João Baptista de Souza Negreiros Athayde
(mini-conto)
Tentava condensar a quadra mais amarga da história da sua vida nas linhas apertadas de um conto; sabia que era preciso escolher as palavras, desprezar os floreios que deixam a frase obesa, enxugar as metáforas que esticam o fio condutor da narrativa, suprimir ecos e aliterações que lembram rimas poéticas; era preciso usar pontuações adequadas que dão fluência e amálgama ao personagem e às suas peripécias, enquadrar a ação do personagem e o movimento narrativo no binômio espaço/tempo para estabelecer empatia com o leitor; era preciso fazer que o tema se insinuasse aos poucos, sem sobressaltos, para evidenciar-se somente no epílogo, ou depois dele; era preciso trabalhar a concisão da história, nem tão pouco que a transformasse num romance, nem muito para que se fizesse mera crônica.
Ao final, percebeu que condensara tanto o amargo de sua história, que a essência de sua dor acabou por transbordar das entrelinhas, gotejando lamentos e os restos de seus sonhos mortos.
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