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terça-feira, 13 de julho de 2010

Despedida de uma árvore

Despedida de uma árvore
Angela Reyes

Nasci no século passado em Piracicaba, onde fui plantada por meus pais. Fui batizada e recebi de nome “seringueira”. Fui me alimentando dia a dia com a seiva rica em nutrientes que a terra brasileira é capaz de fornecer. Dessa forma cresci e fiquei grande e formosa.
Todas as manhãs eu cumprimentava o sol. A noite namorava a lua quando ela estava cheia. Os anos iam passando com muita tranquilidade até que um dia me condenaram à morte, sem direito a um julgamento e sem alguém para defender-me.
Eu perguntei: Por que isso? Alguém me disse sussurrando: “Árvore, o motivo chama-se progresso.” Fui sentenciada a “receber uma injeção letal”, porque não existia cadeira elétrica para mim. Recebi uma injeção mortal em minhas principais artérias. Ai começou uma agonia cruel e lenta. Estou morrendo e me acompanham lembranças de cem anos. Fui descartada por ser velha e obsoleta. Parecem esquecer as vezes que servi de proteção para enfrentar tempestades, assim como, outras tantas vezes em que meu corpo foi usado como abrigo no inverno e no verão. As aves me amavam e reproduziam-se sem temor no meio dos meus galhos, borboletas assanhadas me paqueravam e nas cálidas tardes de verão as cigarras cantavam. Minhas irmãs e eu oxigenávamos o ar de Piracicaba.
Em meus galhos foram pendurados balanços para crianças brincarem cheias de felicidade. Fui testemunhas de numerosos primeiros beijos e promessas de amor de casais de namorados. Mas também fui utilizada como banheiro, obrigada a suportar dejetos de cães e gatos. Agora me resta pouco tempo, a seiva parece estar parando de circular no meu tronco e em meus galhos. Estou quebrando, as minhas folhas não conseguem respirar, estão secas. Mas, antes de partir gostaria de deixar uma mensagem: “O homem vai deixar de existir quando cortar a última árvore”.
Perdoai Pai, porque não sabem o que fazem. Palavras do Divino Mestre.

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