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domingo, 7 de março de 2010

O mistério das bolsas - Camilo Irineu Quartarollo

O mistério das bolsas
(Literatura de ficção)
Camilo Irineu Quartarollo

"Onde (os homens) guardam seus sonhos, seus segredos, e os apetrechos para suas necessidades básicas físicas? Mistério..." (Ivana MariaFrança de Negri no artigo Mulheres e suas bolsas mágicas, publicado em 06/03/10 na Tribuna Piracicabana)


Vou explicar. As bolsas femininas são parte integrante do figurino delas. Lá dentro tem de tudo. Ai de quem botar a mão! Se no trabalho ou na rua faltar algo inesperado, liga do celular para pegar na bolsinha que está sobre a penteadeira, não na bolsa. A bolsinha é uma variante pequena que deixa pela casa para diminuir a curiosidade do marido e filhos sobre o real conteúdo da bolsa por excelência, que consigo porta. É uma peçade intimidade, até mesmo na vivência do casamento é intocável, os documentos lá dentro não podem ser devassados. É seu mundo mais sutil, de ordem e graça. Só a dama conhece a própria bolsa ou bolsas. Sim, porque quando veste um conjuntinho (jargão feminino para roupas que combinam juntas no seu corpo) a bolsa tem de fazer parte, com discrição na cor, textura, tamanho e ocasião do evento. No trabalho, se o homem portar bolsa é agente secreto ou secretário de figurão; já à mulher é um traço de elegância. O homem põe a bolsa sobre o piso ou mesa de reuniões, a mulher a segura delicadamente sobre os joelhos. O homem anota em canhotos de cheques, mas se ela vê, logo oferece um bloquinho amarelinho e de textura fina para a anotação masculina. Um amigo meu foi acampar com a esposa, viver alguns momentos de amor ao ar livre e o coitado foi picado por uma víbora. Lá estavam os primeiros socorros da companheira, sugou o veneno aberto com um bisturi e pelo celular falava com o médico, na bolsa tinha curativos e de repente tirou uma ampola e aplicou o soro antiofídico nas nádegas do marmanjo. Que dor! Uma mulher pode ter medo de baratas,mas com sua bolsa enfrenta até ladrão, o que é um perigo. De improviso, espontaneamente mete a bolsa na cara do tal e dentro dele pode haver algum metal de peso como um revólver carregado. Talvez aflorem os instintos das voinhas, que, se necessário, atacavam com a vassoura ou rodo, ou o que tinham à mão e pela força moral afugentavam o inusitado. Ainda no éden há quem diga que a bolsa feminina estava presente, mesmo antes de o homem saber que estava nu, a mulher tinha uma bolsa para combinar. E falam mais, que o fruto proibido não era maça não, mas sim uma jaca e adivinhem de onde tirou para dar a Adão. Ele comeu e viu que estava pelado, com frio e assustado e perguntou onde arranjou aquela bolsinha. Para acalmá-lo ela tirou um pijama de estrelinhas e o fez dormir em seus braços. E até hoje, os homens guardam seus sonhos, seus segredos, e apetrechos para as necessidades básicas físicas dele na bolsa dela.

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