EM JUNHO
Olga Martins
A friagem judiava desde o outono, mas era mesmo na época das Festas Juninas que a gente sentia as temperaturas desabarem.Na região do Parque Bristol, colada à Mata do Governo - complexo que abriga ainda hoje o Jardim Zoológico,o Zoo-Safári e o Jardim Botânico - e sob a umidade vinda da Represa Billings , o frio,como dizia minha avó Olinda não era bolinho!Sabe a famosa garoa?Ela existia e insistia.
Não havia toalha de mesa porque não havia mesa, as pessoas da rua não combinavam nada e nem celebravam os santos do mês.Pelo menos isso nunca evidente,embora uma ou outra colega ensinasse uma simpatia qualquer para saber o nome do futuro namorado, marido...Simpatia ou brincadeira?
Da maneira mais ancestral a molecada maior reunia pedaços de pau e erguia uma pilha ordenada.Logo , feito rastilho de pólvora a notícia se espalhava pelas casas da rua: " vai ter fogueira!"A pilha de madeira ia sendo alimentada pela molecada menor também que saía à cata do que pudesse ser usado.
A tarde de amarela passava para os tons ruivos.De dentro das casas brotavam alguns odores.Nélson trazia o violão e logo era rodeado enquanto desfiava seu repertório de serestas e canções juninas.
Dona Lia aparecia com algumas cocadas,alguém trazia quentão.Aparecia então uma bacia de pipoca aqui alguns pedaços de bolo, até pinhões cozidos que eram partilhados sem a menor cerimônia. Na rua sem asfalto equilibravam-se alguns banquinhos, algumas cadeiras e a fogueira se acendia para aquecer e iluminar a noite que descia sólida, gélida e úmida.
Não tardava e os estalidos de bombinhas me enchiam de medo.Sempre senti muito medo das bombinhas e das brincadeiras com fogo. Com folhas de jornal, a turminha fazia galinhas chocas que subiam faiscantes para em breve se tornarem cinzas e os pacotes de bom-bril desapareciam em luminosas fagulhas que giravam em círculos nas mãos ágeis.
Subiam aos céus o balões de papel de seda.Não eram vistos como vilões ainda e eram celebrados com o famoso: " Cai, cai, balão..." Eu torcia para que não caíssem....Eles bem que podiam levar para os ares as pequenas tristezas dos meus dias, pulverizando a falta de esperança que às vezes batia doído.
Alguns ousavam pular a fogueira e eu não me atrevia a ir além da igreja Assembleia de Deus que ficava próxima à esquina de baixo.Minha mãe ficaria uma fera!
Era um entra e sai das casas e se repetia o alerta " Coloca o gorro, menino";"Menino que brinca com fogo, acorda molhado!"
E quando o movimento ia diminuindo como as labaredas que minguavam na fogueira, assávamos batatas-doces entre as brasas.Assávamos segredos que deveriam morrer ali e desejávamos que a noite fosse infinita para revolvermos as cinzas até que uma fênix despertasse.
Olga Martins
A friagem judiava desde o outono, mas era mesmo na época das Festas Juninas que a gente sentia as temperaturas desabarem.Na região do Parque Bristol, colada à Mata do Governo - complexo que abriga ainda hoje o Jardim Zoológico,o Zoo-Safári e o Jardim Botânico - e sob a umidade vinda da Represa Billings , o frio,como dizia minha avó Olinda não era bolinho!Sabe a famosa garoa?Ela existia e insistia.
Não havia toalha de mesa porque não havia mesa, as pessoas da rua não combinavam nada e nem celebravam os santos do mês.Pelo menos isso nunca evidente,embora uma ou outra colega ensinasse uma simpatia qualquer para saber o nome do futuro namorado, marido...Simpatia ou brincadeira?
Da maneira mais ancestral a molecada maior reunia pedaços de pau e erguia uma pilha ordenada.Logo , feito rastilho de pólvora a notícia se espalhava pelas casas da rua: " vai ter fogueira!"A pilha de madeira ia sendo alimentada pela molecada menor também que saía à cata do que pudesse ser usado.
A tarde de amarela passava para os tons ruivos.De dentro das casas brotavam alguns odores.Nélson trazia o violão e logo era rodeado enquanto desfiava seu repertório de serestas e canções juninas.
Dona Lia aparecia com algumas cocadas,alguém trazia quentão.Aparecia então uma bacia de pipoca aqui alguns pedaços de bolo, até pinhões cozidos que eram partilhados sem a menor cerimônia. Na rua sem asfalto equilibravam-se alguns banquinhos, algumas cadeiras e a fogueira se acendia para aquecer e iluminar a noite que descia sólida, gélida e úmida.
Não tardava e os estalidos de bombinhas me enchiam de medo.Sempre senti muito medo das bombinhas e das brincadeiras com fogo. Com folhas de jornal, a turminha fazia galinhas chocas que subiam faiscantes para em breve se tornarem cinzas e os pacotes de bom-bril desapareciam em luminosas fagulhas que giravam em círculos nas mãos ágeis.
Subiam aos céus o balões de papel de seda.Não eram vistos como vilões ainda e eram celebrados com o famoso: " Cai, cai, balão..." Eu torcia para que não caíssem....Eles bem que podiam levar para os ares as pequenas tristezas dos meus dias, pulverizando a falta de esperança que às vezes batia doído.
Alguns ousavam pular a fogueira e eu não me atrevia a ir além da igreja Assembleia de Deus que ficava próxima à esquina de baixo.Minha mãe ficaria uma fera!
Era um entra e sai das casas e se repetia o alerta " Coloca o gorro, menino";"Menino que brinca com fogo, acorda molhado!"
E quando o movimento ia diminuindo como as labaredas que minguavam na fogueira, assávamos batatas-doces entre as brasas.Assávamos segredos que deveriam morrer ali e desejávamos que a noite fosse infinita para revolvermos as cinzas até que uma fênix despertasse.
Muito lindo esse texto, parabéns poeta. Obrigada GOLP pelo presente, o Livro de Prosas já baixei e estou deleitando com tantos contos maravilhosos. Piracicaba está de parabéns, é um "Ninho" aconchegante de poetas e escritores de qualidade.
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