Lídia Sendin
Sentada em frente ao espelho, a garota olhava sem ver. Seus cabelos negros brilhavam ao contato vigoroso da escova. Quase com raiva, ela escovava seguidas vezes a longa cabeleira como se quisesse apagar os pensamentos da mente.
Mas era inútil, tudo que vira na noite anterior parecia bem real e presente, como se a cada minuto a cena recomeçasse, num eterno replay.
Foi até à janela olhar o jardim. Nem as belas rosas vermelhas e o alegre beija-flor puderam fazê-la esquecer a traição do namorado. Voltou para o espelho, fez uma careta para si mesma enquanto batia com raiva a escova na própria mão.
Retornou à janela enquanto resmungava ameaças ao namorado infiel: – Ah! se ele aparecesse neste momento, – pensou, levantando a escova acima da cabeça num gesto de fúria. Um pequeno descuido e a terrível arma foi arremessada longe.
Com as duas mãos cobrindo o rosto, a pobre menina gritou de pena, pois não havia ali por perto nenhum namorado infiel, apenas a pobre e velha gata da família, que agora miava sentida com o ataque da escova voadora.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir