Ludovico da Silva escritor e um dos coordenadores da página literária Prosa & Verso na TRIBUNA PIRACICABANA há 12 anos
Estou
lendo “1808”, obra do escritor Laurentino Gomes, Editora Planeta. Trata-se de
uma análise da fuga da família real de Portugal para o Brasil, recheada de
detalhes, possivelmente, desconhecidos de muitos brasileiros. Um outro olhar
sobre a história do Brasil.
Inicialmente,
o autor focaliza a situação política da Europa, em relação às invasões e
conquistas de países vizinhos por parte de Napoleão Bonaparte.
Explica
Laurentino Gomes que a partida da Família Real para o Brasil foi cercada de
expectativa, tensão e medo, provocando no povo português uma reação de
desespero e revolta. Antes de embarcar com sua comitiva, Dom João esvaziou os
cofres do governo, em quantia estimada como a metade das moedas em circulação
em Portugal.
Na
chegada da família real, a cidade do Rio de Janeiro cobriu-se de festas, com
fogos, música e declamações de poesias. Na ocasião, os moradores foram
desalojados de suas casas, para alocarem os acompanhantes da corte, sem pagamentos
de alugueis. Os cronistas da época foram implacáveis nas críticas à família
real, com respeito à vida e personalidade de Dom João, que tudo dependia da
opinião de seus conselheiros, avesso a cerimônias e bocejava em festas e
recepções oficiais. Dona Carlota Joaquina era tida como uma mulher maquiavélica
e conspiradora mesmo contra o próprio Dom João, além de detestar o Brasil. Na
oportunidade, havia um esbanjamento do dinheiro público para sustentar toda a
comitiva, com os gastos atingindo somas astronômicas. Favores generosos
recebidos de pessoas residentes no Brasil eram pagos com honrarias, insígnias e
títulos de nobreza. À noite, no Palácio, havia a cerimônia do beija-mão.
É
feita uma análise dos problemas do Rio de Janeiro, como criminalidade, costumes
da população, vida dos escravos e punições que lhes eram aplicadas por
desobediência à ordem estabelecida. O tratamento aos escravos, no comércio de
compra e venda, era desumano, como verdadeiros animais.
Em
26 de abril de 1820, Dom João embarcou de volta a Portugal, não sem antes
raspar os cofres do Banco do Brasil e o que restava do tesouro real,
considerado um verdadeiro assalto ao erário brasileiro, repetindo o que havia
feito quando da fuga de seu país.
O
autor anota que de tudo o que aconteceu no período da estada da coroa real no
Rio de Janeiro, o Brasil registrou profundas mudanças, deixando de ser uma
colônia fechada e atrasada para se tornar um país independente.
Vale
a pena registrar aqui uma série de curiosidades em torno dessa história,
contada pelo escritor Laurentino Gomes. Entre dez a
quinze mil pessoas acompanharam Dom João na viagem ao Brasil, entre elas
nobres, conselheiros, médicos, bispos, padres, damas de companhia, camareiros,
pajens, cozinheiros e cavalariços. A corte portuguesa levou quase três meses e
meio para chegar ao Rio de Janeiro, com escala de cinco semanas em Salvador. No
desembarque em Salvador apenas o governador João Saldanha da Gama compareceu
para receber Dom João. Durante a viagem, uma infestação de piolhos obrigou as
mulheres a raspar os cabelos e lançar suas perucas ao mar. As cabeças foram
untadas com banha de porco e pulverizadas com pó antisséptico. Por volta de
1818, os procedimentos cirúrgicos fáceis eram feitos por barbeiros sangradores
e os difíceis por indivíduos presunçosos e ignorantes de anatomia e patologia.
No Rio de Janeiro, por essa época, o nascimento de um menino era anunciado com
nove badaladas de sino e de menina, sete. A Rua Direita, na então futura Cidade
Maravilhosa, tornou-se a primeira da cidade a ter numeração e trânsito pelo
sistema de mão e contramão, a partir de 1824. Dom João tinha medo de siri,
caranguejo e trovoadas. Por fim, para quem se esqueceu, o nome de Dom João era
João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antonio Domingos, Rafael de
Bragança.
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