhecer um futuro
promissor, não abata aqueles que se preparam para tomar conta do amanhã, e
conclamou para que tenham fé e que com boas atitudes marquem presença nessa
década como peregrinos da esperança.
A chuva desencadeada com fúria, para mim é uma metáfora a
ser entendida como um alerta para nos fazer pensar mais profundamente na fé do
Altíssimo, no batismo da esperança, mais profundamente na nossa vida espiritual
e eterna para lavarmos nossas idéias de desamor, de vícios, da desigualdade, do
culto ao poder, ao dinheiro; enfim que todas as palavras do Papa entrem nos
corações limpos e abertos ao amor de Deus, que só está esperando que abramos as
portas para Ele entrar:
-“Eis que estou à sua porta e bato.”
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