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domingo, 7 de agosto de 2011

A CULTURA DAS FUTILIDADES


Ivana Maria França de Negri


É incrível como a sociedade está cada vez mais fútil. A inversão de valores é nítida. Ninguém liga se a pessoa é honesta, se tem virtudes admiráveis, se luta por ideais nobres, se preza os valores morais, espirituais e a família. A competitividade é estressante, agressiva, e atropela todos os princípios da convivência pacífica.
A concorrência poderia ser algo saudável na medida em que cada um tentasse se aprimorar, evoluir, e não “matar” o concorrente.
Família? Hoje a prioridade são os estudos, o trabalho, os títulos de mestre, de doutor, a compra de imóveis, as viagens, carros, equipamentos eletrônicos, e só por último da lista figura o plano de ter um filho, geralmente único, que será criado por babás, creches e escolinhas, pois os pais, às voltas com tudo o que citei, não têm tempo para cuidar de crianças. E perdem o melhor da vida!
O primeiro item dos desejos é ficar rico, angariar muito dinheiro, mais do que se pode gastar e muito além do necessário para viver com dignidade.
Em rodas de conhecidos, numa festa, os assuntos são sempre os mesmos, só rolam futilidades. A performance do carro novo, as cirurgias plásticas, a nova novela (que nem nova é e sim um remake), o novo peito de silicone, e as pessoas trocam de parceiro como mudam de roupas.
Revistas e jornais têm que acompanhar o gosto (duvidoso) dos leitores para não falir. Então, crescem os espaços para futilidades como fofocas sobre a vida de celebridades, atores e jogadores de futebol. Uma nova novela vira assunto de capa em todas as revistas e jornais, como se disso dependessem nossas vidas.
A imprensa, de modo geral, está viciada nas publicações pagas. Não existe profissionalismo e sim “puxação de tapete”.
A sociedade é como um imenso jogo de dominó, cada um derrubando o da frente, e como consequência, caem todos.
Mas uma única peça, entre milhares, se resistir e ficar em pé, pode fazer a diferença.
Programas tipo Big Brother e a Fazenda têm lugar garantido na mídia por meses. Moda virou assunto de primeira necessidade. Corpo sarado é obsessão e causa de depressão em quem não consegue driblar os ponteiros da balança. Não importa viver feliz, importa ser como a sociedade impõe. Importa ter o carro do ano, comprar aquela bolsa de marca - caríssima! - para mostrar status, importa manter a pose e a fachada.
E tudo o que não rende dinheiro, é descartado, não importa o seu real valor.
O colunismo social criou uma doença: a síndrome do holofote. Quanto mais a pessoa aparece, mais quer aparecer e ter seu sorriso estampado nos jornais a qualquer preço, e paga o que não tem para que isso aconteça. E o destino final dessas páginas caríssimas é absorver xixi de cachorro, forrar gaiolas de passarinhos e outras finalidades menos nobres.
A educação é uma lástima, a roubalheira é algo vergonhoso e a impunidade rola solta. A não existência de punição é um incentivo a novas roubalheiras e novos crimes.
Assim caminha a humanidade. É o começo da decadência e ruína de uma sociedade sem valores, que não cultiva as coisas do espírito e que ignora a essência divina que habita em cada ser.

(texto publicado na Gazeta de Piracicaba em 22/07/2011)

2 comentários:

  1. Ah,minha querida Ivana...A cada dia, no espaço chamado sala de aula de uma escola da elite piracicabana,não canso de polir o verbo para mover as pálpebras do bom senso dos adolescentes.Minha atitude é , por vezes,semelhante ao ato de enxugar gelo,pois como diz a sabedoria popular:Filho de peixe,peixinho é.Contudo,com esse meu jeitão despojado,procuro me aproximar deles e descarregar esse discurso em que eu, você acreditamos.
    Confesso que ando bem caseira, saio muito pouco e a minha vida social se restringe a me cercar daqueles que têm algo a dizer.Esse reino da futilidade galopante me causa nojo e desprezo.
    beijo

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  2. Concordo plenamente com tudo: pensamento, idéias, palavras!
    Mas, quem somos nós? Apenas peças intermediárias entre o passado e o futuro! Então, ou nos adaptamos, com atalhos e sutilezas, ou seremos esmagados pelo rolo compressor da maioria.
    Ou, como diz a sabedoria chinesa: para vencer o inimigo, alie-se a ele...

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