Plínio Montagner
É bom
considerar que quem fala muito sem pensar acaba falando o que não deve. Daí o
ditado: é melhor ouvir mais e falar menos.
Mas... Ouvir?
Quem ouve? Quem tem paciência e delicadeza de ouvir o que não interessa? Aí
vale a delicadeza e respeito pelo outro.
Conversar é
bom, mas é preciso que haja sintonia entre quem fala e quem ouve. Ouvir é
preciso. Na vida muito se aprende ouvindo.
Em verdade existem
pessoas de quem nossa disposição de falar com elas é zero. A gente fala,
contamos uma piada, um fato, um assunto qualquer, e foi como se tivéssemos
falado com uma cadeira. O cara não comenta nada, e se abre a boca é para falar
de si e repetir os mesmos assuntos. Esquecia dos que falam cutucando a gente.
Existem muitos
cursos de oratória, mas não cursos de “escutatória”. A globalização e a rapidez
da comunicação não estão ajudando o homem a desenvolver o dom da oratória nem a
capacidade do ouvir.
Estamos
parecendo robôs sem tempo para a felicidade.
É um paradoxo,
se agora tudo é mais rápido por que não sobra tempo para o homem?
Aprendemos a
sobreviver, mas não a viver. Construímos mansões, mas não recebemos nem vivemos
nelas.
Vinte, trinta,
quarenta anos de casados e a sala de jantar sem nenhum arranhão. Piano fechado.
Violão num canto.
Festa de Natal
no condomínio? Esqueça. A maioria tem um ou mesmo vários motivos, e outros não
participariam porque perderam o hábito de conversar.
O
individualismo foi massificado. Nas décadas de 50, 60 ninguém levava filhos à
escola nem buscava. Todos iam e vinham a pé, de bicicleta e de trem (como eu).
Muita coisa
mudou. RX era abreugrafia. Os médicos olhavam para o paciente e conversavam com
ele. Agora os pacientes ficam 3 minutos
no consultório e horas nas salas de exames e laboratórios.
Corremos,
falamos e ouvimos muito, e amamos menos.
Chega! Vou ser
ermitão.
Tudo começa
cedo para as crianças: natação, inglês, judô, fonoaudióloga, aparelho nos
dentes, fisioterapia, nutricionista. Depois os adultos seguem a mesma linha.
Pais e filhos
não conversam. Não têm tempo nem assunto. É isso!
Antes sabíamos
que tínhamos pai e mãe de verdade, madrinhas e padrinhos de verdade, tias e avós,
professora, diretor e inspetor e polícia.
A boiada que
as crianças veem na TV, antes passavam em frente de nossa casa. Não havia congestionamentos,
mas havia trem, bonde e bicicleta. Hoje precisamos pedalar pelas ciclovias e
voltar para casa a pé se um ladrão gostar da bike. Temos carros, mas não
caminhos livres.
Saudades eu
tenho da prosa, meus pais tomando café com bolo de fubá na casa do compadre.
Estamos
automatizados por causa das maravilhas tecnológicas que nem me trevo a escrever
os nomes. Pagamos a conta do restaurante com cartão e o garçom anota pedidos
numa maquininha.
Está certo o
escritor Ignácio de Loyola Brandão:
“É duro perceber que com o tempo o campo a
nossa volta vai ficando um deserto”.
ResponderExcluirTalvez sinta saudades do seu mundo cor de rosa, mas quem cresceu, entre raios e tempestades, prefere a atualidade:
nada de falsos amigos e de mentiras.
Cada qual na sua respeitando e aceitando o outro como é; palavras proibidas fazem parte da linguagem corrente, a televisão ensina mais do que escolas, o computador agiliza a comunicação, tudo é mais popular... Certo que novos erros aparecem mas temos maiores recursos de fugir deles!
Talvez seja só preciso calar na hora certa....
IVANA
ResponderExcluirAntes de ser uma grande escritora, você é uma grande pessoa, pois publicar o comentário acima(infeliz) mostra (embora não precise) sua humildade, seu caráter, sua ética.
Gostei muito da sua crônica que saiu hoje na GAZETA, parabéns IVANA, você é brilhante!
Bom domingo!