Havia uma árvore no meio do caminho...
Ivana Maria França de Negri
A seringueira centenária, que resistiu a tantas intempéries, sobrevivendo por décadas, que viu crescerem diversas gerações de crianças a brincar no parquinho da creche ao lado, que abrigou centenas de ninhos de pássaros, tombou vítima da maldade humana. Por que será que ela se tornou um estorvo? Por qual razão tramaram seu assassinato?
Muitos podem pensar: -“Para que tantas manifestações? Era apenas uma árvore...”
Sim, era apenas uma árvore secular, um ser vivo que só sabia doar e nunca fez mal a ninguém.
Silenciosamente e sem fazer alarde, como fazem certas instituições que precisam aparecer em colunas sociais a cada mínima ação que realizam, ela doava sombra, beleza, e purificava o ar anonimamente, e de graça, sem a necessidade de louros, títulos ou condecorações.
Por quantos verões ofereceu sua sombra amiga aos passantes sem pedir nada em troca? Quantos ninhos de pássaros abrigou nestes anos todos? Quantas lagartas, que se transformaram em lindas borboletas, acolheu? E a quantos insetos que utilizavam sua seiva e suas folhagens para procriar, e que contribuíram para o nascimento de outras espécies de plantas, ela deu abrigo?
Talvez muitos dos transeuntes que ali passavam diariamente, nem tomassem conhecimento dela, mas continuava ali, firme, fazendo sua parte neste mundo hostil, dando sua contribuição para a perpetuação da vida.
Num belo dia, ou talvez na calada de alguma noite, alguém muito mal intencionado, com uma furadeira perfurou pontos vitais das raízes da bela árvore. Foram cerca de 28 furos letais que comprometeram seu o sistema de nutrição. E ela sangrou por semanas, uma hemorragia verde que ninguém viu. Para que a morte fosse certa, injetaram herbicida em seu cerne.
E ela foi secando, perdendo as folhas, e quando alguns vizinhos notaram, já era tarde demais, sua vida se extinguia lentamente.
Por que alguém quereria a morte de uma árvore que estava ali há tanto tempo sem incomodar ninguém?
Pode ser que ainda reste um tênue fio vital nela, uma esperança mínima de vida que a faça avivar aos poucos, se for cercada de cuidados. Mas se a sua morte já estiver decretada, que seja ela a mártir, aquela que representa a morte do meio ambiente, a degradação da natureza, a maldade do homem que destrói sua própria casa.
O ser humano talvez não tenha consciência de que a natureza que o cerca é o seu lar.
É claro que nada é eterno e tudo dura o tempo exato que tem que durar, mas não é justo que esse tempo seja abreviado por mãos assassinas.
Que esta história sirva de lição e desperte as consciências. Se o homem pretende perpetuar sua espécie, terá que cuidar melhor da natureza.
E fica a pergunta no ar: a quem interessa a morte de uma árvore centenária? Mistério...
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