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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
VIRADA DE ANO*
Ludovico da Silva
O último dia do ano enseja a possibilidade das mais variadas comemorações. As pessoas encontram motivos para confraternização, para um abraço amigo. Afinal surge a expectativa de dias sempre melhores em relação aos considerados do passado. É sempre assim. Um ano se despede e outro surge carregado de desejos e de esperanças para todos. Os adultos trocam cumprimentos em uma manifestação de alegria, enquanto lá fora espocam rojões e a cidade se cobre de fogos de artifícios coloridos.
No raiar do primeiro dia do novo ano é chegada a hora da criançada fazer a festa a seu modo, com aquele gesto carinhoso de cumprimentar. Isso me faz voltar a um tempo em que como criança, os adultos jamais se esquecem. Não se via a hora do amanhecer do dia para aquela saída em visita aos familiares mais íntimos para os cumprimentos, como é de praxe e faz parte de todos os parentes que se prezam. Com licença das mães, os garotos se dirigiam de casa em casa de avós e tios para desejar bom princípio de Ano Novo. Só que as intenções não eram baseadas apenas no desejo e os parentes bem o sabiam. O que queriam mesmo era transformar aqueles espertos votos numa forma de pedir, isto é, querer algo em troca, que lhes proporcionasse a alegria de faturar uma grana, ganhar umas moedas para tomar um sorvete, mesmo que fosse de palito, água e gelo e uma amostra de limão, para solver com o maior gosto e prazer possíveis.
Essa era a intenção dos garotos. Acontece que nem sempre a correspondência dos pedidos era revertida em moedinhas. Às vezes, o que se ganhava era um saquinho de balas de sabores diferentes, um bombom já meio derretendo pelo calor excessivo, um brinquedo qualquer, enfim, presentes que não agradavam e até aborreciam para quem pensava em coisa melhor para um dia tão importante da vida.
Garotos havia que não se bastavam procurar os parentes mais próximos e se aventuravam em excursões a vizinhos e mesmo desconhecidos sem qualquer ligação de parentesco. Saíam em bloco, batiam palmas às portas das casas, na esperança de ganhar alguns trocados. Uma situação embaraçosa para quem era procurado, que acabava por dar uma quinquinharia ou nada. Ou agradeciam e viravam as costas. Alguns afastavam as cortinas, olhavam pelas frestas e se recolhiam. Outros, então, desligavam as campainhas para não ser incomodados.
Feitas as visitas, que duravam desde a manhã até ali pelas dez horas, era chegado o momento de fazer um levantamento da féria, a contagem das moedas e cédulas, estas últimas chamadas “manolitas”, desgastadas, de menor valor, recebidas dos menos ou mais abastados, saber qual felizardo tinha embolsado mais. Era a hora, também, de crítica, não se perdoando o“munheca”, o “pão duro”, o “mão de vaca” e por aí vai, principalmente por parte dos menos aquinhoados na soma geral da grana recebida. Claro, não faltavam as bênçãos aos avós que não mediam esforços para agradar os netos, como recompensa àquela visita tão agradável logo de manhãzinha no primeiro dia do novo ano.
A virada de ano é sempre assim. Registram-se cumprimentos e se deseja boa sorte a todos. E a vida continua para quem tem a felicidade de compartilhar dessas manifestações de carinho, na saudação de uma nova etapa que se inicia.
*crônica publicada no Jornal de Piracicaba em 28-12-2011
Que o Ano Novo nos renove e nos traga energia para tomar o primeiro passo com sabedoria e entusiasmo.
ResponderExcluirAos amigos do GOLP um Feliz 2012, com inspiração, alegria e determinação.
Beijos Carmen Pilotto