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sábado, 22 de janeiro de 2011

Olhos de Oceano

OLHOS DE OCEANOLídia Sendin

Miranda colocou os braços sobre o parapeito da janela e apoiou o rosto neles, pensativa, os grandes olhos azuis perdidos no infinito não viam as imagens reais à sua frente.
O pensamento voltava nostálgico ao passado, ela via somente com os olhos da alma.
Criança agitada e esperta tinha sido a alegria dos pais, já maduros, orgulhosos da filha temporã, de cabelos de anjo loiro emoldurando o rosto sempre rosado de onde sobressaiam os olhos cheios de luz.
Seu pai, o mais coruja dos pais, não passava um dia sequer sem ressaltar a beleza de seus olhos – parecem duas gotas de oceano, dizia, enquanto beijava-lhe a bochecha corada.
Nunca dera importância devida às palavras do pai, a nenhuma delas, infelizmente.
Agora, enquanto olhavam para o nada, as águas salgadas daqueles pedaços de mar jorravam abundantes, sulcando o rosto melancólico, com uma tristeza tão profunda quanto o mais profundo dos oceanos.