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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Pé torcido



Ivana Maria França de Negri

Certos acontecimentos chegam em nossas vidas como maravilhosas lições de aprendizado. Na hora em que acontecem, podem parecer terríveis castigos, mas depois de um tempo, vemos que precisávamos mesmo passar por aquele capítulo na escola da vida.
Há algumas semanas, andando apressada na praça, de saltos altos, pisei em falso num desnível do chão. O salto virou e o pé foi junto... Em poucos segundos, ruíram meus planos de ir ao banco e em algumas lojas.
Uma dor inenarrável no tornozelo e eu caída no chão, sem conseguir me levantar. Vergonha e dor juntos. Mas um bom samaritano ajudou-me a levantar e não sei como, com a ajuda dos anjos e santos, consegui chegar em casa.
Por uma semana só consegui andar me apoiando em móveis ou com a ajuda de um cabo de guarda-chuva ou vassoura.
Na segunda semana, já conseguia me locomover, mas mancando bastante.
O mais complicado era contar dezenas de vezes o ocorrido para todos que perguntavam: “o que aconteceu?” Pensei até em escrever num papel e imprimir várias cópias para distribuir, mas achei que não seria uma boa ideia. Tive mesmo que recontar a mesma história para cada um que perguntasse sobre meu pé roxo e inchado.
Descobri que de médico e curandeiro todo mundo tem um pouco. Recebi dezenas de conselhos os mais diversos: “coloque o pé na água morna, coloque o pé na água fria, coloque o pé na água quente, coloque o pé na salmoura para desinchar, coloque uma bolsa de gelo sobre o local, passe arnica, coloque uma tala, passe gelol, vá benzer”, e outras receitas infalíveis segundo quem as dava.
Agradeço a boa vontade de todos em ajudar e confesso que segui algumas sugestões, e por fim, atendi ao apelo do meu filho (mais que um apelo, foi uma ordem!) e fui fazer ressonância.
Sou daquelas pessoas que não gosta de tomar remédios e vai ao médico só em último caso, apesar de ser esposa de médico, e ter filho, genro, nora, irmão, cunhado e sobrinhos médicos. Creio que puxei minha mãe, uma italiana teimosa.
Consegui, nestas semanas de repouso forçado, um feito inédito: desacelerar. Deixei de fazer coisas que não fizeram falta alguma. Como anuncia uma propaganda de banco, tem horas que a vida pede uma pausa.
Senti na carne a dor dos atletas, que ao superarem limites, vivem se contundindo e os técnicos e treinadores exigem deles recuperação em tempo recorde. Impossível uma recuperação relâmpago, pois não dá para consertar ossos e tendões com super bonder.
Aprendi muita coisa, inclusive, exercitei bastante a virtude da paciência.
Ainda não posso fazer as caminhadas matinais que tanto gosto e nem ir à  academia fazer ginástica. Mas melhoro a cada dia.
Prometi a mim mesma nunca mais rir das videocassetadas. Não me parece correto rir da desgraça alheia, Imagino a dor que eles sentem depois daqueles tombos e acidentes e o longo período de recuperação que se segue às quedas.
Não desejo esse tipo de coisa a ninguém. Mas, se por acaso tiverem que enfrentar algo parecido, só dou um conselho: aproveitem a experiência como uma lição, ao invés de maldizê-la, e tirem o melhor proveito possível, nem que seja usufruir de pequenas  férias forçadas.

3 comentários:

  1. Um pouco da consciência da, fragilidade nossa e até da mortalidade...
    São mesmo experiências. Melhoras. Sds.

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  2. Ivana, fico feliz por saber que está cada vez melhor !

    Sim,conseguir perceber as oportunidades de crescimento e aprendizado em cada experiência por que passamos, é muito importante !

    Um olhar mais distanciado quando podemos vislumbrar o panorama todo, e a chance de aproveitar as coisas com mais calma...

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  3. Aiii ai ai.....

    Essa desaceleração forçada é que mata....

    Ainda mais prá gente que já tem horas a menos prá fazer as coisas né!

    To aqui recuperando lentamente na base do Saci, muleta, cadeira de rodinha, kkkk!

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