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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Que tal esta fábula?

QUE TAL ESTA FÁBULA?
Lino Vitti

Para mim, acho que as fábulas não envelheceram e elas podem muito bem ser entendidas, apreciadas e aplicadas na atualidade, de vez que o homem interiormente não muda com o tempo. O que disseram, escreveram, comentaram Esopo, Phedro, La Fontaine e outros mais, serve perfeitamente para os nossos tempos, quando o mundo está cheio de lobos e cordeiros, serpentes e tolos, asnos e raposas, rãs e aves, cães e urubus, tal e qual os havia ao tempo dos geniais fabulistas.
Vejam esta pequenina fábula que fui buscar no livro de Phedro, uma preciosidade guardada pelo mano António que também lidou com elas no seu tempo de seminário dos Irmãos Maristas, e por mim mesmo passada para o vernáculo: é a de n. 72 e sob o título “O ASNO E A LIRA. Um asno, no campo, viu uma lira deitada no chão relvoso. Chegou-se a ela e tentou tocar suas cordas com as grandes unhas. Tocadas por elas, começaram a soar.- Bela coisa, disse o burro, mas, por Hércules, tive má sorte porque sou ignorante na arte. Se fosse encontrada por alguém mais hábil poderia ferir os ouvidos com divinas melodias. ( Moral da fábula que encerra sempre o texto de qualquer delas). É ASSIM QUE MUITAS VEZES SE PERDEM OS GRANDES GÊNIOS.”
Percebe-se no fundo, que o azêmola se considerava um gênio que perdia a oportunidade de exibir toda a sua cultura de conhecimentos musicais, numa hora em que poderia fazê-lo, entretanto impossível se tornava, devido ao tamanho das unhas (casco).
Mutatis mutandi, ou em português, uma coisa pela outra, a humanidade guarda em seu seio muitos “burros”,como aquele, que pretendem ser gênios e tocar uma harpa com seus enormes dedos, cheios de incapacidade, para mostrar aos outros que é aquilo que estes não conseguem ver: a sua sapiência, a sua arte, o seu trabalho, a sua cultura, a sua genialidade, longe de corresponderem ao que intenta demonstrar.
E aí poderiam dizer como o burrico: “bela coisa, mas tive má sorte porque sou ignorante na arte. Se fosse encontrada por alguém mais hábil poderia ferir os ouvidos com divinais melodias”.

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