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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

DISTÂNCIA


Cassio Aguiar

A última vez a vi no prédio, de longe. Nem sei mesmo se era você.
Antes disso foi na escola. Eu tinha dezessete bobos anos, você quinze. Ou dezesseis. (Eu queria que isto aqui fosse uma flor, um orvalho, um beijo)
Um beijo… E eu era tão tímido. A vez antes da última foi em pleno parque de diversões. E foi talvez a primeira. Você foi talvez a primeira. Trocamos rápido, intenso. Trocamos tudo. E o tudo era tão simples como uma caixa de chicletes. “Eu sou louca”, você me disse na escola. Bilhetinhos, descobertas. E um futuro profundo. Eu a vi no prédio. Num carro branco. Era você. Mas o bom-tom, os melindres, as convenções… Você me viu. E os dois dissemos não. Mas não, a vi mais vezes. No seu aniversário. A festa chique. O convite rosa-choque no envelope negro. Lindo.
Hoje, ou pouco antes, e eu não sabia: uns poucos prédios entre nós. Hoje, e eu não sabia, a sua delicadeza morava em São Paulo. Os seus cabelos castanhos, Luma, as suas bochechas, o mantra que você me ensinou, o filme que você me indicou e eu nunca vi. Morava uns poucos prédios de mim. Uns poucos prédios.
E o seu futuro se jogou. Um diamante evaporou. E mais distância entre nós.

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