Nunca sentimos qualquer atração pela
carreira militar, até por faltar-nos os requisitos da obediência e disciplina.
Como a maioria dos pais,
acompanhamos, aos sobressaltos, o alistamento dos filhos, no Serviço Militar
Obrigatório, justamente quando do início dos cursinhos pré-vestibular ou de
faculdades. A seleção para cumprimento do Serviço tem, para muitos, o vislumbre
de danos à carreira estudantil.
A expectativa e ansiedade dura até a
última apresentação, quando é noticiada a dispensa por excesso de contingente
ou efetiva incorporação. No período, não faltam boatos de que prefeitos e
outros influentes podem indicar nomes à dispensa, o que subverteria a solidez
do procedimento e sua própria credibilidade. Grande parte dos custos dos Tiros
de Guerra são arcados pelas prefeituras.
Na verdade, a rotina dos Tiros de
Guerra acaba sendo útil a muitos jovens, que podem descobrir algum pendor pela
carreira ou frequentar um ambiente de obediência e disciplina, bastante raro
hoje em dia. Dizem que os horrores e sofrimentos de outrora ficaram no passado.
As regras para dispensas e
incorporações devem ser claras, evitando o incômodo da expectativa e
desconfiança. É direito de todo alistado saber o enquadramento de cada decisão,
eis que pública e necessariamente motivada.
Tarda o Congresso em editar lei que
trate do Serviço Civil Alternativo, constitucionalmente previsto, e que teria o
condão de aumentar o benefício da prestação e diminuir o stress da ocasião.
Sentimos, os pais que acompanham os
filhos, a penúria que assola as dependências militares, e a mudança no perfil
profissional. Militares tratam-nos com urbanidade, enquanto funcionários civis
podem tender a hierarquizar os relacionamentos, como se detentores da altas
patentes.
A maioria dos exércitos, outrora
mantida como instrumento de guerra, hoje atua como garantidora da paz. Povos
desarmados atraem aventureiros os mais diversos.
Em fases negras da história, alguns
exércitos, por legalistas, garantiram regimes espúrios, enquanto outros
deixaram de lado a legalidade para fundar ditaduras. Os exércitos, muitos,
dedicam-se a cultuar a ciência, a tecnologia, a inteligência estratégica e um
conjunto de valores. Possuem estruturas de engenharia, insubstituíveis em
algumas regiões, e promovem a integração e socorro a populações distantes.
No Brasil, os exércitos seguem pouco
assistidos, mas legalistas e profissionalizados. A história insiste em
creditar-lhes horrores como se a população civil, principalmente policiais e
financiadores, não tivesse tido qualquer participação, e como se não houvesse
existido uma guerra armada, ideológica. Para evitar uma ditadura, acabaram
fundando outra.
Militares não são clones, e possuem
opiniões individuais, como humanos que são. As posturas profissionais são
semelhantes, até por dever de ofício, mas cumpre notar que atrás de cada farda
reside um cidadão, com direitos e deveres, alegrias e frustrações. Já é tempo
de deixarmos de lado os preconceitos ideológicos e passarmos a enxergá-los como
auxiliares insubstituíveis, não ameças.
Não devemos sucumbir ao infantil e
irreal sonho de vê-los prendendo corruptos e desnudando teatros políticos
enganadores, pois já assistimos tal filme, e sabemos que o final é sempre
imprevisto.
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