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sábado, 22 de setembro de 2012

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Ludovico da Silva escritor e um dos coordenadores da página literária Prosa & Verso na TRIBUNA PIRACICABANA há 12 anos

            Estou lendo “1808”, obra do escritor Laurentino Gomes, Editora Planeta. Trata-se de uma análise da fuga da família real de Portugal para o Brasil, recheada de detalhes, possivelmente, desconhecidos de muitos brasileiros. Um outro olhar sobre a história do Brasil.
            Inicialmente, o autor focaliza a situação política da Europa, em relação às invasões e conquistas de países vizinhos por parte de Napoleão Bonaparte.
            Explica Laurentino Gomes que a partida da Família Real para o Brasil foi cercada de expectativa, tensão e medo, provocando no povo português uma reação de desespero e revolta. Antes de embarcar com sua comitiva, Dom João esvaziou os cofres do governo, em quantia estimada como a metade das moedas em circulação em Portugal.
            Na chegada da família real, a cidade do Rio de Janeiro cobriu-se de festas, com fogos, música e declamações de poesias. Na ocasião, os moradores foram desalojados de suas casas, para alocarem os acompanhantes da corte, sem pagamentos de alugueis. Os cronistas da época foram implacáveis nas críticas à família real, com respeito à vida e personalidade de Dom João, que tudo dependia da opinião de seus conselheiros, avesso a cerimônias e bocejava em festas e recepções oficiais. Dona Carlota Joaquina era tida como uma mulher maquiavélica e conspiradora mesmo contra o próprio Dom João, além de detestar o Brasil. Na oportunidade, havia um esbanjamento do dinheiro público para sustentar toda a comitiva, com os gastos atingindo somas astronômicas. Favores generosos recebidos de pessoas residentes no Brasil eram pagos com honrarias, insígnias e títulos de nobreza. À noite, no Palácio, havia a cerimônia do beija-mão.
            É feita uma análise dos problemas do Rio de Janeiro, como criminalidade, costumes da população, vida dos escravos e punições que lhes eram aplicadas por desobediência à ordem estabelecida. O tratamento aos escravos, no comércio de compra e venda, era desumano, como verdadeiros animais.
            Em 26 de abril de 1820, Dom João embarcou de volta a Portugal, não sem antes raspar os cofres do Banco do Brasil e o que restava do tesouro real, considerado um verdadeiro assalto ao erário brasileiro, repetindo o que havia feito quando da fuga de seu país.
            O autor anota que de tudo o que aconteceu no período da estada da coroa real no Rio de Janeiro, o Brasil registrou profundas mudanças, deixando de ser uma colônia fechada e atrasada para se tornar um país independente.
            Vale a pena registrar aqui uma série de curiosidades em torno dessa história, contada pelo escritor Laurentino Gomes. Entre dez a quinze mil pessoas acompanharam Dom João na viagem ao Brasil, entre elas nobres, conselheiros, médicos, bispos, padres, damas de companhia, camareiros, pajens, cozinheiros e cavalariços. A corte portuguesa levou quase três meses e meio para chegar ao Rio de Janeiro, com escala de cinco semanas em Salvador. No desembarque em Salvador apenas o governador João Saldanha da Gama compareceu para receber Dom João. Durante a viagem, uma infestação de piolhos obrigou as mulheres a raspar os cabelos e lançar suas perucas ao mar. As cabeças foram untadas com banha de porco e pulverizadas com pó antisséptico. Por volta de 1818, os procedimentos cirúrgicos fáceis eram feitos por barbeiros sangradores e os difíceis por indivíduos presunçosos e ignorantes de anatomia e patologia. No Rio de Janeiro, por essa época, o nascimento de um menino era anunciado com nove badaladas de sino e de menina, sete. A Rua Direita, na então futura Cidade Maravilhosa, tornou-se a primeira da cidade a ter numeração e trânsito pelo sistema de mão e contramão, a partir de 1824. Dom João tinha medo de siri, caranguejo e trovoadas. Por fim, para quem se esqueceu, o nome de Dom João era João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antonio Domingos, Rafael de Bragança. 

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