Domingo! Bom! Ele só acordou com os ruídos que a mulher fazia na cozinha,
preparando o café. Sem a zoeira das crianças chegando à escola defronte a sua casa,
o silêncio acalentara seu sono. Espreguiçou-se. Percebeu que chovera durante a noite, ainda dava para sentir o cheiro de terra molhada. Ficou imóvel alguns minutos, apreciando os odores estimulantes que vinham da cozinha, do café e dos pãezinhos quentes entrando por suas narinas.Sua boca salivou antevendo o prazer da manteiga derretida sobre o pão. Levantou-se e enfiou os dedos nus no carpete, sentindo sua maciez. Lavou-se, passou as mãos pelo rosto, percebendo o contraste entre a pele das faces e a áspera barba crescente. Sorriu. Domingo. Que bom!.
Foi andando descalço até a cozinha, e teve um arrepio com o frio do piso de cerâmica na sola dos pés descalços. Beijou a mulher e, antes de sentar-se, abriu a porta que dava para o gramado interno. Aspirou deliciado o ar matinal: - “Meu bem, a laranjeira floriu, sinta que delícia de perfume!”. Caminhou pela grama ainda molhada, deu uma topada no pé, xingou e comentou :- “Precisamos limpar o gramado , ficou cheio de galhos e folhas secas da ventania de ontem!”Nisso começou o agudo desafio entre os bentevis das árvores da calçada, cada qual improvisando sua própria melodia.
A mulher se aproximou por trás dele, abraçou-o rindo e ele sentiu-lhe o corpo quente e curvilíneo encostado no seu, os cabelos crespos cheirando a xampu roçando em seu pescoço. Um sol forte, ardido, tocou seu rosto e seus braços. Então ele levantou a cabeça, voltando para o céu os olhos cegos, e exclamou:
-“Como a vida é bela!”.
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