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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

CABRITO DE NATAL

Cássio Camilo Almeida de Negri


Era uma época em que as casas ainda eram lares. Havia quintal com galinhas, galo, horta e até outros pequenos animais.
O menino tinha uns dez anos quando seu tio trouxe um cabrito bem filhote, que ainda mamava na mamadeira.
O garoto pulava de alegria ao ver o pequeno e indefeso animal que mal podia andar. Tirado que fora da mãe, ainda bebê, estava afoito para encontrá-la e berrava desesperado enquanto o menino o afagava no colo.
Os olhinhos inocentes dos dois seres se encontraram e o garoto foi adotado e adotou o pequeno animal, não sei se como pai, como mãe, ou como os dois ao mesmo tempo.
Ficou como obrigação diária dar a mamadeira ao animal, e ele foi crescendo rapidamente.
O inocente filhote de homem, todos os dias passava os dedos na gengiva careca do caprino, até que um dia, muito feliz, foi correndo e gritando avisar a mãe que os dentinhos inferiores e superiores estavam nascendo. Quando colocava o dedo para a palpação gengival, o pequeno, pensando ser o bico da mamadeira, tentava sugá-lo.
O tempo passou lentamente até que o cabrito, já maior, vinha berrar bem cedo debaixo da janela do menino, como a chamá-lo, e o menino saía pela janela e um corria atrás do outro. O cabrito saltitava feliz dando pequenas cabeçadas no garoto.
Poucos meses depois, numa das cabeçadas, o menino percebeu os dois chifrinhos começando a despontar, o que o levou a ter mais cuidado nas brincadeiras das cabeçadas.
O pequeno Bito, assim era seu nome, passou a comer de tudo e gostava muito de mascar as roupas que puxava do varal, causando desespero à Sebastiana, a empregada da família.
Assim, chegou o mês de dezembro, e lá pelo meio do mês, seu tio comunicou que era hora de abater o pequeno ser, que foi amarrado pelas pernas e imolado. Enquanto a faca penetrava o tórax do bichinho, tentando acertar o coração, este berrava com todas as forças, até que finalmente silenciou quando o órgão vital foi acertado.
Então, seus olhos se fixaram nos do menino, lágrimas correram, seus movimentos pararam e os olhos permaneceram abertos, pupilas dilatadas, como a dizer:
- Meu amigo, você me traiu...”
Desde então, o garoto, já homem, quando chega o Natal, ao olhar a manjedoura e o cabrito ao lado do Menino Jesus, sente de novo aqueles olhos suplicantes fitando os seus e repetindo “traidor!...”

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