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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Caridade invertida


Maria Cecilia Graner Fessel

Sonia sempre levava os filhos com ela à missa, desde pequenos. Aos poucos, ia introduzindo cada um, conforme a idade, na participação dos rituais comunitários.
Quando resolveu que era hora, levou então o menino mais novo com ela, cheio de curiosidade e expectativa. E lá ficou ele sentadinho com a mãe, escutando, escutando, perguntando, por algum tempo. Mas aí, naturalmente, veio o enfado de ficar parado, e pior, o cheiro do carrinho de pipocas que ficava na frente da igreja.
- Mamãe, quero pipoca!
-Depois, meu filho. Deixa acabar a missa! sussurrou ela.
E o menino insistindo:
-Mamãe, quero pipoca! Compra, mãe!
Ela então apelou para a clássica saída das mães nessa hora:
-Chiu, fale baixo! Depois eu te compro pipoca! Agora só tenho esse dinheiro aqui, que você vai levar e por na sacola daquela moça lá, para ajudar os pobres. Espere!
O menino confiou na mãe, esperou, e no momento certo lá foi ele todo orgulhoso botar a contribuição na sacola. Ela suspirou aliviada, até que ele , voltando pelo corredor central da igreja, exibindo na mão algumas notas, alegremente, anunciou em alta voz:
-Olha mamãe, pus as moedas lá, como você mandou, e peguei umas notas
prá ajudar você.
E, todo satisfeito, completou:
-Agora você já tem o dinheiro prá me comprar as pipocas!

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